A decadência das Forças Armadas do Brasil

Uma mãe espartana entregando um escudo a seu filho. Jean Jacques François Lebarbier, 1805

Primeira parte – Anedotas sem graça

Eu sou um homem frustrado com a própria vida. Sou da geração que cresceu escutando que a gente iria mudar o mundo*. Que nós éramos a geração da tecnologia, que cabia a nós transformar o mundo num lugar melhor. Que nós tínhamos todas as oportunidades que nossos antecessores não tiveram. Que o mundo estava ao nosso alcance e que bastava querer para tornar nossos sonhos em realidade.

Acontece que os sonhos são a primeira coisa que morre quando crescemos, isto é, quando nos tornamos adultos. Não me tornei nada daquilo que um dia sonhei. Não segui nenhuma carreira que um dia almejei. Não me tornei um cientista, nem professor de filosofia, nem artista marcial, nem atleta, nem empreendedor. Porém, de todos os sonhos que morreram, apenas um me deixa grato por não o ter alcançado. Quanto a este ”livramento”, sou sim absolutamente grato à vida: eu não segui carreira militar.

Desde quando eu era bem pequeno, pequeno mesmo, eu admirava o militarismo. Sempre me interessei pelo assunto. A história e a evolução das armas, as artes marciais orientais e européias, a formação dos exércitos… As histórias das grandes batalhas, dos feitos heróicos… Da história antiga às contemporâneas armas de fogo, praticamente todos os meus cursos de extensão são voltados ao assunto*.

*Já falei sobre isso em meu texto ”Todos os ateus são pessoas más?

Meu fascínio (e ingenuidade) quanto ao assunto me levou a um curioso histórico pessoal para tentar ingressar na carreira militar. Na infância, não pude entrar no Colégio Militar, pois era muito jovem. Eu sempre fui um ano adiantado na escola, então teria que perder um ano para ingressar. Para não perder um ano inteiro de estudo, deixamos o ingresso para o Segundo Grau (que depois se chamaria Ensino Médio).

Para o Ensino Médio, tive de fazer uma prova na qual tirei a pior nota de minha vida (3). A prova de matemática era praticamente toda sobre Função. Só que Função é matéria do primeiro ano (a série para a qual eu estava tentando ingresso)! Ó raios, como vão me cobrar na prova uma matéria dada para a série a que estou postulando cursar? Para quê eu vou entrar numa escola já sabendo a matéria que vão ensinar?

Já ali eu comecei a sentir que havia algo de errado…

Após o Ensino Médio, tive a oportunidade de tentar a EsPCEx ou a EPCAr. Sem interesse pela carreira do Exército, mas interessado pela carreira na Aeronáutica, fui ver os editais. Meramente a asma e as alergias eram suficientes para desqualificar. Nem perdi tempo tentando. Mas o que me chamou a atenção foi o fato de que também desqualificava ter dentes que precisariam de tratamento ortodôntico. Sim, ter dente torto te desqualifica(va) para o ingresso no oficialato.

Quanto à história dos meus dentes e meus traumas: “Quebrei meu dente comendo pão“.

Tendo sido rejeitado 3 ou 4 vezes, aos 17 fiz vestibular para Direito e minha vida seguiu outro caminho, no qual os estudos sobre o militarismo continuariam sendo apenas teóricos. Assim, em meu aniversário de 18 anos, fui me alistar. Saio de casa de madrugada, pego ônibus, chego e a fila já estava crescendo. Chegada minha vez a (cof-cof, não devo xingar) ”senhora” responsável pelo serviço me mandou voltar para casa, porque a camisa que eu estava usando era de ”gola careca” e não iria me atender. Retorno para casa, pego uma camisa que não era minha (três vezes meu tamanho; a única disponível), e parecendo um saco vazio retorno lá. Enfrento a fila de novo, desta vez enorme, para ela preencher o protocolo, zombar do meu aniversário e reclamar quando usei o balcão para separar a passagem de ônibus de volta…

Os detalhes dessa história têm mais de vinte anos, então muito se perdeu da memória. O que recordo é que deu problema por eu estar cursando a faculdade (lembra, eu entrei com 17). Fui umas 4 ou 5 vezes para quartéis diferentes, tive de lidar com um monte de recrutados sem noção, as instalações eram ruins, uma bagunça danada. As coisas que ficaram na memória foram:

1 – Minha cabeça era a maior do quartel. 59cm de coco. Não tinha capacete do tamanho do meu quengo e eu podia ser dispensado por isso.
2 – Eu era o único alistado que tinha todos os dentes na boca. E sem cáries.
3 – Um monte de adolescentes amontoados num quartinho tendo que ficar pulando seminus e depois mostrar o saco para o médico local ver se tinham as duas bolas.
4 – E no final, quando viram meu currículo e exame de QI, o último médico finalmente perguntou:

“—Você está fazendo faculdade?”
“—Sim, Direito na UFRJ.”
“—Você quer servir?”
“—Não, não quero, quero ser advogado.”
“—Ah, tudo bem, então vou te dispensar.”

Depois dessa aventura, me perguntaram:

“Mas você queria tanto entrar, por que disse não?”
“Porque eu também tenho meus brios. Fui negado tantas vezes que agora quem não quer sou eu.”

Não tive mais contato com as forças armadas, apenas mantive em mente a imagem de uma bonita carreira de pessoas bem vocacionadas que serviam ao seu país. Imagem essa que ainda, infelizmente, insiste em habitar o ideário popular.

Alguns amigos meus não tiveram tanta sorte. Por algum motivo, o Brasil ainda segue a idéia da ”obrigação de sangue”. O serviço militar é obrigatório para todos os homens. Diferentemente de lugares mais civilizados, como nos EUA ou na República Democrática do Congo, onde você voluntariamente assina um contrato com seu país, aqui é na marra mesmo. Você pode, por lei, ser obrigado a trabalhar contra sua vontade, fazendo um serviço que não quer fazer e ser punido se se recusar a fazê-lo. Também conhecido como Escravidão. Mas como se trata do contexto militar, ganha o nome mais ameno de Conscrição.

Durante uma amistosa conversa entre aulas da faculdade, surgiu o tema do alistamento. Não esqueço a fisionomia jocosamente tristonha de meu amigo (G) quando falou sobre sua desagradável experiência: “Eles me pegaram, Pedrinho!“, referindo-se a não ter escapado do serviço obrigatório. Além de ser algo que ninguém que tenha qualquer aspiração na vida queira fazer, o “trabalho” propriamente dito consiste em acatar ordens inúteis, muitas vezes desconexas, vindas de indivíduos com duvidosa competência. Todas se referindo ou a um treinamento físico impróprio ou à manutenção das instalações militares.

Outro amigo (V) também me contou sobre suas experiências. Ele teve o privilégio de dar tiro de boca durante o Tiro de Guerra. Sim, leitor, nossos soldados são treinados com munição imaginária. Basta falar “Pou! Pou! Pou!“. Se isso não fosse estranho o suficiente, saiba que ao final o instrutor ainda lhe dizia “Aos alvos conferir marcas.“. E ele (com os demais recrutas) tinha que ir andando até o alvo conferir se o disparo imaginário o havia acertado. Todos acertavam na mosca. Não acredita? Pois veja o vídeo abaixo que demonstra tal prática ainda ser aplicada.

Embora todos esses relatos anedóticos sejam muito comuns e amplamente conhecidos pela população em geral, ainda havia, ao menos até 2022, a sensação geral de que o lema “Braço Forte, Mão Amiga” não era apenas um lema, mas também uma verdade incontestável. De que, apesar de todas as dificuldades orçamentárias, de todos os contratempos e obstáculos, nossos soldados estariam sempre prontos e dispostos a proteger e ajudar a população nos momentos mais difíceis.

O orgulho de fazer parte das Forças Armadas, a honra, a tradição e, sobretudo, o prestígio de servir à pátria e ao povo ainda eram um véu que recobria o nome e o renome da última instituição em que o brasileiro médio (de direita) confiava e tratava com reverência. Hoje, ser soldado tornou-se motivo de chacota, como em minha postagem: “A imagem do despreparo das forças armadas no Brasil“.

Mas o mal-estar não mais se limita apenas ao evidente absoluto despreparo das forças para agir em situações de emergência ou comoção social. A consternação com a pífia atuação nesses casos se somou com a frustração de uma população que inocentemente acreditou que as forças estariam ali para lhe proteger de um governo corrupto. Agora as Forças Armadas são vistas não só como incompetentes, mas também como traidoras.

Reza a lenda que alguns ainda esperam só mais 72 horas.

