Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – Parte 1

O seguinte vídeo trata do processo de criação da BNCC; a diferença entre a BNCC e os antigos Parâmetros Nacionais Curriculares (PNC); a relação entre a federação e os estados e municípios na constituição da matriz curricular escolar; as diferenças entre a BNCC para o ensino fundamental e a para o ensino médio; as dificuldades de implantação; os novos paradigmas de formação humana e construção de conhecimento; a ligação da BNCC com o avanço tecnológico e o uso de TIC’s como ferramenta de educação; a conseqüente necessidade de preparar tanto os professores quanto os livros didáticos para os novos parâmetros (considerando as grandes diferenças regionais atuais); as 10 competências previstas na BNCC; as dificuldades em fornecer acesso igualitário à necessária inclusão digital para o sistema escolar brasileiro composto por instituições de infra-estruturas díspares; o papel do Ministério da Educação na implementação da BNCC.

Competências e aprendizagem remota: um olhar sobre a BNCC | Aprendizagem Remota
“Mediadora: Aline Amorim
Debatedores: Thérèse Hofmann, Fabiano Farias de Souza e José Henrique Paim
Sessões abertas
No Rio de Janeiro, um grupo de especialista se organiza, no sentido de prover aos alunos da rede de Educação Pública Estadual a aprendizagem remota, por meio de mediação tecnológica, sem deixar de lado a importância da relação professor-aluno.
Esse grupo estará disponível para empreender, junto às equipes da rede de Educação Pública Estadual, debates relacionados a temas aderentes ao mote que rege as ações do estado, de acordo com a Unesco.”

O novo professor – parte 3

texto com foco em alunos infanto-juvenis

Continuando a postagem anterior sobre este tema, nesta postagem gostaria de ressaltar algumas diferenças entre a educação infanto-juvenil portuguesa e a brasileira. Considero ser importante que profissionais da área de pedagogia comparem o que está sendo feito na nossa realidade com o que está sendo feito em outros países. Aqui seguem algumas coisas que achei interessantes:

A ANQEP (link)
”A Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I.P. (ANQEP, I.P.) é um instituto público integrado na administração indireta do Estado, com autonomia administrativa, financeira e pedagógica. […]
No âmbito do Sistema Nacional de Qualificações, a ANQEP I.P. tem as seguintes atribuições:
* Conceber e atualizar em permanência do Catálogo Nacional de Qualificações, instrumento que regula as qualificações de dupla certificação de nível não superior;
* Regular e dinamizar a oferta de educação e formação profissional de dupla certificação destinada a jovens e adultos, a oferta de ensino artístico especializado e o sistema de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC), de âmbito escolar e profissional, destinado a adultos; […]”

Ou seja, por lá eles têm um ”SEBRAE” totalmente público que ajuda a inserir jovens e adultos no mercado de trabalho.

Este é o catálogo de cursos que eles oferecem: https://catalogo.anqep.gov.pt/


Domínios de Educação para a Cidadania

A Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania de Portugal exige que os alunos sejam expostos a uma série de temáticas para além da instrução formal. Sem entrarmos no mérito da escolha dos temas, é interessante observar que o governo está tentando prover uma educação integral e constitutiva de cidadania. A página principal é https://www.dge.mec.pt/estrategia-nacional-de-educacao-para-cidadania

1.º GRUPO – Obrigatório para todos os níveis e ciclos de escolaridade:
Direitos humanos (civis e políticos, econômicos, sociais e culturais de solidariedade);  igualdade de gênero; interculturalidade (cultural e religiosa); desenvolvimento sustentável; educação ambiental; saúde (promoção da saúde, saúde pública, alimentação e exercício físico).

2.º GRUPO – Trabalhado pelo menos em dois ciclos do ensino básico:
Sexualidade; mídia; instituições e participação democrática; educação financeira e educação para o consumo; segurança rodoviária; risco.

3.º GRUPO – Com aplicação opcional em qualquer ano de escolaridade:
Empreendedorismo (vertentes econômica e social); mundo do trabalho; segurança, defesa e paz; bem-estar animal; voluntariado;

Veja aqui um plano de distribuição desses grupos curriculares num grupo de escolas portuguesas: AEJA-Plano

Fonte: https://aeja.pt/ficheiros/d13624211vK5mNOZGyZ.pdf


HypatiaMat (link)

”O desempenho escolar na Matemática é uma preocupação crescente junto da comunidade educativa: estamos todos preocupados com o elevado insucesso escolar e o correspondente abandono escolar precoce. Sabemos que a literatura educacional aponta a promoção do sucesso na Matemática e a utilização corrente das TIC na sala de aula como dois grandes desafios que a educação enfrenta na atualidade. Respondendo a estes desafios, a presente investigação organiza-se em torno da seguinte questão: Como podem as novas tecnologias, nomeadamente aplicações hipermédia utilizadas nos IWB (interactive whiteboards), contribuir para a promoção do sucesso escolar a Matemática?

Para responder a esta questão, investigadores da Universidade do Minho, da Universidade de Coimbra e de outras proveniências construiram este site com muitas aplicações hipermédia centradas nos conteúdos de Matemática do 1.º ano até ao 9.º ano.

Disponibilizamos esta ferramenta à comunidade educativa, na expetativa que a mesma possa contribuir para a promoção do sucesso neste domínio do conhecimento.

Esperamos que alunos, professores e encarregados de educação tirem o melhor partido.”


