Fontes:
- https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/transtorno-do-estresse-pos-traumatico/
- https://zenklub.com.br/blog/transtornos/transtorno-de-estresse-pos-traumatico/
- https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/distúrbios-de-saúde-mental/ansiedade-e-transtornos-relacionados-ao-estresse/transtorno-de-estresse-pós-traumático
- https://psiquiatriapaulista.com.br/estresse-pos-traumatico-entenda-exatamente-o-que-e-isso/
O texto a seguir é o somatório dos textos indicados na fonte.
Às vezes a vida nos surpreende com experiências horríveis e que podem afetar as pessoas permanentemente. Todo mundo carrega em sua história lembranças boas e ruins daquilo que viveu ou que vivenciou com outras pessoas. Algumas dessas lembranças formam traumas que atormentam a indivíduo. Acontece que em algumas pessoas os efeitos são tão graves que se tornam debilitantes e constituem um transtorno, chamado transtorno do estresse pós-traumático.
Esse transtorno acomete entre 15% a 20% das pessoas que vivenciaram alguma experiência de atos violentos e/ou situações traumáticas. Ou seja, se trata de uma condição que pode ser bastante prevalente e que merece a nossa atenção.
O que é o Estresse Pós-traumático?
O Transtorno do Estresse Pós-Traumático, ou TEPT, é um distúrbio de ansiedade que se manifesta em decorrência de o portador ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que, em geral, representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. É caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais que pode surgir até 6 meses após uma experiência ou evento traumático na vida do acometido. Em geral, constitui-se de lembranças recorrentes e incontroláveis do evento por pelo menos 1 mês.
O transtorno de estresse pós-traumático dura mais de um mês. Ele pode ser uma continuação do transtorno de estresse agudo ou surgir separadamente até seis meses após o evento. O transtorno pode não desaparecer completamente, mas geralmente fica menos intenso com o passar do tempo. Algumas pessoas, entretanto, ficam gravemente incapacitadas. Os sintomas causam angústia significativa ou prejudicam o desempenho de atividades de modo significativo
Quando se recorda do fato, o indivíduo revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor, sofrimento e angústia que o agente estressor provocou. Essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais. Trata-se de um transtorno mental que envolve, acima de tudo, recordações que nos devolvem para o episódio ocorrido, como se estivessem acontecendo novamente, trazendo sofrimento e dor.
Muitas pessoas são afetadas de maneira duradoura quando algo terrível acontece. Em algumas, os efeitos são tão persistentes e graves que são debilitantes e representam um transtorno. Os eventos mais propensos a causar o transtorno são aqueles que invocam sentimentos de medo, desamparo ou horror. No entanto ele pode ser causado por qualquer experiência avassaladora e/ou possivelmente fatal.
Esses eventos podem ser vivenciados diretamente (por exemplo, sofrer uma lesão grave ou ser ameaçado de morte) ou indiretamente (testemunhar outras pessoas sofrendo lesões graves, morrendo ou sendo ameaçadas de morte, ou tomar conhecimento de eventos traumáticos que ocorreram com familiares ou amigos próximos). É possível que a pessoa tenha vivenciado um único evento traumático ou, como ocorre com freqüência, vários eventos traumáticos.
Não se sabe por que um mesmo evento traumático pode causar TEPT vitalício em algumas pessoas, mas não causar nenhum sintoma em outras. Além disso, não se sabe por que algumas pessoas testemunham ou vivenciam o mesmo trauma muitas vezes ao longo de anos sem ter TEPT, mas o desenvolvem em algum momento após um episódio aparentemente semelhante.
Aproximadamente entre 15% e 20% das pessoas que, de alguma forma, estiveram envolvidas em casos de violência urbana, agressão física, abuso sexual, terrorismo, tortura, assalto, seqüestro, acidentes, guerra, catástrofes naturais ou provocadas desenvolvem esse tipo de transtorno. Não é preciso ir muito longe e imaginar grandes acontecimentos históricos para classificar um estresse pós-traumático. Ele pode estar em acontecimentos do nosso dia-a-dia, como sofrer um ato violento, bullying na escola ou um acidente de carro. No entanto, é um transtorno pouco identificado e a maioria dos acometidos só procura ajuda dois anos depois das primeiras crises. O transtorno atinge hoje, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 2 milhões de pessoas no Brasil. Em dados mais gerais, afeta aproximadamente 9% das pessoas em algum momento da vida e 4% dos adultos.