Bem, as Forças Armadas não traíram ninguém. O povo fantasiou que seria resgatado pelo Exército, mas se esqueceu de perguntar ao Exército se ele viria mesmo lhe salvar. Está bem claro no artigo 142 da CF88 que as forças existem para manter a ordem constituída, não para subvertê-la. Exército não é babá de civil. Se a população civil está insatisfeita com o governo, que resolva nas eleições. A maioria votou no Lula, então agüentem. Essa posição corporativista das forças já era denunciada por Olavo de Carvalho há décadas, mas foi necessária a traição de Bolsonaro para finalmente iniciar o processo de despertar da população, ou ao menos de parte dela. Veremos isso na segunda parte do texto. Por hora, assista ao vídeo abaixo.

A Decadência do Exército Brasileiro | Abraham

Cópia de segurança em meu repositório caso o vídeo esteja indisponível:

https://www.bitchute.com/video/vbhREyUpuNWt


Segunda parte – Um general patético.

Está chegando a hora da noivinha do Aristides ir cagar em um buraco na cadeia.

Eu comentei a queda de Bolsonaro no texto O que ocasionou a derrota de Jair Bolsonaro?, e citei as traições dele no texto “As conseqüências políticas do analfabetismo funcional do brasileiro“. Mas agora que sua máscara caiu, que está prestes a ser preso, está se revelando algo muito pior do que um traidor. Quer colocar a culpa nos próprios apoiadores que foram às portas dos quartéis pedir por intervenção militar. Mas quem os instigou a isso? Quem durante todo um governo associou sua própria imagem às Forças Armadas? Quem usurpou para si a imagem de chefe de um exército que estaria ali para proteger a população de bem? E que estava “contra os comunistas”? O sujeito arquitetou uma lavagem cerebral em massa, uma histeria coletiva de pessoas ignorantes e facilmente manipuláveis. Queria sim que houvesse alguma intervenção, mas não teve colhões para fazê-la ele mesmo. Quando o frágil castelo de cartas ruiu, como o covarde que é, pôs a culpa em seus seguidores.

É óbvio que ele merece ser preso não só por tudo o que se omitiu em fazer, mas também pelos atos abjetos que cometeu. Omissões foram várias. Ele sabia da fome e da doença dos índios, mas não fez nada: índio não vota. Ele protegeu os garimpeiros: garimpeiro vota. Ele deixou que proto-ditadores fizessem e desfizessem durante a Peste Chinesa, quando tinha o poder-dever de intervir. Prevaricou. Ele deixou que todos os seus apoiadores fossem perseguidos, assim, a imagem da direita no Brasil teria apenas o sobrenome de seu clã. Todos os que rompem apoio, ou meramente criticam o imbrochável líder, são alcunhados como “traidores”, são ostracizados, têm suas reputações assassinadas.

Mas muitos estão começando a perceber quem ele realmente é. Cada declaração em que tenta se eximir da responsabilidade pelo que aconteceu a tantos cidadãos presos no 8 de janeiro o faz perder mais e mais apoiadores. Cada evasiva faz muitos questionarem o apoio até então dado. Até Romário, figurinha da politicagem fluminense começou a se afastar dele. Outros nomes também começam a se afastar, antevendo sua prisão e calculando o custo-benefício de manterem-se ligados a alguém cujas manifestações em apoio vêm se tornando cada vez mais esvaziadas. Sim, ele ainda possui um enorme número de apoiadores. Mas quanto tempo isso durará?

Haverá quem, mesmo após tudo isso, continuará apoiando o sujeito. O comportamento canastrão e cafajeste de Bolsonaro conquistou a população. O povo é mulher e, por mais que mulher diga que gosta do homem certinho e não queira admitir, ela gosta mesmo é do cafajeste. O ”moreno tatuado com cara de bandido” se personifica politicamente na figura dele mesmo. Falas conhecidas como “Vagabundo tem mais é que se foder, porra! Acabou!” agradaram a população há anos vítima da impune violência criminosa. Ele deu voz a um povo cansado de uma política de velhos velhacos e novos hipócritas. Parecia ser alguém genuinamente contrário ao sistema. Cativou, seduziu, hipnotizou e iludiu um povo carente de homens fortes e de valor. Esse povo então lhe entregou toda a esperança há tanto tempo reprimida. Sem outras referências, aceitaram aquilo como ”o salvador da pátria”. Era o que aquela gente tinha para enfrentar o lulopetismo. Toda a libertinagem de tal cafetão político precisaria ser relevada. Incluindo promiscuir Religião, Política e Defesa Militar.

“Defensor dos valores cristãos” com 5 filhos em 3 casamentos diferentes, o homem que afirmou “pintar um clima” com jovens pobres enquanto sabia dos horrores de Marajó não foi de todo um tolo. Ele sabia que caso aparecesse outra pessoa mais competente (o que não é difícil) nos assim incipientes movimentos de direita, ele não manteria o poder para si ou para outro de seu clã. Permitiu que aliados fossem perseguidos, deu as costas a apoiadores em seus momentos de necessidade. Concentrou em si, e somente em si, o nome viável da direita para eleições. “Não há direita no Brasil sem Bolsonaro“, ele mesmo disse. Fez de propósito. Foi planejado. Porém isso apenas não seria suficiente. Era necessário também conquistar a massa popular de forma ainda mais profunda, no que ela tem de mais precioso, que é sua fé.

Pastores evangélicos transformaram as pregações onde se deveria elevar o coração ao alto em comícios eleitoreiros. Falsos profetas profetizaram “em nome de Jesus” que ele venceria as eleições. Senhorinhas com a bíblia em mão clamavam por ajuda aos céus para que o comunismo não se implantasse no Brasil. Bolsonaro foi salvo de uma facada por um milagre de deus, logo, seria esse “ungido do senhor” o defensor da cristandade. Católicos (cujo dogma excomunga o comunista) e protestantes oravam para que ele permanecesse no poder. Encararam todas as questões mal respondidas que ocorreram durante o processo eleitoral de 2022 como uma prova de fé.

Não satisfeito em promiscuir fé e eleições, botou durante seu governo a já convalescente reputação das Forças Armadas no meio do caldeirão de sentimentos de uma população extasiada. Entre motociatas e tanqueciatas, “Vocês vão à frente, eu vou depois e, atrás, o meu Exército.” Atiçou a população por meses, instigou a exacerbação dos ânimos, para depois esconder-se como um covarde, sem dar ao povo que nele confiou qualquer palavra de alento diante da derrota.

Crédulos de que “as Forças Armadas iriam combater o Comunismo no Brasil”, patriotários foram às frentes dos quartéis rogar, implorar por ajuda. O fervor político e religioso tomou conta de milhares de pessoas. Alguns chegaram ao ridículo de esperar por intervenção alienígena. (Algo que muito agradaria este que vos escreve — eu adoro essas coisas de Operação Prato, Varginha e o OVNI de Macaé). E enquanto o povo aterrorizado com a possibilidade de este país se tornar uma ditadura comunista chorava clamando por socorro aos militares, postando em suas redes sociais que “Eu Autorizo”, num claro descontentamento em relação à dubiedade da lisura das eleições, seu Capitão General fugia para a Disney enquanto fazia seus eleitores de Patetas.

O que merece alguém que incutiu medo e paranóia em milhões de pessoas?

Mas essa experiência não foi de todo ruim (para quem não está preso ou morreu na cadeia). O povo finalmente viu que as Forças Armadas não irão protegê-lo. Nem do governo a que fazem parte, nem de catástrofes naturais, como as enchentes no Sul ou a ganância privada no Norte (refiro-me tanto a Maceió, que está afundando por minas subterrâneas, quanto aos índios morrendo pelas ações dos garimpeiros). E, convenhamos, nem de ameaças externas. Se o Zimbábue resolver atacar, eles chegam a Brasília antes de os recrutas terminarem de treinar tiro de boca.

É muito fácil mandar os filhos dos outros para um árduo trabalho estando no conforto de um escritório. É muito fácil discutir os cortes das rações durante um jantar com talheres de prata. É muito fácil deixar seus eleitores adoecerem na porta de quartéis, ou morrerem em celas de presídios. Eu repito o que disse no outro texto: nossos meninos não merecem isso. Quem vai agora querer genuinamente servir como praça, sabendo como é a realidade das forças no Brasil? Se antes, com a imagem preservada, já se falava tão mal do serviço militar obrigatório, agora que o comportamento e a posição política dos comandantes está sob escrutínio popular, quem quererá se submeter a essa hierarquia? Que jovem aceitará agora se tornar motivo de zombaria? Três dos meninos morreram aqui no Rio de Janeiro durante uma GLO por fogo de narcotraficantes. Este ano, um se suicidou no quartel. Quem quererá isso para si? Ou, para seu próprio filho?