Rede de Bibliotecas Escolares de Portugal

Sendo eu funcionário de biblioteca, não poderia deixar de mencionar a Rede de Bibliotecas Escolares de Portugal. Procure na parte Suporte >> Recursos. Lá tem vários projetos que podem ser perfeitamente adaptados para as bibliotecas escolares daqui. Um especial é o Manual de Instruções de Literacia Digital, que ensina o passo-a-passo sobre como usar os recursos da rede de computadores. A página é https://mild.rbe.mec.pt/

Website: https://www.rbe.mec.pt/np4/home.html

O novo professor – Parte 2

texto com foco em alunos infanto-juvenis

Relembrando o contexto da pandemia, onde governos no mundo todo impuseram restrições à movimentação de seus cidadãos, a educação de jovens no mundo todo sofreu dois anos ou mais de quase paralisia. A curtíssima janela temporal adequada ao desenvolvimento de certos trabalhos foi perdida. Diante disso, pedagogos ao redor do mundo tiveram de lidar com o abrupto distanciamento dos pequenos. Pouco mais de dois anos após, uma nova questão se apresentou: como recuperar o tempo perdido? Como aferir o que os alunos aprenderam? Como aferir o que eles não conseguiram aprender? Como readaptar os alunos no retorno à realidade do ensino presencial após tanto tempo isolados? Essas e outras perguntas são trabalhadas no texto abaixo, de autoria do Ministério da Educação e Cultura de Portugal.

Há algumas diferenças no ensino de Portugal e do Brasil. Para facilitar a leitura, lembre as siglas:

  • UFCD: Unidade de Formação de Curta Duração (cursos de curto prazo);
  • PA: Perfil do Aluno à Saída da Educação (o que se espera que ele tenha aprendido);
  • HGP: História e Geografia de Portugal;
  • CD: Cidadania e Desenvolvimento;
  • ENEC: Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania;

ORIENTAÇÕES PARA A RECUPERAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DAS APRENDIZAGENS
Ministério da Educação

Todos estamos conscientes de que a pandemia e o confinamento agravaram desigualdades sociais, que já constituíam o maior desafio para o sistema educativo. Sabemos também que houve aprendizagens que não se desenvolveram e alunos que tiveram menos capacidade de acompanhar os seus colegas. Sabemos também que esta crise impacta noutras dimensões críticas para o sucesso escolar: os alunos ficaram mais longe uns dos outros, há mais instabilidade em muitas famílias por via da crise económica. Por tudo isto, o ano letivo 2020 / 2021 conviverá com desafios antigos, desafios novos e desafios que não antecipamos ainda.

É neste contexto que o Governo promove várias medidas de apoio e recuperação das aprendizagens: uma concentração em medidas promotoras de bem-estar no regresso à escola, um olhar dirigido a prioridades nas aprendizagens, alargamento e criação de novos apoios para os alunos, formas de organização das escolas em diferentes regimes.

Este roteiro constitui-se como material de apoio, expõe conceitos, mas faz-se acompanhar de vários exemplos, nenhum com caráter prescritivo, todos como instrumentos para apoiar as escolas numa partilha de reflexão e de soluções encontradas.

Texto completo: orientacoes_2020 Portugal


Fonte: https://www.dge.mec.pt/noticias/orientacoes-para-recuperacao-e-consolidacao-das-aprendizagens-ao-longo-do-ano-letivo-de

O novo professor – Parte 1

Este encontro virtual ocorrido no contexto da pandemia apresenta um retrato das principais questões educacionais ocorridas à época: a necessidade de um gerenciamento veloz para migração do ensino presencial para o ensino virtual, as questões sociais e psicológicas impostas pelo distanciamento das pessoas (em especial suas conseqüências para a educação infanto-juvenil) e a diferença da alfabetização digital entre jovens alunos (nativos digitais) e professores (imigrantes digitais).

O novo professor: desafios da educação em tempos de pandemia | Aprendizagem Remota
“O cenário da educação mundial, diante da pandemia de Covid-19, experimenta, neste momento, uma realidade totalmente nova, trazendo, a reboque, desafios enormes para toda a sociedade.
No Rio de Janeiro, o grupo de especialistas se organiza, no sentido de prover aos alunos da rede de Educação Pública Estadual a aprendizagem remota, por meio de mediação tecnológica, sem deixar de lado a importância da relação professor-aluno.
Esse grupo estará disponível para empreender, junto às equipes da rede de Educação Pública Estadual, debates relacionados a temas aderentes ao mote que rege as ações do estado, de acordo com a Unesco.
Mediador: Cláudia Capello
Debatedores: Aline Amorim, Eloiza Oliveira e Claudia Raybolt”
http://www.youtube.com/watch?v=24bjg8l_zqg

Desenvolvimento da aula à distância – Parte 3

A educação à distância pode ocorrer de diversas formas. Por televisão, rádio, correios (sendo o Instituto Universal Brasileiro o mais antigo ainda em funcionamento) ou atualmente via internet. Nesta, com fins de facilitar a interação entre mestres e alunos, são criados os chamados Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA’s), plataformas fechadas ou abertas nas quais docentes e discentes podem interagir entre si, viabilizando o processo de ensino-aprendizagem e padronizando as ferramentas educacionais.

Essa padronização é importante na constituição dos cursos. Além de ”dar rosto” aos mesmos (padronização de elementos visuais e interativos), facilita a organização do trabalho tanto por parte dos produtores de conteúdo quando dos estudantes que irão acessar esse conteúdo com mais facilidade.

Existem várias plataformas disponíveis no mercado, sendo as principais:

  • Blackboard: uma das plataformas de aprendizagem online mais conhecidas do mundo, é utilizada por muitas universidades e empresas. É usado tanto para gerenciamento quanto para os cursos em si. Como ferramentas, o Blackboard oferece fóruns de discussão, salas de bate-papo, testes e pesquisas, blogs, wikis, entre outros. O Blackboard também pode ser integrado a outros sistemas e plataformas.