Recente pesquisa desenvolvida pela UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e por outras universidades brasileiras, em parceria com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, levantou a hipótese de a causa do transtorno estar no desequilíbrio dos níveis de cortisol ou na redução de 8% a 10% do córtex pré-frontal e do hipocampo, áreas localizadas no cérebro.
Preste atenção: o número de diagnósticos de transtorno do estresse pós-traumático tem aumentado nas últimas décadas. Procure assistência médica, se apresentar sintomas que possam ser atribuídos a esse distúrbio da ansiedade. Lembre-se de que a ocorrência de um agente estressor não significa que a pessoa vai desenvolver TEPT: algumas são mais vulneráveis e predispostas. Não subestime os sintomas do transtorno em crianças e idosos depois de terem vivenciado situações traumáticas.
Fatores de risco
Podemos considerar como fatores de risco ao desenvolvimento do transtorno, principalmente:
- Eventos traumáticos ocorridos na infância e na adolescência;
- Bullying;
- Autismo;
- Dificuldades no aprendizado por problemas de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH);
- Problemas de habilidades sociais e outras situações de sociabilização que passam muitas vezes despercebidas.
Durante essa fase de desenvolvimento pessoal é muito comum que a violência estrutural e social sejam fatores de risco iminentes para a construção de uma vida adulta marcada por traumas.
Sinais e sintomas do transtorno de estresse pós-traumático
Além da exposição direta ou indireta a um evento traumático, o paciente deve apresentar mais que um dos sintomas de cada categoria abaixo por pelo menos um mês.
Sintomas de “intrusão” (pelo menos 1 sintoma):
- Sofrimento psicológico ou fisiológico intenso ao lembrar-se do evento;
- Flashbacks ou agir como se o evento estivesse ocorrendo em tempo real;
- Lembranças recorrentes, involuntárias, intrusivas e/ou perturbadoras;
- Sonhos perturbadores recorrentes do evento traumático.
Sintomas de “esquiva” (pelo menos 1 sintoma):
- Evitar pensamentos, sentimentos ou memórias associadas ao evento;
- Evitar locais, conversas, pessoas ou atividades que possam remeter ao evento.
Sintomas negativos sobre a cognição e humor (pelo menos 2 sintomas):
- Perda de memória de momentos significativos do evento;
- Incapacidade persistente de viver emoções positivas;
- Convicções ou expectativas negativas persistentes e exageradas sobre si mesmo e os outros;
- Sentimento de culpa em relação a si ou outros sobre causa ou conseqüências do trauma;
- Diminuição importante do interesse em atividades cotidianas;
- Sensação de distanciamento e estranhamento em relação às pessoas;
Reatividade e excitação alteradas (pelo menos 2 sintomas):
- Irritabilidade e/ou impaciência exacerbadas;
- Dificuldade de concentração;
- Hipervigilância;
- Dificuldade de dormir.
Detalhamento dos sintomas:
Sintomas intrusivos (o evento invade os pensamentos de maneira repetida e incontrolável)
O evento traumático pode reaparecer repetidamente na forma de memórias indesejadas involuntárias ou pesadelos recorrentes. Algumas pessoas têm flashbacks, durante os quais elas revivem os eventos como se eles estivessem realmente acontecendo em vez de simplesmente se lembrarem deles. É possível que a pessoa também tenha reações intensas a coisas que a relembrem do evento. Por exemplo, os sintomas de um veterano de guerra podem ser desencadeados por fogos de artifício, enquanto os de uma vítima de roubo à mão armada podem ser desencadeados quando ela vê uma arma de fogo em um filme.
Reexperiência traumática: memórias espontâneas, recorrentes e involuntárias, também chamados de flashbacks, do acontecimento traumático.
Evitar qualquer coisa que as relembre do evento
A pessoa evita de maneira persistente tudo – atividades, situações ou pessoas – que possa recordá-la do trauma. Por exemplo, é possível que ela evite entrar em um parque ou edifício comercial onde foi vítima de agressão ou evite falar com pessoas da mesma raça que a pessoa que a agrediu. Elas podem, inclusive, tentar evitar pensamentos, sentimentos ou conversas sobre o evento traumático.