Credibilidade é algo que só se perde uma vez.  A ilibada reputação das Forças Armadas acabou para parte considerável da população. Seja dos generais que prestam continência a ditadores, seja dos seus civis comandantes-em-chefe. Uns os chamam de inúteis, outros, de traidores, tal como o ex-presidente (futuro presidiário). O inelegível conseguiu unir direita e esquerda em repúdio ao Exército. O Lula, ex-presidiário (agora presidente) pode ter todos os defeitos que o Bolsonaro disse, mas pelo menos não se apóia na imagem nem no prestígio de outrem para se promover. Nem do exército, nem de Jesus.

Ainda bem que eu não servi. Não faço parte dessa bagunça. Essa é uma frustração que não carrego.

Por duas vezes a Marinha do Brasil tentou vender o único porta-aviões da América do Sul no e-Bay, um conhecido portal de classificados na internet.

Terceira parte – kalos thanatos

Glossário:
* eugenia – espartanos eram inspecionados após o nascimento; se houvesse qualquer problema de saúde com o bebê, ele seria morto. Isso garantia que apenas homens saudáveis integrassem o corpo social.
* culto – espartanos eram fervorosamente religiosos, cultuando principalmente deidades femininas. Atena era a mais cultuada.
* Licurgo – legislador e reformador lendário a quem se atribui a lei espartana.
* agoge – um dos primeiros períodos pedagógicos ao qual os meninos iniciavam a vida militar.
* kalos thanatos – literalmente “a bela morte”, refere-se à morte em combate, ou seja, dar sua vida pelo Estado.
* formação hoplita – falanges de soldados que se defendiam mutualmente por meio dos hoplons, largos escudos que vieram a se tornar o símbolo militar espartano.
* polis – Cidade-Estado grega. Na Grécia, cada cidade era seu próprio minipaís, com suas próprias leis.

Embora a sociedade ateniense tenha deixado muitas obras para a posteridade, e por ela seja conhecido o cotidiano do mundo grego, foi a sociedade espartana que melhor vivenciou o espírito helênico. A eugenia, o culto, o senso de camaradagem e a vida militar.

Graças às reformas pedagógicas de Licurgo, todo homem espartano era um escravo. Seja um escravo no sentido literal, um estrangeiro derrotado na guerra; seja um escravo do dever à polis. Esses homens livres, porém inatamente servos ao corpo social, vivenciavam desde o agoge até o kalos thanatos os valores da sociedade grega antiga. Em nenhuma outra cidade as mulheres foram tratadas com tamanha igualdade. Também treinavam para a guerra nuas nos ginásios junto aos homens. A elas cabiam os serviços auxiliares e o ataque à distância, enquanto aos homens cabia a formação hoplita.

Todo espartano era estritamente um soldado e somente aos soldados eram reconhecidos direitos políticos. Como alguém que não vive para morrer pelo Estado teria o direito de participar das decisões públicas? A esses que viviam em esparta, mas não eram espartanos natos, eram reservados todos os demais serviços. Agricultura, manufatura, mineração, comércio. Para mantê-los sob controle e medo constantes, eram duramente explorados.

Espartanos não deixaram obras filosóficas ou culturais. Estavam totalmente dedicados ao serviço militar e à guerra. Esse exemplo histórico serviria para a construção do mito do soldado perfeito, inspiraria poemas e prosas para as gerações vindouras sobre uma romantizada vida aquartelada.

Posteriormente, os romanos encontraram um meio termo entre a excessiva obsessão espartana e a indolente displicência brasileira. Soldados provinham soldos e terras após o serviço militar. Servir às forças armadas era interessante ao soldado, apesar da obrigatoriedade e do grande perigo envolvido. Havia uma doutrina militar racional e regras bem claras. O exército romano não se reservava apenas à guerra, mas atuava em todas as necessidades públicas. Calamidades, agricultura, construções. Participavam ativamente de todas as questões sociais. Sendo nossa sociedade descendente daquela, esse ideário milenar da função do exército se manteve até recentemente.

Séculos mais tarde, no oriente, mongóis criaram o maior império em extensão territorial contínua da história por também se dedicarem mais às batalhas do que à pacífica vida ”civil” (eles não tinham cidades). Aqueles nômades viviam sobre seus cavalos. Enquanto a vida agrária dos conquistados lhes engordava, tirava suas forças e estragava seus dentes com os cereais, os mongóis, alimentados exclusivamente com carne, queijos e iogurte, eram magros, fortes e cheios de energia. A história demonstrava mais uma vez a preponderância da força militar ativa sobre a pacificidade civil passiva.

Já no ocidente, após gerações de opressão muçulmana, cristãos europeus finalmente se rebelaram contra os invasores e partiram nas Cruzadas. As guerras sempre tiveram ao longo da história uma faceta religiosa. Soldados sempre oraram ao divino por proteção. Mas, com as Cruzadas, a guerra assumiu efetivamente essa face, sem véus, máscaras, escusas ou dissimulação. Matar o inimigo em nome de Deus lhe concederia a indulgência da Igreja, um salvo-conduto para o paraíso. Afinal, era isso ou morrer nas mãos dos muçulmanos, que estavam fazendo a mesma coisa.

Desde então, Jesus Cristo sempre foi invocado durante as guerras. Joana D’Arc morreu afeita à sua fé. Católicos e protestantes se mataram (literalmente) para decidir quem amava mais Jesus. Mesmo Napoleão, que recusou que sua coroa de imperador fosse-lhe imposta pelo Papa, já dizia que Deus estava sempre ao lado dos grandes exércitos. Quanto maior, mais Deus favoreceria. Claro: uma guerra tradicional é uma questão de números. Quanto maior for o batalhão, maior é a chance de vitória. E aos vencedores cabem escrever a história e a graça de Deus.

Gott mint uns” (Deus está entre nós) era o lema inscrito nas fivelas dos cintos de todos os soldados durante a Alemanha Nacional Socialista. Exterminar os descendentes dos que mataram Jesus, que criaram o Comunismo, que se recusavam a integrar a sociedade cristã, responsáveis pela crise econômica, e com a bênção papal de Pio XII era uma tarefa nobre para o pobre católico soldado alemão.

No Brasil do início do século XX, o temor ao comunismo começava. Pela primeira vez as Forças Armadas Brasileiras intervieram e os impediram, iniciando aí a reputação de serem contrárias à esquerda política. Depois nossos pracinhas foram ao estrangeiro, os enfrentaram e voltaram com a glória inerente a uma Grande Guerra, de terem enfrentado tiranos de esquerda e os vencido. Vargas precisou deixar seu cargo de ditador, mas o povo, que é mulher, pediu por ele de volta. Passado um tempo, durante a Guerra Fria, a ameaça comunista retornava e, mais uma vez, as Forças Armadas intervieram e os impediram, dando início ao Regime Militar.

Se haveria ou não a tentativa de implantação de um regime de esquerda, ninguém sabe ao certo. Mas a desculpa foi essa. E mais uma vez se fortalecia o conceito de que o Exército Brasileiro era de direita e seria anticomunista. Passados 50 anos, um certo crápula aproveitou-se do cenário perfeito (paranóia de uma nova ameaça comunista, formação de incipientes movimentos de direita, advento de redes sociais e o imaginário popular que via o Exército como cristão e anticomunista) para eleger-se e então trair a nação, tentando perpetuar-se no poder.

Hoje as Forças Armadas perderam sua reputação. Não são vistas mais como defensoras de um povo e sua fé. O serviço não é visto romanamente como algo nobre em favor do corpo social. Dele não surgirá o “salvator patriae“, aquele que evitará a ruína do Estado. Também, definitivamente, não existe o kalos thanatos no Brasil. (Quem vai querer morrer por isto aqui?) O jeitinho brasileiro chegou à caserna. A Lei de Gérson vale tanto quanto a Constituição para o oficialato e suas filhas, que vivem amigadas para não perder a pensão de papai (que não morreu em serviço). A frustração de um povo ao finalmente despertar e perceber que ninguém irá lhe proteger é sentida como uma traição. E ironicamente (ou não) testemunhamos gado com dor de corno.

Uma anedota: ao pronunciar seu juramento em juízo, o romano segurava seus testículos com a mão direita (munheca). Daí o nome ”testemunho”. Mas neste país de homens sem colhões, liderados por canalhas, as bolas só servem para passar vergonha durante o exame físico do alistamento. E a fantasia da valorosa vida militar morre para o povo brasileiro, tal como morrem os sonhos de uma criança quando se torna um adulto.

O Brasil precisa mais de médicos ou de filósofos?

Médicos.

 

 

Ainda está aqui? Pois bem, continuemos. Apareceu uma questão nas redes sociais que gerou interesse público. Um professor de filosofia numa faculdade de medicina estava recebendo uma remuneração menor que a de seus colegas professores médicos. Ele moveu uma ação jurídica trabalhista contra seu empregador (e ganhou a ação). Isso gerou interesse na esfera da docência em filosofia referente à desvalorização do professor dessa área.