A empresa responsável pela comercialiação do Blackboard no Brasil é a Anthology: https://www.anthology.com/pt-br/produtos/ensinando-e-aprendendo/eficacia-da-aprendizagem/blackboard-learn

  • Canvas: uma plataforma em nuvem que oferece recursos para ensino à distância e presencial, além de ferramentas de colaboração e comunicação. Foi projetada para que professores e alunos trabalhem colaborativamente. Professores podem organizar o curso em módulos seqüenciais; podem ser formados grupos de estudo entre os alunos; e há suporte a videoconferências integrado ao ambiente. O Canvas é uma plataforma de código aberto, o que significa que os usuários podem contribuir para o desenvolvimento do software e criar seus próprios plugins e extensões.

A empresa criadora e responsável pela comercialização do Canvas é a Instructure: https://www.instructure.com/pt-br/canvas

  • Google Classroom: uma plataforma de ensino-aprendizagem online desenvolvida pela Google, que permite criação de aulas, compartilhamento de conteúdo e comunicação entre professores e alunos. O principal atrativo do Google Classroom é a sua integração com os outros serviços da empresa, como o Google Drive e Google Docs. A plataforma é gratuita e pode ser acessada a partir de qualquer dispositivo com conexão à internet. A principal desvantagem é a obrigatoriedade de ter uma conta Google, mesmo enquanto aluno (exceto nos casos em que a instituição de ensino lhe fornecer login para o acesso).

A empresa responsável pelas instruções de implantação é a própria Google: https://edu.google.com/intl/ALL_br/get-started/setup-products/

  • Schoology: uma plataforma de gerenciamento de aprendizagem baseada em nuvem que permite a criação de cursos, atribuição de tarefas e avaliações online. O Schoology é uma plataforma amplamente utilizada em escolas e universidades nos Estados Unidos e em outros países. Uma de suas principais características é sua capacidade de integração com o Google Drive, o Office 365 e o Turnitin.

A empresa responsável pela comercialização do Schoology é a Power School: https://www.powerschool.com/product-demo/product-demo-schoology-learning/

Para conhecer o Turnitin acesse: https://www.turnitin.com/pt

  • Moodle: Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment é uma plataforma de gestão de aprendizagem virtual de código aberto e gratuita, criada em 2002 pelo educador Martin Dougiamas. É uma plataforma altamente personalizável, adaptável às necessidades de cada curso e de cada instituição, desde o ensino primário até o universitário. Possui ferramentas para criar e compartilhar conteúdo síncrono ou assíncrono, desde testes até videoconferências. Uma das principais vantagens do Moodle é sua comunidade de desenvolvedores e usuários em todo o mundo.

Para conhecer mais sobre o Moodle, acesse: https://moodle.org/?lang=pt_br

  • TelEduc: Finalizando esta lista, não podemos deixar de fora o sistema genuinamente brasileiro TelEduc.

TelEduc é um ambiente para realização de cursos a distância através da Internet. Está sendo desenvolvido no Nied (Núcleo de Informática Aplicada a Educação) sob a orientação da Profa. Dra. Heloísa Vieira da Rocha do Instituto de Computação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a partir de uma metodologia de formação de professores construída com base na análise das várias experiências presenciais realizadas pelos profissionais do núcleo.

O ambiente é parte integrante da dissertação de mestrado “Formação a Distância de Recursos Humanos para Informática Educativa” de autoria de Alessandra de Dutra e Cerceau.

Nied, como uma de suas linhas de pesquisa, tem realizado diversos cursos a distância através do TelEduc desde 1998, acompanhando progressivamente o desenvolvimento do ambiente.

Este projeto contou com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.

Atualmente está sendo apoiado pela Organização dos Estados Americanos – OEA.

Fonte: http://teleduc4.multimeios.ufc.br/pagina_inicial/teleduc.php

Desenvolvimento da aula à distância – Parte 2

(texto com foco em alunos adultos)

Fonte das imagens: https://web.facebook.com/EduProof1/

1 – Gerenciamento de tempo

Uma vez preparado o conteúdo e com os alunos devidamente instruídos sobre como ocorrerá a disciplina, é interessante relembrá-los de que a única diferença entre o curso presencial e o curso à distância é a sincronicidade entre os participantes. Num curso presencial, praticamente tudo é síncrono: professores e alunos se reúnem fisicamente no mesmo ambiente, as aulas ocorrem, os trabalhos são feitos mais ou menos nos mesmos microciclos (semanas ou dias) etc. Num curso à distância, a maioria das atividades tende a ser assíncrona, ou seja, cada um faz conforme seu próprio cronograma.

Para quem tem dificuldades em gerenciamento do tempo (como eu |:^/ ) essa flexibilidade de horário acaba sendo um revés em lugar de ser algo bom. Seja chato e enfadonho com isso: repita tantas vezes quantas puder aos alunos para não deixarem acumular conteúdo. De uma semana para outra e para outra, o curso se torna uma grande bola de neve. E se antes o aluno se via com disponibilidade de horário, passa a se ver numa corrida contra os prazos. (eu tenho pesadelos com isso – literalmente…)

2 – Comunicação escrita

O uso extensivo de recursos audiovisuais e tecnológicos não é exclusivo de cursos à distância. O uso desses recursos, porém, não deve desestimular o trabalho escrito. O desenvolvimento da escrita em ambiente acadêmico é imprescindível para o bom desenvolvimento profissional em tal ambiente. Meu trabalho em docência é vinculado ao drástico problema brasileiro do analfabetismo funcional em nível superior (aproximadamente 80% dos pós-doutores no Brasil são analfabetos funcionais).