Esquiva e isolamento social: afastamento de qualquer estímulo (de situações, contatos e atividades) que possam reavivar as recordações do trauma;
Efeitos negativos sobre o pensamento e o humor
É possível que a pessoa não consiga se lembrar de partes significativas do evento traumático (um quadro clínico denominado amnésia dissociativa). A pessoa pode se sentir emocionalmente entorpecida ou desligada das outras pessoas. A depressão é comum e a pessoa afetada mostra menos interesse por atividades que costumava apreciar. A impressão que a pessoa tem sobre o evento pode ficar distorcida, o que a leva a se culpar ou culpar os outros pelo que aconteceu. Sentimentos de culpa são também freqüentes. Por exemplo, é possível que a pessoa se sinta culpada por ter sobrevivido a situações em que outras morreram. Ela pode sentir apenas emoções negativas, como medo, horror, raiva ou constrangimento, e pode não conseguir sentir felicidade, satisfação ou amor.
Negatividade: sentimentos de incapacidade em se proteger de perigos, sensação de vazio e perda da esperança no futuro;
Alterações no estado de alerta e nas reações
A pessoa pode ter dificuldade em adormecer ou se concentrar. Ela pode se tornar excessivamente vigilante quanto à presença de sinais de alerta de risco. É possível que ela se assuste facilmente. É possível que a pessoa se torne menos capaz de controlar suas reações, resultando em comportamento imprudente ou ataques de raiva.
Hiperexcitabilidade psíquica e psicomotora: episódios de pânico com sintomas físicos, taquicardia, sudorese, tonturas, calor, dores de cabeça, medo de morrer, distúrbios do sono, problemas de concentração, irritabilidade, reações de fuga e estado de alerta (hipervigilância);
Outros sintomas
Algumas pessoas desenvolvem atos rituais com a intenção de aliviar sua ansiedade (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Por exemplo, é possível que vítimas de violência sexual tomem banhos repetidamente para tentar remover a sensação de sujeira. Muitas pessoas com TEPT usam álcool ou entorpecentes para tentar aliviar os sintomas e acabam apresentando um transtorno por uso de substâncias.
Esses cinco grupos de sintomas podem ser observados em diferentes graus e ocorrências variadas, por isso, não podemos considerar que todos irão ocorrer simultaneamente. Em alguns casos, nem todos os sintomas necessários para o diagnóstico são contemplados, mas há sinais claros de ansiedade e de tristeza. Nesses casos, pode-se se tratar de um transtorno misto ansioso e depressivo.
Diagnóstico
O DSM-IV (Manual de Diagnóstico dos Distúrbios Mentais) e o CID-10 (Classificação Internacional das Doenças) estabeleceram os critérios para o diagnóstico do transtorno do estresse pós-traumático. O primeiro requisito é identificar o evento traumático (agente estressor), que tenha representado ameaça à vida do portador do distúrbio ou de uma pessoa querida e perante o qual se sentiu impotente para esboçar qualquer reação. Os outros levam em conta os sintomas característicos do TEPT. A gravidade do transtorno costuma diminuir com o passar do tempo, porém nunca desaparece e algumas pessoas permanecem gravemente prejudicadas.
O diagnóstico é clínico e deve ser feito por um profissional capacitado, pautado nos critérios estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM). Além disso, o sofrimento gerado pela experiência vivida deve ser significativo o suficiente para prejudicar o funcionamento social e/ou ocupacional. O sofrimento não pode ser atribuído aos efeitos fisiológicos do uso de uma substância ou de outro transtorno médico.
O transtorno freqüentemente não é diagnosticado, pois causa sintomas variados e complexos. Além disso, a presença de um transtorno por uso de substâncias pode distrair a pessoa quanto à presença do TEPT. Quando ocorre um atraso no diagnóstico e no tratamento, o TEPT pode se tornar cronicamente debilitante.
O transtorno de estresse pós-traumático tem cura?
O TEPT é um problema crônico que pode durar a vida toda e, por isso, não tem cura. Com o tratamento é possível reduzir os sintomas, a freqüência das situações traumáticas e ajudar a manter uma vida mais equilibrada sem tantos abalos emocionais. Por isso, é muito importante que, a qualquer manifestação dos sintomas ou pós-trauma, você procure ajuda de um especialista para que o tratamento seja ainda mais eficaz.
Tratamento
Consiste em tratamento psicoterápico associado ao medicamentoso, ambos fundamentais para a qualidade de vida de quem possui o transtorno. São opções de tratamento a terapia cognitivo-comportamental e a indicação de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos.
O tratamento do TEPT tem como objetivos:
- Reduzir os sintomas;
- Melhorar as habilidades sociais na família, entre amigos e no trabalho;
- Tratar possíveis evoluções do distúrbio em distimia, depressão, vícios e outras complicações emocionais;
- Criar um ambiente emocional favorável para a manutenção das atividades do dia a dia.