Ocorre que a academia brasileira, assim como qualquer outra, não forma filósofos. Forma, sim, professores de filosofia. E há uma diferença muito grande entre ser filósofo e ser professor de filosofia. Num verdadeiro esquema de pirâmide, professores de filosofia formam outros professores de filosofia. Nada mais que isso. Mergulhados num ranço ético e estético, fazer faculdade de filosofia serve apenas para produzir artigos que ninguém além de seus pares lerá, sobre temas que a ninguém além de seu orientador interessam, e que em absolutamente nada contribuem para o desenvolvimento da sociedade. Assim, o neófito membro da academia cresce em obras e títulos, mestrados e doutorados. Independentemente se continua sendo um analfabeto funcional.

Filosofia não é isso. Existe uma diferença enorme entre Filosofia e o que se diz ser filosofia. Para minha visão sobre o que é Filosofia, deixo o texto que pode ser visto aqui: Edições Independentes. Recordo-me quando a matéria de Filosofia seria então inserida como parte do currículo do Ensino Médio devido a mais uma das incontáveis mudanças no currículo escolar, mudanças que vêm e vão a cada novo governo. Eu ingressei na faculdade exatamente durante esse período de transição (um ano antes da medida). E vi a diferença claríssima e gritante entre os colegas que entraram antes, que estavam interessados em estudar o grande pensamento humano, e os colegas que entraram depois, que vislumbraram a oportunidade de conseguir um emprego no novo mercado de trabalho que se abria.

Assim, graças ao interesse do partido em voga, “ser filósofo” tornou-se uma profissão. Em pouco tempo, o que antes era um nicho especializado vulgarizou-se nas famintas  presas do mercado de consumo. Tem quem apareça na TV para falar baboseiras. Tem quem ganhe dinheiro dando palestras. Tem quem vire “influencer” (seja lá o que isso for). Falar rebuscadamente, citar autores famosos e exsudar empáfia é o que basta para ser aclamado como intelectual (e vender livros ou cursos on-line).

Não, o Brasil não precisa de filósofos. Filosofia é, por sua natureza, uma ciência erudita. Não tem aplicação prática nem pode ter. Se tivesse, não seria Filosofia. Dela derivam as ciências práticas utilizadas pela humanidade. A cátedra de Filosofia foi conspurcada por agentes de interesse para disseminar ideologias neomarxistas pós-modernas, das quais parte considerável dos formados demonstra aderir. Deixou de ser a porta de entrada para o mundo das idéias superiores para se tornar uma máquina burocrática da reprodução do pensamento de uma academia corrompida, corrupta e corruptora.

A Filosofia não é para todos. É para aqueles que amam o que é de mais elevado no espírito humano. O que se pratica hoje não é Filosofia, mas sim é a ruminação de doutrinas falaciosas comprovadamente fracassadas e o complacente ato de massagear egos, brios e orgulhos de pseudo-intelectuais que não aceitam que sua ”brilhante formação” não se reflete nos olhos no grande público ocupado com a vida cotidiana.

Como poderia despertar interesse? A grande massa nem ao menos compreende os mais elementares fundamentos do pensamento humano. Tentarei exemplificar. Matemática não serve para nada. Não está entre aspas por não ser uma citação, é uma afirmação. Se você afirmar isso ao grande público, a primeira réplica que receberá é a de que matemática é muito importante porque é usada em tudo, de bancos e agricultura à engenharia e informática. E essas mesmas pessoas que nem ao menos prestaram a devida atenção às aulas na escola quererão lhe ensinar a importância da matemática. Percebe? As pessoas não conhecem a diferença entre Matemática (a forma mais pura de Filosofia) e fazer conta. Fazer conta não é matemática. Cálculo não é Matemática. Mas ao aplicar os conceitos oriundos da matemática na vida mundana, o homem médio instrumentaliza a ciência e, sem dar-lhe outro nome, chama-a pela mesma alcunha.

A instrumentalização das coisas é parte inerente ao mundo em que vivemos. Quantas e quantas vezes já me perguntaram: “mas Filosofia estuda o quê?”, “para que isso serve?”. Sem o menor pudor eu respondo: Filosofia não serve para absolutamente nada. Se servisse, não seria Filosofia. Não é um instrumento. Não é uma coisa para ser usada. E o próprio ato de elevar o espírito humano. Quem precisa de arte para viver? Para que serve um quadro numa parede ou uma escultura num museu? O mundo não precisa de artistas, assim como não precisa de filósofos. Mas só porque arte não serve para nada, não significa que não tenha seu valor. Não significa que seja inútil. “Pois em sendo belo tem a sua utilidade.

Veja também: Gosto se discute, sim.

Mas neste mundo prático, na vida cotidiana, ninguém precisa mais de um filósofo do que precisa de um médico. O filósofo só pode existir porque todo o conjunto da sociedade assim o permite existir. Quando o homem não precisa roçar sua própria comida, tecer suas próprias roupas, erigir seu próprio abrigo, sanar suas próprias moléstias, proteger sua própria vida, aí sim ele pode dedicar seu tempo à erudição. É o último grau, o último ofício, a mais desnecessária e inútil de todas as ações humanas. Nossos doutos apedeutas acadêmicos gabam-se em sua soberba citando Sócrates: “só sei que nada sei“. Falta-lhes humildade para reconhecer que isso é verdade.

A situação dos médicos no Brasil.

https://www.bitchute.com/video/NiqQxG0IBjza

 

Pagamento anual de jazigo perpétuo.

Estou ciente quanto à situação do jazigo de minha família.
Porém considero abusiva a relação entre as concessionárias e os titulares dos espaços públicos.

Havíamos feito a reforma completa do jazigo com granito e decorações. Essas decorações foram furtadas, as fotos de nossos familiares foram removidas e a tampa de granito foi quebrada. De que adianta pagar pelo serviço de concessão, se não há proteção por parte do cemitério?

Para devolvermos a titularidade é necessário remover os restos mortais de nossos familiares. Os serviços de abertura do túmulo, exumação, acondicionamento em caixas e transferência para ossuário geral são pagos um a um, a preço cheio, mesmo para fragmentos de ossadas. Por que pagar por cada um esses serviços, se a própria concessionária os fará quando da retomada do jazigo?

Nos contatos mais recentes, foram enviadas fotos do jazigo depredado e o valor de cobrança para regularização em aproximadamente R$ 11.000,00. Isso apenas demonstra a conduta que vemos em tudo o que envolve o emocional: serviços médico-hospitalares, cemiteriais e todos os correlatos (do material cirúrgico que não tem no SUS à coroa de flores) praticam preços exorbitantes.

O cemitério do Caju sempre deu transtornos, aborrecimentos e gastos durante as décadas em que serviu aos Imbroinise Figueira. Os serviços nunca foram bons ou empáticos. O serviço público nos trata como gado em vida e como esterco em morte.

Conforme novo entendimento do Supremo Tribunal Federal, a cobrança pelo serviço que antes era gratuito é legal. Eu li a irrecorrível decisão e os argumentos são sólidos. Eu optei por não pagar mais por essa manutenção de jazigo perpétuo.

É lúcida uma cobrança perpétua para guardar ossos de uma família que se foi? É lúcido pagar para fruir de um bem que não é mais seu? Para vê-lo ser depredado e ser obrigado por lei a restaurá-lo?

Meu avô ensinou: mortos ao chão, vivos ao pão. Aos mortos, oferto uma prece. E sigo minha vida.

Placas de granito não se quebram sozinhas.
Adornos de metal não se furtam sozinhos.
E o que é essa mancha marrom sobre a lápide?

Mês de dezembro é o mês de morte de meu pai, meu avô, minha tia, amigos de família, até animais de estimação. Mês de ser despejado, de gastar com hospital, de gastar com funerária, de me tornar doente crônico e de não conseguir atendimento médico (ou incontáveis outros problemas) porque ninguém trabalha.

Eu detesto dezembro.

Editado 23/12/2024. Quando eu era pequeno, em dois momentos diferentes, eu tentei salvar passarinhos que haviam caído de seus ninhos. Uma dessas rolinhas morreu em minha mão quando eu a levava para casa. Ontem, dia 22, mais uma rolinha caída veio aos meus cuidados. Mas não havia muito o que fazer. Foi a terceira rolinha que não consegui salvar. Todas em dezembro.

Eu odeio dezembro.

Como é ser mesário?

E então, como é ser mesário?

Completando esta trilogia cívica, relato a quem curioso esteja como é o típico dia de um típico mesário suburbano carioca. Eu havia sido mesário e presidente de seção há muitos anos, mas acabei esquecendo os detalhes dessa deliciosa experiência de servir à nação.

Você acorda mais cedo que quase todo mundo. Menos o pessoal do TRE e os presidentes de seção, que já estão lá te esperando no local de votação. Cheguei às 06h20, para tirar a zerésima às 07h00 e começar a receber o povo às 08h00.