Uma das principais vantagens num sistema de aprendizado à distância é exatamente a possibilidade de escrever e desenvolver a capacidade de se comunicar por texto. A constituição de um fórum no qual tanto alunos quanto professores possam escrever é uma excelente ferramenta para troca de informações baseadas em tópicos, bem como um ambiente para treinar a escrita formal. A troca de correspondência eletrônica também o é, mas em segundo plano, pois e-mails não são agregadores propriamente: são uma ferramenta de correspondência formal entre apenas poucos correspondentes, imprópria para discussão entre vários participantes.

A barreira virtual criada entre a tela e o interlocutor facilita em muito a comunicação de pessoas introvertidas. Muitas vezes, pessoas tímidas conseguem se expressar com clareza e desenvoltura à distância, o que seria impensável se elas precisassem apresentar algum trabalho na frente da classe. Há pessoas que não gostam de se expor, o que deve ser respeitado. O ambiente à distância permite que elas consigam trabalhar individualmente sob suas próprias condições, de forma segura.

Estimule a comunicação por escrito com seus alunos. É uma forma de avaliar continuamente tanto a participação quanto os possíveis problemas de aprendizagem que venham a apresentar. Possui natureza assíncrona, o que permite ao aluno pensar sobre suas próprias idéias antes de responder, sem a possível pressão de uma comunicação em tempo real.

3 – O problema do plágio

Eu tenho aversão à Academia. A própria existência do termo ”autoplágio” me causa espécie 1 . Porém inquestionavelmente concordo com a necessidade de defesa da paternidade da obra, de dar a cada um o reconhecimento de autoria. Sendo eu mesmo autor, permito que tudo o que escrevo seja usado livremente, desde que me citem como fonte. Faço o mesmo neste website: tudo o que não for minha autoria tem suas fontes citadas.

Essa é uma regra que precisa ser aferida com bastante cautela em cursos à distância. Normalmente feitos pelo computador, a facilidade de ”copiar e colar” textos é tentadora para alunos que não compreendem a importância do direito autoral. Há ferramentas para a detecção do plágio, mas considero ser mais importante ensinar aos alunos os motivos pelos quais é uma atitude errada, por que  seu combate é parte integrante da ética acadêmica. Essa é a primeira diretriz do CNPq: “O autor deve sempre dar crédito a todas as fontes que fundamentam diretamente seu trabalho.“.

A forma mais simples de combater o problema são os meus três C’s: “cite as fontes, cite a si mesmo, cite tudo”. Sempre que escrever qualquer coisa diga de onde tirou a informação. Se for sua, diga que é sua. Assim ninguém vai poder reclamar depois. É importante indicar aos alunos que pretendem seguir pelo caminho acadêmico ver as diretrizes completas do CNPq, que nortearão seu trabalho de produção no ensino superior. Pode vê-las aqui: https://www.gov.br/cnpq/pt-br/composicao/comissao-de-integridade/diretrizes


  1. “O autoplágio se configura como sendo a publicação de uma pesquisa já publicada como algo novo e original. Do ponto de vista dos direitos do autor, não parece ser um crime, mas do ponto de vista da integridade acadêmica é considerado antiético ou má conduta.”(https://www2.ufjf.br/mestradoedumat/discentes/plagio-e-autoplagio/

Desenvolvimento da aula à distância – Parte 1

(texto com foco em alunos adultos)

Quando nos deparamos com alunos que nunca tiveram contato ou experiências com aulas à distância, precisamos tão breve quanto possível explicar-lhes as diferenças entre o estudo presencial e o estudo à distância. A principal recomendação que faço é a de que nós mesmos, enquanto docentes, também tenhamos experienciado cursos à distância, pois assim poderemos passar nossas experiências pessoais para eles. É necessário darmos aos nossos alunos informações claras e precisas sobre como a disciplina ocorrerá, o horário correto das aulas e de encontros síncronos (caso existam), quais materiais serão usados, como será feita a avaliação, enfim, todas as informações pertinentes de modo que possam criar expectativas realistas sobre como serão os trabalhos e assim possam preparar-se para o curso.

Lembre-se de que nossos alunos muitas vezes não têm como hábito o ensino à distância e estão mais acostumados com o professor ”puxando pela mão”. Há pessoas mais disciplinadas, outra menos; mais independentes, outras menos etc. Assim como nas aulas presenciais, nem todos os alunos conseguem acompanhar o ritmo da turma. Num ambiente à distância, isso ainda é pior, pois os alunos não necessariamente têm ciência de como está o progresso dos demais. Além disso, cada pessoa é um aprendiz diferente, com necessidades diferentes:

Fonte: https://www.home-school.com/news/discover-your-learning-style.php

Cursos à distância são baseados em heutagogia, aprendizado no qual o próprio aluno é responsável pelo seu desenvolvimento. Nós como professores servimos como repositórios vivos de informações, devendo estar à disposição para responder às dúvidas dos alunos pelos meios ofertados no curso (quando for o caso). Cabe a nós prover a maior quantidade de meios possível para que diferentes tipos de alunos possam aproveitar a mesma classe. Precisamos extrair o melhor das ferramentas audiovisuais que os atuais meios de comunicação nos provêem.

Também é preciso que o aluno seja instruído sobre como poderá melhor gerenciarar sua própria formação. É importante que ele seja ensinado a identificar seus próprios hábitos de aprendizagem. Uma forma simples é responder a um questionário auto-avaliativo. Desse modo, o próprio aluno pode perceber quais pontos precisa trabalhar para melhor aproveitar um curso à distância. Procure apresentar os questionários auto-avaliativos separadamente da ”resposta”. Sempre há quem procure marcar esta ou aquela pontuação com fins de chegar a certo objetivo (auto-engano/auto-sabotagem). O objetivo do questionário é servir como ferramenta auxiliar de autocompreensão, não como uma ”prova de ser um bom aluno”.