Psicoterapia
A psicoterapia é o principal tratamento para o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Aprender sobre o transtorno pode ser um passo inicial importante no tratamento. Os sintomas podem causar confusão extrema e, freqüentemente, é muito útil que as pessoas com o transtorno e seus entes queridos entendam que ele pode incluir sintomas aparentemente não relacionados.
As técnicas de controle do estresse, como respiração e relaxamento, são importantes. Os exercícios que reduzem e controlam a ansiedade (por exemplo, ioga, meditação) podem aliviar os sintomas, além de preparar a pessoa para o tratamento que envolve a exposição estressante a memórias do trauma.
A principal corrente de pensamento favorece o uso de psicoterapia estruturada e focalizada, geralmente um tipo de terapia cognitivo-comportamental (TCC) denominado terapia de exposição que ajuda a apagar o medo deixado pelo evento traumático.
Na terapia de exposição, o terapeuta pede à pessoa afetada que imagine estar nas situações associadas ao trauma anterior. Por exemplo, o terapeuta pode pedir à pessoa que imagine que está visitando o parque em que foi agredida. É possível que o terapeuta ajude a pessoa a reimaginar o próprio evento traumático. Devido à ocorrência de ansiedade, muitas vezes intensa, associada às memórias traumáticas e para que a exposição avance no ritmo certo, é importante que a pessoa sinta que tem apoio. A pessoa que ficou traumatizada pode ser especialmente sensível a ser traumatizada novamente e, portanto, o tratamento pode ficar estacionário se ele for administrado muito rapidamente. Muitas vezes, o tratamento pode mudar, passando de terapia de exposição para um tratamento mais aberto e que presta mais apoio e, com isso, ajudar a pessoa a se sentir mais confortável com a terapia de exposição.
Uma psicoterapia mais abrangente e mais exploratória também pode facilitar o retorno a uma vida mais feliz quando, por exemplo, a pessoa dá enfoque aos relacionamentos que podem ter sido prejudicados pelo TEPT. Outros tipos de psicoterapia de apoio e psicodinâmica também podem ser úteis.
A terapia de dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares (do inglês eye movement desensitization and reprocessing, EMDR) é um tipo de tratamento no qual é pedido à pessoa que acompanhe com os olhos o movimento do dedo do terapeuta enquanto imagina estar exposta ao trauma. Alguns especialistas acreditam que os movimentos dos olhos em si ajudam na dessensibilização, mas a terapia EMDR provavelmente é eficaz devido à exposição e não devido aos movimentos dos olhos.
Farmacoterapia
Os antidepressivos são considerados o tratamento de primeira linha para o TEPT, mesmo para pessoas que não têm transtorno depressivo maior também. Os inibidores seletivos de recaptação da serotonina e outros antidepressivos, como, por exemplo, a mirtazapina e a venlafaxina, costumam ser recomendados com mais freqüência.
Para tratar a insônia e os pesadelos, às vezes o médico receita medicamentos, como a olanzapina e a quetiapina (também usadas como medicamentos antipsicóticos) ou a prazosina (também usada para tratar a hipertensão arterial). No entanto, esses medicamentos não tratam o TEPT propriamente dito, sendo apenas coadjuvantes.
Vivendo melhor com o transtorno
Além do tratamento há medidas que você poderá adotar na sua vida que podem causar conforto e melhorar a sua vivência:
- Pratique atividades físicas regularmente: melhora não só a nossa a nossa estrutura corporal, como também traz diversos benefícios ao nosso organismo, como melhorias na circulação e liberação de endorfina e serotonina;
- Aposte em atividades em grupo: seja no esporte ou por hobby, essa prática irá ajudar na sua capacidade de socialização;
- Meditação e outras técnicas de relaxamento podem ser extremamente eficazes em momentos críticos, além de trazer mais equilíbrio emocional para sua vida;
- Evite hábitos ruins: álcool, fumo e droga alteram sua condição mental e de saúde;
- Ambiente harmônico: seja no trabalho ou em casa, conviver em ambientes de afeto e produtividade irá promover motivação em seguir em frente;
- Faça terapia: a terapia irá tratar desde os seus sintomas referentes ao TEPT, como também lhe dará outras ferramentas importantes para você se desenvolver como pessoa, como o autoconhecimento e inteligência emocional.