O trabalho é realmente muito muito simples. Recebe pessoa, cata nome, manda votar, entrega papel, chama o próximo. Recebe pessoa, cata nome, manda votar, entrega papel, chama o próximo. Vai almoçar, engole um bate-entope e volta. Repete os passos 1 e 2 e o dia já acabou. (Realmente passa muito rápido.) É um dos serviços mais tranqüilos que você poderia ter. De novidade, só não gostei que criança não pode mais acompanhar o adulto para votar. Todos nós mesários votamos com nossos pais. Era uma forma de transmissão do civismo. Agora não pode mais… |:^/ Ao final, você empacota tudo e manda para o TRE.

Eu me lembrava só dessa parte. Parece que minha mente se esqueceu de um pequeno detalhe: o povo. Estamos falando de seres sem as mais rudimentares noções de urbanidade, espaço pessoal e até mesmo higiene. É certo que não sou exemplo de elegância, etiqueta e garbo. Muito menos simpatia. Porém isso não invalida meu sentimento de repugnância ao ver que votam:

  • A velharia que chega duas horas antes de os portões abrirem para “não esperar na fila”;
  • O sujeito que pára em frente à urna sem saber apertar botões;
  • Mulheres diferentes revezando a mesma criança para ganhar prioridade;
  • Os homens que aparecem segurando aquela mesma criança no colo para ganhar prioridade também;
  • E uma vagabunda desgraçada batendo numa criança de colo;
  • Pessoas completamente desorientadas sem saber o que foram fazer ali;
  • Mulheres usando roupa de boate (ou prostíbulo);
  • E gente molambenta não por pobreza, mas por desleixo;
  • O sujeito que lambe o dedo antes de registrar a digital e baba o aparelho todo (lambeu e babou umas 4 vezes);
  • A pessoa que quer fugir com o comprovante sem ter votado;
  • A pessoa que arranca a caneta da sua mão;
  • E o que mais me causa espécie: ver como as pessoas conservam e tratam seus documentos de identificação (trauma bancário).

O sujeito que pára em frente à urna sem saber apertar botõesnão tem condições intelectuais suficientes para fazer bom juízo acerca de quem deve administrar o aparelho estatal. Já aqueles que demonstram mesmo em suas pequenas ações cotidianas uma personalidade egocêntrica, não têm índole para fazer escolhas que beneficiem a sociedade antes de si mesmos. Metade das pessoas em minha seção eleitoral não foi votar. E, da metade que foi, parte considerável não deveria ou merecia ter o direito de votar (uns 25% talvez…).

Ao menos dentro da zona (eleitoral) há alguma parcimônia nos temperamentos. No entorno, porém, a situação beira o ridículo. Todas, repito-me, todas as biroscas de meu bairro estavam fazendo churrasco. Nunca vi em todos estes anos de eleições tanta gente nas ruas, bebendo e gritando, entre pagodes e arruaças, sobre a imundície de um mar de santinhos em que escorreguei (não cheguei a cair). Saindo de meu local de eleição, diretamente à frente, há um bar. Estava mais do que lotado: as mesas estavam ocupando boa parte da rua impedindo a passagem de carros.

Estavam embebedando-se desde o início da manhã e continuam as ébrias esbórnias até agora, tarde da noite.

Esse é o povo que vota. Tem o governo que merece.
Cumprida minha obrigação cívica, retorno para casa.
Minha mãe me fez tomar banho de sal grosso (ela rezou o terço de São Miguel).
E ganhei R$ 60,00 de vale-coxinha pelo dia.

Não posso mais porque cortei o glúten… :-(

Você confia nas urnas eletrônicas?

Seguindo minha publicação anterior, aproveito para contar outra anedota de minha vida.

Aproximando-se do dia das eleições, no qual estarei seqüestrado ao serviço público involuntário, comentei com alguns colegas de trabalho sobre a convocação. Conversas vão, conversas vêm, numa dessas, um colega disse que gostava tanto que tentou ser mesário voluntário (algo civicamente admirável), mas infelizmente não poderia desta vez. Outro colega disse que estava evitando a todo custo mudar de zona eleitoral, com receio de ser capturado como eu e, por isso, vota bem longe de casa. Numa dessas conversas, surge o assunto da urna eletrônica.

Minha objeção à atual urna eletrônica é bastante simples, muito mais simples do que qualquer tecnicidade: ela não é suficientemente transparente ao homem médio (eu).

Eu sigo o entendimento da alta corte alemã: não importa o quão “segura e inviolável” a urna seja, mas sim importa que não paire qualquer dúvida quanto ao pleito. Por isso lá, apesar de as urnas serem eletrônicas, elas têm o voto impresso, que permite a conferência entre o resultado e a votação por qualquer do povo.

Em Taiwan, maior produtora de computadores do mundo, o voto é em cédula. Nas últimas eleições da França, estava praticamente certa a vitória da direita. Todas as pesquisas apontavam a direita como vencedora (com larga vantagem). Após as eleições, a surpresa: a esquerda venceu novamente. Por que não houve questionamento do resultado eleitoral? Porque a votação também é em cédula. Os votos foram contados na frente de todos, não havia o que reclamar. Perdeu? Aceita que dói menos. Na Venezuela a eleição é em cédula, o que permitiu a comprovação internacional de que Maduro perdeu as últimas eleições (o que não faz diferença para um ditador).

Eu defendo que a conferência pública e auditável dos votos é necessária para que não se permitam dúvidas quanto à lisura do pleito. Para que não ocorra novamente algo similar ao fatídico 8 de janeiro de 2023, quando uma manada acéfala arruinou a imagem (e os argumentos de pacificidade) da atual oposição.

Após aprender programação, concluí que a zerésima não prova nada se o eleitor não tiver acesso ao código-fonte. Não o código apresentado pelo tribunal, mas o código que foi instalado in loco em cada máquina. Nenhum eleitor tem acesso a isso. Na prática, nós brasileiros temos que confiar na palavra Tribunal Eleitoral de que nenhum técnico, servidor, hacker, criminoso, partido ou cabo eleitoral, ninguém dentro ou fora da organização teve acesso ao código. Que o sistema inteiro é incorruptível, indevassável e infalível. Temos que acreditar piamente que ninguém teve a chance de fazer alguma tramóia lá dentro (ou no dia da eleição).

Você confia tanto assim no Estado Brasileiro? E na sua capacidade de enfrentar a criminalidade?

Um dos meus atuais colegas de trabalho trabalhou na implantação das urnas eletrônicas, quando era de outra instituição. Ao mencionar que eu não confio nas urnas eletrônicas, visivelmente exaltado e exasperado, em sua defesa da urna nossa conversa foi mais ou menos assim:

— Eu não continuo não confiando na urna-eletrônica.
— Isso é um problema seu.
— É um problema de todo mundo. Ninguém tem acesso ao código-fonte.
— Os partidos políticos e o alto escalão têm. Se você tivesse se qualificado para ver o código, poderia ver.
— Mas eu sou o eleitor. Tenho o direito de saber se meu voto foi computado.
— É só não ir votar, que você terá certeza de que seu voto não será computado.
— Então eu não tenho o direito de questionar?
— Não.
— Posso apresentar algum outro argumento?
— Não.
— Pelo menos eu tenho o direito de saber se meu voto foi computado?
— Não.

E assim, com um rotundo, seco e bem claro “não”, tive minha resposta de alguém que trabalhou no desenvolvimento do sistema.

Cabe ao leitor decidir por si mesmo se confia ou não no sistema eleitoral brasileiro.


Estude mais sobre o assunto: https://insightinteligencia.com.br/quem-nao-confia-nas-urnas-eletronicas/


Editado em: 05/10/2024

Uma amiga levantou uma questão sobre o texto acima, pois parece que não deixei claro. Gostaria de esclarecer uma posição.

Eu definitivamente não concordo em voltar com o voto em cédula no Brasil. Os exemplos que citei foram usados para demonstrar que a contagem e auditoria públicas de votos permitem a impossibilidade de aventar questionamentos quanto à lisura do processo. O ponto que defendo é que a mera possibilidade de podermos questionar se o processo eleitoral é honesto ou não fere a transparência e a credibilidade necessárias para o exercício do sistema democrático.

Países mais evoluídos permitem até mesmo que votações sejam realizadas pelos correios ou pelo celular. A tecnologia em si mesma não é o problema, mas sim o grau de credibilidade no sistema sob a perspectiva dos governados. Por exemplo, na Estônia, um pequeno país cuja sociedade apresenta alta credibilidade mútua, as eleições são feitas pelo celular. Isso seria impossível no Brasil, um país gigantesco e reconhecidamente corrupto.