Exemplo de teste:  Teste de Estudar online

Resultado: Dicas a partir do ”Teste de Estudar online”

Formação e ação docentes – A vida na era digital (03)

On Life, Luciano Floridi – La vita al tempo del digitale. Il filoso di Oxford e la nuova etica | La Repubblica
O segundo dia de compromissos Onlife, o primeiro evento Repubblica dedicado à sociedade digital ao vivo do Politécnico de Milão, acolhe entre outros o encontro com o filósofo Luciano Floridi intitulado “A vida na era digital. O filósofo de Oxford e a nova ética”

Formação e ação docentes – A quarta revolução tecnológica (02)

TEDxMaastricht – Luciano Floridi – “The fourth technological revolution” | TEDx Talks

Quem somos nós? E qual é o nosso papel no universo? A tecnologia da informação está mudando radicalmente não apenas a forma como lidamos com o mundo e o compreendemos, ou interagimos uns com os outros, mas também como olhamos para nós mesmos e entendemos nossa própria existência e responsabilidades. O professor de filosofia Floridi ( @Floridi ) vai falar sobre o impacto da tecnologia da informação em nossas vidas e em nosso autoconhecimento; ele nos levará ao longo da revolução copernicana, da revolução darwiniana, da revolução freudiana até a revolução de Turing: um mundo de informações em um ambiente global feito, em última instância, de informação. Floridi falará sobre a expansão de nossa abordagem ecológica e ética para as realidades naturais e artificiais, a fim de lidar com sucesso com os novos desafios morais impostos pela tecnologia da informação.

Formação e ação docentes – Tradução de “O Manifesto Onlife” PTBR (01)

O MANIFESTO ONLIFE
Sendo humano em uma era hiperconectada
Luciano Floridi et all.

Em termos de uma visão geral do conteúdo do livro, nas próximas páginas argumentamos que o desenvolvimento e uso generalizado das TICs estão tendo um impacto radical na condição humana. Mais especificamente, acreditamos […] que as TICs não são meras ferramentas, mas sim forças ambientais que estão afetando cada vez mais:

  1. nossa autoconcepção (quem somos);
  2. nossas interações mútuas (como nos socializamos);
  3. nossa concepção de realidade (nossa metafísica); e
  4. nossas interações com a realidade (nossa agência).

Em cada caso, as TICs têm uma enorme importância ética, legal e política, mas com a qual começamos a lidar apenas recentemente.

Também estamos convencidos de que o impacto mencionado exercido pelas TICs se deve a pelo menos quatro transformações principais:

a. o borrão da distinção entre realidade e virtualidade;
b. o borrão da distinção entre humano, máquina e natureza;
c. a inversão da escassez de informações para a abundância de informações; e
d. a mudança da primazia das coisas autônomas, propriedades e relações binárias, para a primazia das interações, processos e redes.

O impacto resumido em (1) –(4) e as transformações por trás desse impacto, listadas em (a)–(d), estão testando as bases de nossa filosofia, no seguinte sentido. Nossa percepção e compreensão das realidades que nos cercam são necessariamente mediadas por conceitos. Eles funcionam como interfaces através das quais experimentamos, interagimos e semanticamos (no sentido de dar sentido e significado), o mundo. Em resumo, compreendemos a realidade por meio de conceitos, então, quando a realidade muda muito rapidamente e dramaticamente, como está acontecendo hoje em dia por causa das TICs, estamos conceitualmente em desvantagem. É uma impressão generalizada que nossa caixa de ferramentas conceituais atual não está mais adequada para enfrentar os novos desafios relacionados às TICs. Isso não é apenas um problema em si. É também um risco, porque a falta de uma compreensão conceitual clara de nosso tempo presente pode facilmente levar a projeções negativas sobre o futuro: tememos e rejeitamos o que não conseguimos dar significado. O objetivo do Manifesto e do restante do livro que contextualiza, portanto, é contribuir para a atualização de nosso quadro conceitual. É um objetivo construtivo. Não pretendemos incentivar uma filosofia de desconfiança. Pelo contrário, este livro pretende ser uma contribuição positiva para repensar a filosofia sobre a qual as políticas são construídas em um mundo hiperconectado, para que possamos ter uma chance melhor de entender nossos problemas relacionados às TICs e resolvê-los satisfatoriamente. Redesenhar ou reengenhar nossas hermenêuticas, para colocar de forma mais dramática, parece ser essencial, a fim de ter uma boa chance de entender e lidar com as transformações em (a) – (d) e, portanto, moldar da melhor maneira as novidades em (1) – (4). É claramente uma tarefa enorme e ambiciosa, para a qual este livro só pode aspirar a contribuir.

Texto completo (em inglês): 0004 Onlife Manifesto


Fonte: https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/978-3-319-04093-6.pdf


Tradução (feita automaticamente) do manifesto:

O Manifesto Onlife

A implantação das tecnologias da informação e comunicação (TICs) e sua adoção pela sociedade afetam radicalmente a condição humana, na medida em que modifica nossos relacionamentos conosco, com os outros e com o mundo. A cada vez mais crescente onipresença das TICs abala os quadros de referência estabelecidos por meio das seguintes transformações:

  1. o borrão da distinção entre realidade e virtualidade;
  2. o borrão das distinções entre humano, máquina e natureza;
  3. a inversão da escassez de informações para a abundância de informações; e
  4. a mudança do primado das entidades para o primado das interações.

O mundo é apreendido pelas mentes humanas por meio de conceitos: a percepção é necessariamente mediada por conceitos, como se fossem as interfaces pelas quais a realidade é experimentada e interpretada. Os conceitos fornecem uma compreensão das realidades circundantes e um meio de apreendê-las. No entanto, a caixa de ferramentas conceituais atual não está adequada para lidar com os novos desafios relacionados às TICs e leva a projeções negativas sobre o futuro: tememos e rejeitamos o que não conseguimos compreender e dar significado. A fim de reconhecer essa inadequação e explorar outras conceptualizações, um grupo de 15 estudiosos em antropologia, ciência cognitiva, ciência da computação, engenharia, direito, neurociência, filosofia, ciência política, psicologia e sociologia instigou a Iniciativa Onlife, um exercício coletivo de pensamento para explorar as conseqüências relevantes para políticas dessas mudanças. Esse exercício de reengenharia conceitual busca inspirar reflexão sobre o que acontece conosco e repensar o futuro com maior confiança. Este manifesto tem como objetivo lançar um debate aberto sobre os impactos da era computacional nos espaços públicos, na política e nas expectativas da sociedade em relação à formulação de políticas no âmbito da Agenda Digital para a Europa. Mais amplamente, este manifesto tem como objetivo iniciar uma reflexão sobre como um mundo hiperconectado exige repensar os quadros referenciais sobre os quais as políticas são construídas. Isso é apenas o começo…

1 Game Over para a Modernidade?

Idéias que prejudicam a capacidade de formulação de políticas para enfrentar os desafios de uma era hiperconectada

  • 1.1 A filosofia e a literatura há muito tempo desafiaram e revisaram algumas das suposições fundamentais da modernidade. No entanto, os conceitos políticos, sociais, jurídicos, científicos e econômicos e as narrativas relacionadas à formulação de políticas ainda estão profundamente ancorados em suposições questionáveis da modernidade. De fato, a modernidade tem sido uma jornada agradável para alguns ou muitos, e tem dado frutos múltiplos e grandes em todas as áreas da vida. Ela também teve seus lados negativos. Independentemente desses debates, nossa visão é que as restrições e possibilidades da era computacional desafiam profundamente algumas das suposições da modernidade.
  • 1.2 A modernidade foi um momento de relação tensa entre humanos e natureza, caracterizado pela busca humana por desvendar os segredos da natureza, ao mesmo tempo em que considera a natureza como um reservatório passivo e infinito. O progresso foi a utopia central, acompanhada pela busca por uma postura onisciente e onipotente. (Por postura, queremos dizer a noção dual de posição e de se fazer ver ocupando uma posição.) Os avanços no conhecimento científico (termodinâmica, eletromagnetismo, química, fisiologia, etc.) trouxeram uma lista interminável de novos artefatos em todos os setores da vida. Apesar da conexão profunda entre artefatos e natureza, ainda se presume uma suposta divisão entre artefatos tecnológicos e natureza. O desenvolvimento e a implantação de TICs contribuíram enormemente para borrar essa distinção, a ponto de continuar a usá-la como se ainda fosse operacional ser ilusório e se tornar contraproducente.
  • 1.3 A racionalidade e a razão desencorporadas foram atributos especificamente modernos dos humanos, tornando-os distintos dos animais. Como resultado, a ética era uma questão de sujeitos autônomos, racionais e desencorporados, e não uma questão de seres sociais. E a responsabilidade pelos efeitos causados pelos artefatos tecnológicos era atribuída ao seu modelador, produtor, vendedor ou usuário. As TICs desafiam essas suposições, convocando noções de responsabilidade distribuída.
  • 1.4 Finalmente, as visões de mundo modernas e as organizações políticas foram impregnadas de metáforas mecânicas: forças, causalidade e, acima de tudo, controle tinham uma importância primordial. Os padrões hierárquicos eram modelos-chave para a ordem social. As organizações políticas eram representadas pelos Estados de Westphalian, exercendo poder soberano em seu território. Dentro desses Estados, os poderes legislativo, executivo e judiciário eram considerados para equilibrar um ao outro e proteger contra o risco de abuso de poder. Ao permitir sistemas multi-agentes e abrir novas possibilidades para a democracia direta, as TICs desestabilizam e exigem uma revisão das perspectivas de mundo e metáforas subjacentes às estruturas políticas modernas.

2 No canto de Frankenstein e do Grande Irmão

Medos e riscos em uma era hiperconectada

  • 2.1 É digno de nota que a dúvida cartesiana e as suspeitas relacionadas sobre o que é percebido pelos sentidos humanos levaram a uma dependência cada vez maior do controle em todas as suas formas. Na modernidade, o conhecimento e o poder estão profundamente ligados ao estabelecimento e manutenção do controle. O controle é tanto buscado quanto ressentido. Medos e riscos também podem ser percebidos em termos de controle: muito dele – em detrimento da liberdade – ou falta dele – em detrimento da segurança e da sustentabilidade. Paradoxalmente, nestes tempos de crise econômica, financeira, política e ambiental, é difícil identificar quem tem controle sobre o quê, quando e dentro de qual escopo. Responsabilidades e obrigações são difíceis de atribuir claramente e endossar de forma inequívoca. Responsabilidades distribuídas e interligadas podem ser erroneamente entendidas como uma licença para agir de forma irresponsável; essas condições podem ainda tentar líderes empresariais e governamentais a adiar decisões difíceis e, assim, levar à perda de confiança.
  • 2.2 Experimentar a liberdade, a igualdade e a alteridade em esferas públicas se torna problemático em um contexto de identidades cada vez mais mediadas e interações calculadas, como perfilagem, publicidade direcionada ou discriminação de preços. A qualidade das esferas públicas é ainda mais prejudicada pelo aumento do controle social por meio da vigilância mútua ou lateral (sousveillance), que nem sempre é melhor do que a vigilância do “Grande Irmão”, como cada vez mais o cyberbullying mostra.
  • 2.3 A abundância de informações pode resultar em sobrecarga cognitiva, distração e amnésia (o presente esquecido). Novas formas de vulnerabilidades sistêmicas surgem da crescente dependência das infra-estruturas informacionais. Jogos de poder em esferas online podem levar a conseqüências indesejáveis, incluindo o desempoderamento das pessoas por meio da manipulação de dados. A repartição de poder e responsabilidade entre as autoridades públicas, agentes corporativos e cidadãos deveria ser equilibrada de forma mais justa.