Não há panacéias. Defendo que cada sociedade deva desenvolver soluções adequadas às suas próprias realidades. Votar em cédula no Brasil sempre foi um caos. Urnas furtadas, violadas, votos fantasmas e baixa participação dos indivíduos iletrados. A urna eletrônica serve para combater exatamente isso. Mas ela se tornou um instrumento para ocultar metade do processo eleitoral, a contagem dos votos, que por sua natureza deve ser pública.

Retornar ao voto em cédula no Brasil seria um retrocesso de décadas. Não ter o concomitante voto impresso, a auditoria pública, é um atraso de séculos.

Intimidações eleitorais

Sempre que recebo intimação do governo, eu chamo de ”intimidação”. Meus amigos que trabalham com Direito não gostam, então eu chamo assim ainda mais. huehue

Mais uma vez fui contemplado com a subtração de pelo menos um domingo. O governo decidiu pelo meu arrebatamento e, após tantos anos, serei mesário de novo. Tenho certeza de que, se suas excelentíssimas eminências tivessem lido as coisas que escrevi sobre as urnas eletrônicas, não teria sido convocado. Provavelmente iria preso mesmo… |:^(

Fui mesário e presidente de seção quatro vezes no passado, ainda à época em que trabalhava no Banco do Brasil. Essa empresa chinfrim não me pagou os dias devidos. Sabe, quando você trabalha para a justiça eleitoral, além de você ganhar o vale-coxinha do dia, você ganha alguns dias de folga em seu trabalho. São dois dias para os mesários e quatro dias para os presidentes de seção. Isso é remanescência da época em que a votação era feita por cédulas em papel. Esses dias eram os usados para fazer a contagem manual das cédulas. Hoje a votação é eletrônica, não existe mais a contagem (se é que você me entende), mas os dias continuam sendo dados.

Acontece que o Banco do Brasil se recusou a dar meus dias como presidente de seção e só me deu os dias como mesário (metade). Primeiro emprego; vinte anos de idade; sabendo nada da vida; não reclamei. Não foi só isso que os patifes deixaram de me pagar, mas pararei por aqui mesmo: contar as peripécias que vivi naquele rendez-vous daria um livro inteiro. Só que a féria do livro não pagaria os calmantes para segurar a vontade de esganar uns e outros…

Voltando às eleições e à política brasileira (esta, outra patifaria e rendez-vous), até que trabalhar como mesário é tranqüilo. Eu reclamo que é uma chatice ficar com o bumbum quadrado de esperar o pessoal para votação, mas no fundo acho bacana a gente participar de alguma coisa cívica.

Eu também gosto de ficar vendo formiguinhas andando enfileiradas, então pode ter alguma coisa a ver.

Este ano mamãe e eu fomos fazer a tal da biometria. Eu não gosto nem um pouco dessa história de o governo, ou qualquer um, coletar meus dados biométricos. Darei um exemplo para explicar como penso. Você tem uma conta no banco e conseguem roubar sua senha. Você bloqueia a conta, muda a senha, problema resolvido. Você tem um cartão de crédito e conseguem clonar seu cartão. (Já aconteceu comigo. Três vezes. E, sim, no mesmo banco patife citado acima.) Eu pedi o bloqueio do cartão, mudei a senha, pedi segunda via do cartão, problema resolvido.

Você deu sua digital para o banco. Roubaram sua digital. Não tem segunda via. Acabou. Para o resto da sua vida sua informação personalíssima estará comprometida, pois sabe-se lá quem vai ter acesso a esse dado dali em diante? Por isso eu me recuso a dar meus dados biométricos para qualquer empresa. Hoje ela está com um dono, amanhã com outro… Funcionários vêm e vão… Eu não sinto segurança nenhuma nisso.

Agora responda: você crê ser seguro dar esse dado tão precioso para o governo? Nem me refiro ao governo brasileiro, refiro-me a qualquer governo no mundo. Será que, depois da Peste Chinesa e do caos que foi essa fase tão recente que escancarou a completa incompetência e prepotência de proto-ditadores, ninguém aprendeu nada?

Veja mais: Guia da pandemia: o vírus corona no Brasil e no mundo.

Seja como for, fui obrigado (por aquele cujo nome não pode ser pronunciado versão brazuca) a fornecer minha digital, foto de meu lindo rostinho, minha assinatura… Faltou só o exame de fezes. Alguns meses depois de esse recadastramento ter sido feito, fui recapturado para ser mesário. Recebida a carta intimidatória, aproveitei que a UERJ está mais uma vez em estado de greve e que hoje não teve expediente para ir lá resolver.

Mais um típico dia tranqüilo e pacífico em meu local de trabalho.

Levei toda a documentação, até crachá do emprego. Não precisou de nada além do número do título e tudo foi resolvido em menos de cinco minutos. A atendente conferiu meus dados, pediu para eu repetir o número de telefone cadastrado e me incluiu no grupo de zapzap da zona eleitoral. E eu pensando com meus botões: “é sério isso?”.

Veja mais: Por que eu odeio ter celular?

Minha aversão ao zapzap se deve a vários fatores, que podem ser conferidos no texto acima. Porém, à parte de minha repulsa pessoal, essa foi uma decisão administrativa que me incomodou. Pois não apenas centenas de números de telefone ficaram disponíveis para mim, como também o meu número de telefone ficou disponível para centenas de pessoas. É só clicar em “informações do grupo” que aparecem fotos e números de telefone de todo mundo.

Eu fiz os cursos sobre a nova Lei de Proteção de Dados Pessoais. Em meu entender, essa decisão administrativa resultou no vazamento de dados pessoais (número de telefone e foto). No meu caso, meu número de telefone já é exposto. Está em meu cartão de visita, que mamãe sai distribuindo para todo mundo que encontra por aí na esperança que alguém leia meus textos… |:^p

Mas e para quem quer ter privacidade? Imagine seu número privado sendo distribuído para um monte de gente que você não conhece! Eu achei isso muito estranho e também penso que isso pode ser problemático…

Voltando à história: fui lá, puseram meu número no zapzap deles (e dum monte de gente) e me liberaram. Na prática, fui para perguntarem de novo qual é meu número de telefone. Daí era só aguardar que as instruções para terminar o processo seriam enviadas pelo celular.

Assim, chegando a casa, tive de entrar no zapzap para descobrir onde pegar a tal “Carta de Convocação” (a oficial, não a intimidatória). Segui as instruções, mas não deu certo. Descobri então outro caminho para o tal do “Convoca-e“, o novo sistema eletrônico de convocação de mesários. Nesse terceiro sistema, dei meus dados de novo. Ó, raios, quantas bases de dados esse povo tem?

E, para minha jovial alegria e ditosa felicidade, o treinamento também tem que ser feito por “aplicativo”.

Agora é aguardar a ”festa da democracia” e cumprir minha obrigação cívica. Ou o juiz da comarca ler o que escrevi sobre as eleições. O que vier primeiro.


Editado 24/08/2024: apenas um adendo.

Você sabia que todos são iguais perante a lei? Exceto quando você tem prioridade para votar (ou para qualquer outra coisa).

No caso das eleições, votam primeiro os candidatos, os juízes e os promotores eleitorais (qualquer servidor da justiça eleitoral, na verdade). Mas os mesários são os últimos a votar. Somos arrebatados para o serviço “democrático”, mas só votamos se não tiver mais ninguém na fila, às vezes, só no final do dia.

A imagem do despreparo das forças armadas no Brasil

Conforme escrevi anteriormente, não faço mais postagens políticas. Logo, não escreverei aqui sobre as conseqüências políticas da decadência da imagem das forças armadas, em especial do Exército Brasileiro. Pontuo apenas que após os eventos de 2022 a credibilidade das forças armadas pela população foi gravemente abalada. Conforme é possível encontrar facilmente nas redes sociais, a perspectiva de muitas pessoas é a de que os mesmos que afirmaram defender a democracia, olvidaram o clamor popular e não vislumbraram óbice em se submeter a corruptos e a prestar continência a ditadores.

Essa é a opinião que vejo nos outros. A minha é que não estou nem aí. Por mim, tanto faz como tanto fez. Que me importa a política na caserna? Só o que me interessa agora é a farinha do meu pirão, o que inclui a segurança pública e, por derivação, minha segurança própria. E é sobre segurança que segue este texto.

Durante a tragédia no Rio Grande do Sul, que ora ameaça seguir para Santa Catarina, a atuação das forças armadas está se demonstrando insatisfatória (para dizer o mínimo). Excepto nos casos excepcionalmente excepcionais de autodidatas, um profissional somente é capaz de fazer aquilo para o qual ele foi previamente, adequadamente e efetivamente capacitado para fazer:

  • Um bom soldador precisa ter feito um bom curso de solda (preferencialmente no SENAI);
  • Um bom juiz precisa ter feito os cursos de magistratura (na EMERJ se aqui no Rio);
  • Um bom docente precisa ter feito os cursos de extensão no SENAC, como eu ( ͡° ͜ʖ ͡°);
  • Um bom dentista precisa ter feito uma boa faculdade;
  • Um bom pedreiro precisa ter feito um bom curso técnico.