3 O dualismo está morto! Viva as dualidades!

Compreendendo os desafios

  • 3.1 Ao longo de nosso esforço coletivo, uma pergunta continuou retornando ao palco principal: “o que significa ser humano em uma era hiperconectada?” Essa pergunta fundamental não pode receber uma única resposta definitiva, mas abordá-la provou ser útil para abordar os desafios de nosso tempo. Pensamos que lidar com esses desafios pode ser mais bem feito privilegiando pares duais em vez de dicotomias opositivas.

3.1 Controle e Complexidade

  • 3.2 No mundo Onlife, os artefatos deixaram de ser meras máquinas que simplesmente operam de acordo com as instruções humanas. Eles podem mudar de estado de maneiras autônomas e podem fazê-lo cavando na riqueza exponencialmente crescente de dados, tornados cada vez mais disponíveis, acessíveis e processáveis pelas TICs em rápido desenvolvimento e cada vez mais pervasivas. Os dados são registrados, armazenados, computados e retroalimentados em todas as formas de máquinas, aplicativos e dispositivos de maneiras novas, criando infinitas oportunidades para ambientes adaptativos e personalizados. Filtros de muitos tipos continuam a erodir a ilusão de uma percepção objetiva e imparcial da realidade, ao mesmo tempo em que abrem novos espaços para interações humanas e novas práticas de conhecimento.
  • 3.3 No entanto, é precisamente no momento em que uma postura de onisciência/onipotência poderia ser percebida como alcançável que se torna óbvio que é uma quimera, ou pelo menos um alvo em constante movimento. O fato de o ambiente ser impregnado por fluxos e processos de informação não o torna um ambiente onisciente/onipotente. Ao contrário, ele pede novas formas de pensar e agir em múltiplos níveis, a fim de abordar questões como propriedade, responsabilidade, privacidade e autodeterminação.
  • 3.4 Em certa medida, a complexidade pode ser vista como outro nome para a contingência. Longe de desistir da responsabilidade em sistemas complexos, acreditamos que há uma necessidade de reavaliar as noções recebidas de responsabilidade individual e coletiva. A própria complexidade e entrelaçamento de artefatos e humanos nos convidam a repensar a noção de responsabilidade nesses sistemas sociotécnicos distribuídos.
  • 3.5 A clássica distinção de Friedrich Hayek entre kosmos e taxis, ou seja, evolução versus construção, estabelece uma linha entre ordens espontâneas (supostamente naturais) e o planejamento humano (político e tecnológico). Agora que os artefatos tomados globalmente escaparam do controle humano, mesmo que tenham originado das mãos humanas, metáforas biológicas e evolutivas também podem ser aplicadas a eles. A perda resultante de controle não é necessariamente dramática. Tentativas de recuperar o controle de forma compulsiva e não reflexiva são um desafio ilusório e destinado a falhar. Portanto a complexidade das interações e a densidade dos fluxos de informação não são mais redutíveis apenas a taxis. Por isso intervenções de diferentes agentes nesses emergentes sistemas sociotécnicos exigem aprender a distinguir o que deve ser considerado como kosmos, ou seja, um ambiente dado que segue seu padrão evolutivo, e o que deve ser considerado como taxis, ou seja, ao alcance de uma construção que responda efetivamente às intenções e/ou propósitos humanos.

3.2 Público e Privado

  • 3.6 A distinção entre público e privado freqüentemente foi compreendida em termos espaciais e opostos: o lar versus a ágora, a empresa privada versus a instituição pública, a coleção privada versus a biblioteca pública, e assim por diante. O uso das TICs tem aumentado o ofuscamento da distinção quando expressa em termos espaciais e dualísticos. A internet é uma extensão importante do espaço público, mesmo quando operada e de propriedade de atores privados. As noções de públicos fragmentados, de terceiros espaços e de bens comuns, e o foco crescente no uso em detrimento da propriedade, todos desafiam nossa compreensão atual da distinção público-privado.
  • 3.7 No entanto, consideramos que essa distinção entre privado e público é mais relevante do que nunca. Hoje, o privado está associado à intimidade, autonomia e abrigo do olhar público, enquanto o público é visto como o domínio da exposição, transparência e responsabilidade. Isso pode sugerir que o dever e o controle estão do lado do público, e a liberdade está do lado do privado. Essa visão nos cega para as deficiências do privado e para as oportunidades do público, onde este último também é um componente de uma vida boa.
  • 3.8 Acreditamos que todos precisam tanto de abrigo do olhar público quanto de exposição. A esfera pública deve fomentar uma gama de interações e engajamentos que incorporam uma opacidade capacitadora do eu, a necessidade de auto-expressão, a performance de identidade, a chance de se reinventar, bem como a generosidade do esquecimento deliberado.

4 Propostas para Melhor Servir as Políticas

Mudanças Conceituais com Conseqüências Relevantes para a Governança Onlife

4.1 O Eu Relacional

  • 4.1 É um dos paradoxos da modernidade que ela ofereça duas abordagens contraditórias sobre o que é o eu. Por um lado, no âmbito político, o eu é considerado livre e “livre” freqüentemente entendido como sendo autônomo, descorporificado, racional, bem-informado e desconectado: um eu individual e atomístico. Por outro lado, em termos científicos, o eu é um objeto de estudo entre outros e, nesse aspecto, é considerado totalmente analisável e previsível. Ao focar em causas, incentivos ou desincentivos numa perspectiva instrumental, esse tipo de conhecimento frequentemente busca influenciar e controlar comportamentos, em níveis individuais e coletivos. Assim, há uma oscilação constante entre uma representação política do eu, como racional, descorporificado, autônomo e desconectado, por um lado, e uma representação científica do eu, como heterônomo e resultante de contextos multifatoriais plenamente explicáveis pelas várias disciplinas científicas (sociais, naturais e tecnológicas).
  • 4.2 Acreditamos que é hora de afirmar, em termos políticos, que nossos eus são simultaneamente livres e sociais, ou seja, que a liberdade não ocorre no vácuo, mas num espaço de possibilidades e limitações: juntamente com a liberdade, nossos eus derivam e aspiram a relacionamentos e interações com outros eus, artefatos tecnológicos e o restante da natureza. Como tal, os seres humanos são “livres com elasticidade”, para emprestar uma noção econômica. A natureza contextual da liberdade humana responde tanto pelo caráter social da existência humana quanto pela abertura dos comportamentos humanos que permanecem, em certa medida, obstinadamente imprevisíveis. Moldar políticas no âmbito da experiência Onlife significa resistir à suposição de um eu racional e descorporificado e, em vez disso, estabilizar uma concepção política do eu como um eu livre inerentemente relacional.

4.2 Tornando-se uma Sociedade Digitalmente Literata

  • 4.3 A utopia da onisciência e da onipotência muitas vezes envolve uma atitude instrumental em relação ao outro e uma compulsão para transgredir fronteiras e limites. Essas duas atitudes são sérios obstáculos para pensar e experimentar esferas públicas na forma de pluralidade, onde os outros não podem ser reduzidos a instrumentos e onde a autodisciplina e o respeito são necessários. As políticas devem se basear em uma investigação crítica de como os assuntos humanos e as estruturas políticas são profundamente mediados pelas tecnologias. Endossar a responsabilidade em uma realidade hiperconectada requer reconhecer como nossas ações, percepções, intenções, moralidade, até mesmo corporalidade estão interligadas com as tecnologias em geral e as TICs em particular. O desenvolvimento de uma relação crítica com as tecnologias não deve visar a encontrar um lugar transcendental fora dessas mediações, mas sim uma compreensão imanente de como as tecnologias nos moldam como seres humanos, enquanto nós humanos moldamos criticamente as tecnologias.
  • 4.4 Achamos útil pensar na reavaliação dessas noções recebidas e no desenvolvimento de novas formas de práticas e interações in situ na seguinte frase: “construindo a jangada enquanto nadamos”.

4.3 Cuidando de Nossas Capacidades de Atenção

  • 4.5 A abundância de informações, incluindo os desenvolvimentos de “big data“, induzem grandes mudanças em termos conceituais e práticos. Noções anteriores de racionalidade presumiam que acumular informações e conhecimentos conquistados levaria a uma melhor compreensão e, portanto, a um melhor controle. O ideal enciclopédico ainda está presente, e o foco continua principalmente na adaptação de nossas capacidades cognitivas, expandindo-as na esperança de acompanhar uma infosfera em constante crescimento. Mas essa expansão infinita está se tornando cada vez menos significativa e menos eficiente em descrever nossas experiências diárias.
  • 4.6 Acreditamos que as sociedades devem proteger, valorizar e nutrir as capacidades de atenção dos seres humanos. Isso não significa desistir de buscar melhorias: isso sempre será útil. Ao contrário, afirmamos que as capacidades de atenção são um ativo finito, precioso e raro. Na economia digital, a atenção é abordada como uma mercadoria a ser trocada no mercado ou a ser canalizada nos processos de trabalho. Mas essa abordagem instrumental à atenção negligencia as dimensões sociais e políticas dela, ou seja, o fato de que a capacidade e o direito de focar nossa própria atenção é uma condição crítica e necessária para a autonomia, responsabilidade, reflexividade, pluralidade, presença engajada e sentido. Na mesma medida em que órgãos não devem ser trocados no mercado, nossas capacidades de atenção merecem tratamento protetor. O respeito à atenção deve ser vinculado a direitos fundamentais, como privacidade e integridade corporal, pois a capacidade de atenção é um elemento inerente do eu relacional pelo papel que desempenha no desenvolvimento da linguagem, empatia e colaboração. Acreditamos que, além de oferecer escolhas informadas, as configurações padrão e outros aspectos projetados de nossas tecnologias devem respeitar e proteger as capacidades de atenção.
  • 4.7 Em resumo, afirmamos que mais atenção coletiva deve ser dedicada à atenção em si como um atributo humano inerente que condiciona o florescimento das interações humanas e as capacidades de se engajar em ações significativas na experiência Onlife. Este manifesto é apenas o começo… Este capítulo é distribuído sob os termos da Licença Creative Commons Attribution Noncommercial, que permite qualquer uso não comercial, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que os autores originais e a fonte sejam creditados.