Etc., etc., etc…. Isso vale para qualquer profissão. Mesmo durante o exercício profissional, o indivíduo precisa de formação continuada, atualizações, reciclagens. A gente nunca pára de se qualificar. E temos ciência de que o mesmo se dá no oficialato das forças armadas. Desde os cobiçadíssimos cursos na Escola Superior de Guerra, aos incontáveis cursos internos às suas divisões, os oficiais também têm ao seu dispor uma ampla possibilidade de capacitação.

Mas e os praças? Sabe, aqueles que irão de fato por mãos à obra (incluindo capinar um roçado ou pintar o meio-fio). Conforme o que estamos vendo nas redes sociais, os meninos não estão nem um pouco qualificados a executar as operações necessárias neste tempo de tragédia. Nós vemos os meninos totalmente desorientados, despreparados e desamparados no fronte.

Um profissional só pode dar o que tem. Se ele não teve instrução sobre o que fazer, como fazer, quando fazer, por que fazer, ele vai fazer o quê? Estamos vendo claramente que nossos soldados não foram preparados para lidar com situações de crise. Foram enviados às cegas para uma região devastada por uma catástrofe natural, com um tapinha nas costas e votos de ”se vira aí”.

Se não estamos preparados para lidar com uma crise civil, o que há de acontecer em caso de guerra? O Brasil vive uma situação de relativa tranqüilidade no cenário internacional local e há pouquíssima probabilidade de um conflito à distância. Não precisamos nos preocupar com a defesa nacional em larga escala, apenas com traficantes nas fronteiras ou nos portos. Isso nos deixa numa terrível posição de conforto, de acomodamento. O resultado disso se mostra na patética atuação do Exército no Rio Grande do Sul.

Os meninos não podem continuar sendo treinados com se estivéssemos no século passado. Marchar por horas, tiro de boca, ficar em pé no Sol e na chuva não formam ninguém, quando as tropas ordinárias de um país de dimensões continentais deveriam ser totalmente mecanizadas. E quanto aos adestramentos que realmente precisavam ter sido feitos? Salvamentos anfíbios, logística em terreno não mapeado, construções emergenciais, operação de material para comunicações analógicas e digitais off-grid. Cadê essas instruções?

Além da visível (e risível) desorganização das tropas, recebemos pelas redes sociais inúmeras denúncias de que os órgãos governamentais estão atrapalhando os resgates com bloqueio do trânsito de pessoas e veículos, recusa no recebimento e/ou distribuição de donativos, recusa em resgatar/transportar desabrigados, e a atuação da imprensa para acobertar a gravidade dessas denúncias. Tudo isso também pesa contra a credibilidade das forças armadas.

A imagem das tropas (que já estava ruim) desabou:

“— O Exército está esperando as águas baixarem para poderem fazer seu trabalho: capinar o roçado e repintar o meio-fio.”.
“— Do jeito que está, seria melhor terem mandado os escoteiros.”
“— Mas teve barco da Marinha para o espetáculo de vulgaridades da Madonna.”

Nossos meninos não mereciam isso.

Editado em 02/06/2024: Encontrei hoje este vídeo. Sugiro ver no Youtube e ler os comentários.
O EXERCITO BRASILEIRO ACABOU DE VEZ | COBRA – SOBREVIVENTE BRASILEIRO | COPCAST

Cultura japonesa – Lado B

Editado em 19/11/2024: adicionado vídeo ao final.

Saudações, meu caro gaijin. Esta é a segunda parte em que falo sobre a cultura japonesa de um modo geral. Na primeira parte, falei sobre as coisas que admiro na sociedade japonesa e exemplifiquei com alguns vídeos. Admiro o sentimento de ”pertencimento” (fazer parte de) a um corpo social, o que leva a um senso de responsabilidade e cooperação mútuo entre as pessoas.1 Admiro o respeito, a modéstia, a ordem. Porém, conforme escrevi, passando o tempo a gente vê que as coisas não são tão boas assim. Afinal, o que o Japão teria de ruim?

Os japoneses sabem bem onde seus próprios sapatos apertam. Não pretendo falar sob o ponto de vista japonês. Primeiro, porque não sou japonês; segundo, porque não estou lá. Só posso falar a partir da perspectiva de um estrangeiro. Já aí começam os problemas.

Você é um estrangeiro (gaijin)? Então você sempre será um gaijin. Você jamais será considerado um japonês, mesmo se naturalizando. Não interessa se você mora no Japão há cinqüenta anos, se seu japonês é fluente por ser professor de japonês e cultura japonesa, se sua esposa é japonesa, se seus filhos são japoneses. Você é um estrangeiro, sua mulher é aquela ”casada com um estrangeiro”, seu filho é aquele ”filho do estrangeiro”. Por mais que hoje em dia as coisas sejam muito mais brandas do que eram cem anos atrás, e que os jovens sejam muito mais receptivos, japoneses são ”veladamente xenofóbicos”.

Não interprete mal: os japoneses são bastante hospitaleiros e tratam muito bem os estrangeiros, desde que estes adiram à sua cultura. Você pode viver uma vida maravilhosa por lá seguindo as regras locais, embora no recôndito do nativo você sempre seja visto como um estrangeiro. É completamente diferente do Brasil, país formado pela mistura de gente de todas as partes do mundo. Por aqui, sabendo falar português do Brasil sem sotaque, não tem como saber se o sujeito é estrangeiro ou não. Mas o Japão é um país bastante homogêneo e salta à vista se você vem de fora. Não se esqueça de que o Japão é um arquipélago relativamente isolado no Oceano Pacífico.

Outra coisa que mencionei (duas vezes) no parágrafo acima é a adequação às normas locais. O modo de vida japonês, as relações sociais e o que se espera de você são bem definidos (embora inexplícitos). É extremamente deselegante querer impor seu modo de vida estrangeiro por lá. Eles não têm tolerância alguma com quem quer burlar as regras a todos impostas. Se você se comportar mal, principalmente em espaço público, não se assuste se alguém chamar a polícia para te deter por um ”pequeno desvio” como chamaríamos por aqui no Brasil. Se você vai para o Japão, vai ter que viver em público como um japonês. Ou então nem vá.

Os princípios básicos de boa educação, como não furar fila, manter-se do lado na escada rolante para que outra pessoa passe ao seu lado, colocar o lixo no bolso até encontrar uma lixeira, não falar alto ou tocar rádio no transporte público, cumprimentar respeitosamente quem lhe presta serviço, não se vestir como um mondrongo, todas essas coisas que não vemos no Brasil são o mínimo esperado do seu comportamento no Japão. Japoneses não gostam de pessoas rudes e são bem sensíveis quanto a isso.

Essa formalidade (que se apresenta até mesmo no idioma) cria uma certa barreira cultural, pois muitas coisas que consideramos normais, como abraçar, podem ser consideradas rudes dependendo do contexto. E você acaba ofendendo o nativo sem querer.

Outra coisa que o brasileiro faz é contar vantagem. É o mecânico de Chevette que diz saber consertar até avião a jato, ou o pedreirista que se mete a levantar prédio. Além disso ser muito mal visto, também vai lhe colocar em encrencas. Japoneses não têm esse péssimo hábito de dizer serem mais do que são, pelo contrário, tendem a se diminuir. Exemplifico: digamos que você faça pintura de quadros artísticos; quando perguntado como é o seu trabalho, você, por educação, deve responder que é mediano; assim, quando seu trabalho for apresentado, o cliente poderá se admirar com sua habilidade e com a obra. Se você disser que é um bom pintor, além de ser considerado bastante arrogante, o cliente realmente esperará uma obra-prima e você não será capaz de atender à expectativa dele.

Isso mesmo: se você disser que é bom em algo, japoneses esperam que você seja realmente muito bom naquilo. E você vai ter que mostrar serviço. Se no currículo você disser que seu japonês é bom, vai ter que ser realmente muito bom. Business level? Vai ter que ler e interpretar correspondência administrativa e contábil logo no primeiro dia. Fluency? Ai de ti se não entender o cliente com dialeto de outra ilha. Eles não aceitam quem conta vantagem e, se descobrirem que mentiu no seu currículo, você pode perder o emprego na hora. Nunca se vanglorie por lá e conheça o seu lugar.

Uma terceira coisa, falando mais a fundo sobre trabalho, é que o modo como o japonês lida com sua profissão é totalmente diferente do que fazemos por aqui. Por lá, seu trabalho não é uma extensão de sua vida, um adendo, ou uma coisa que você faz para sobreviver ou ganhar dinheiro. Ele é parte integrante de sua vida, é o que te define como membro da sociedade japonesa. Todo trabalho é valorizado e respeitado. Claro que quanto mais alta for sua posição na hierarquia econômica, mais bem visto você é. Mas do faxineiro ao deputado, todos têm um trabalho a realizar como parte do todo. Seu trabalho não é só para você, é para todos ao seu entorno. Se você faltar com suas obrigações, outra pessoa terá que assumir a carga por si.

Aquela noção de pertencimento de que falei faz parte de toda a estrutura social, incluindo o trabalho empresarial. No Japão, trabalhar numa empresa é fazer parte de um time. Não há espaço para individualidade. Você precisa estar sempre se comunicando, sempre participando da interdependência coletiva. Num país como o Brasil, onde só quem marca gol é ovacionado, isto é, em que membros da mesma equipe disputam picuinhas entre si, a cultura japonesa de ajuda mútua entre membros é um conceito alienígena. Apesar de parecer muito bom, isso tem um problema grave.

É a partir daí que surge o grande problema com as horas extras no Japão. O dia de trabalho termina quando a tarefa do dia termina, não quando o relógio marca a saída. Não são incomuns 12h, 14h, 18h de jornada de trabalho. Não é um ”extra”. É o que se espera de você. Isso é um problema gravíssimo no Japão. Muitas pessoas adoecem estafadas pela excessiva carga de trabalho. Burnout, depressão e suicídios. A expectativa e a cobrança são constantes e muita gente não consegue lidar com a pressão contínua que sofre diariamente. Sem férias, sem descansos, as poucas exceções são eventos como casamentos ou funerais. É comum dormir no local de trabalho por pura exaustão. Mortes acarretadas por excesso de trabalho não são incomuns.

Cronogramas e horários são obedecidos rigorosamente. Não se toleram atrasos de qualquer tipo, não há flexibilização. E o serviço deve ser bem realizado. Ou seja, o velho jeitinho brasileiro de postergar as coisas para a última hora e entregar um serviço medíocre é inaceitável. Se você disse que conseguiria levantar um muro em cinco dias, no quinto dia o muro tem que estar pronto e bem feito. Se não puder cumprir o prazo acordado, tivesse dado outro prazo.

Essa inflexibilidade japonesa frente às normas sociais é a principal causa dos problemas da sociedade japonesa. Espera-se que as pessoas cumpram determinados papéis e aqueles que não conseguem se adaptar a essa rigidez são ostracizados. Esse é o resultado do somatório de todas as coisas sobre que discorri até agora.

  1. Japoneses têm uma visão de mundo que coloca o coletivo acima do particular;
  2. Preocupam-se mais com não dar trabalho aos outros do que com a carga que isso impõe sobre si mesmos;
  3. Dão mais valor à sua imagem social do que aos próprios sentimentos;
  4. Vivem em altíssima competitividade, não aceitando que o trabalho não tenha sido feito da melhor forma possível;
  5. Aqueles que não pensam dessa forma são ostracizados pelo coletivo, que não aceita o individualismo de livres pensadores.

Apenas o melhor, somente o melhor, o tempo todo, em tudo o que faz. Você tem que ser o melhor aluno da escola. Tem que passar no vestibular (Sentā Shiken) na primeira tentativa. Tem que entregar o melhor trabalho na empresa. Tem que ser o melhor artesão. Tem que ser o melhor artista. Tem que ser. E ainda tem que dizer que não é tão bom assim. E se não quiser pensar e agir assim, é ridicularizado, zombado, excluído e tratado como um perdedor. O resultado é uma sociedade doente. Uma de minhas postagens com certa procura é sobre os fenômenos hikikomori, kodokushi e manboo.

Hikikomori são os eremitas urbanos. Pessoas que se recusam a estudar e trabalhar, e passam a vida dentro de suas casas ou dentro de seus quartos em casos mais graves. Com a facilidade de fazer compras com entrega domiciliar, elas não precisam sair para nada. Essas pessoas são muitas vezes sustentadas por seus pais idosos aposentados. São pessoas que optaram por apartarem-se da sociedade. Os motivos são os mais diversos: uma decepção amorosa, não passar para a faculdade, perda de emprego. Em todos os casos, são aqueles que não conseguiram suportar a pressão da rígida e estrita sociedade japonesa e, numa ação de fuga, isolaram-se do mundo que os cerca.

Kodokushi é o fenômeno da morte solitária. Esse distanciamento afetivo de si mesmo e dos outros que a sociedade japonesa impõe com um sem número de regras de etiqueta e papéis esperados do indivíduo associados ao envelhecimento populacional faz com que pessoas idosas em cada vez maior número passem a morar sozinhas. São famílias que se afastam. São pais não querem dar trabalho aos filhos. São viúvos sem parentes. São pessoas que vivem sozinhas em suas casas até o último de seus dias, quando morrem vítimas de quedas ou de infartos, por exemplo. Com as contas sendo pagas no débito automático e recebendo suas pensões, ninguém, nem mesmo os vizinhos, dá falta delas. Passam-se semanas ou meses até que descubram o corpo já decomposto no chão de seus apartamentos ou pequenas casas.

Manboo é o fenômeno dos sem-teto que se abrigam em lan-houses (cyber cafes). Pessoas que pelos mais diversos motivos não têm onde morar e optam por alugar um computador numa lan-house para não terem que passar a noite nas ruas. No Japão, os computadores são ofertados nessas casas de forma individual, em cubículos de 2 metros quadrados. Ali os desabrigados podem pernoitar, deixar suas coisas durante o dia e usar o banheiro coletivo. Podem ser pessoas que têm muita vergonha da situação por que estão passando e não querem que suas famílias saibam. Podem ser jovens que fugiram de casa. Podem ser idosos que perderam tudo e não têm outro lugar para onde ir. Ou pode ser uma decisão pensada por conta da crise econômica japonesa.

Embora fugindo do escopo deste texto, creio ser importante registrar que a economia japonesa está horrível. Trabalha-se muito, mas os salários são baixos. O desemprego formal aumenta, com pessoas dependendo de empregos temporários de um ou dois dias. Há ainda uma grave crise habitacional. O preço dos aluguéis é impagável e o número de sem-teto está aumentando. Por vezes, a vida no manboo acaba sendo uma decisão necessária para sobreviver. Isso também pesa no psicológico das pessoas.

Não é à toa que a densidade demográfica da população japonesa encontra-se em queda livre. Quem em sã consciência teria filhos num lugar onde se vive para trabalhar; para atender às expectativas dos outros, alijando-se de si mesmo uma vida inteira; para no final morrer sozinho e esquecido num quarto de 3 metros quadrados? É muito bonitinho ver o Japão pela lente do guia turístico: casinhas bem ajeitadas, pessoas bem educadas, tudo bem limpinho, desenhos animados, artesanato, artes marciais. Enquanto isso, apenas o bosque de Aokihagara registra pelo menos 100 suicídios por ano.

Buda ensina que o caminho do meio é a chave para a felicidade. Se a permissividade brasileira é ruim, a austeridade japonesa também o é. É sim possível ter uma vida muito boa no Japão. Só é mais difícil se você for japonês…

Placa suplicando aos visitantes de Aokihagara que estejam pensando em cometer suicídio, que não se matem e que procurem ajuda.

Isolamento no Japão: A Crise de uma Sociedade Solitária | Japão No Asfalto

Neste vídeo, exploramos a crescente crise de isolamento social no Japão, um fenômeno que afeta milhares de pessoas e está intrinsecamente ligado a fatores culturais e sociais. Vamos abordar as causas dessa solidão, incluindo o hikikomori (isolamento extremo em casa), pressões sociais, a cultura de trabalho intensa e as conseqüências psicológicas para a saúde mental. O vídeo examina como essa crise molda a vida cotidiana dos japoneses e analisa as iniciativas e esforços para combater a solidão em uma sociedade que valoriza a reserva e o autocontrole. Descubra as histórias por trás dessa realidade e como o Japão está lidando com essa epidemia silenciosa.


  1. Sentimento é algo mais subjetivo. Senso é algo mais racionalizado. 

Cultura japonesa – Lado A

Eu, assim como muitos e muitos brasileiros, admiro a cultura japonesa. Recordo-me de quando era menino e queria emigrar para o Japão. Até mesmo fui ao consulado algumas vezes quando adolescente para saber como era o ingresso em faculdade por lá. Não tive ainda a oportunidade de aprender adequadamente soroban, go ou nihongo, embora tenha noções rudimentares sobre essas coisas. Não tenho interesse no Japão por ser uma ”cultura exótica”, mas pela forma como seu povo se organiza. A boa educação das pessoas, o respeito à comunidade, a preservação dos espaços públicos sempre me cativaram. Mas será que a vida no Japão é tão boa assim?

Conforme os anos passaram e para lá não fui, observei também certas características que comumente passam despercebidas. Nesta primeira postagem, eu compartilho vídeos que falam das coisas boas relacionadas com a cultura e a vivência japonesa, exatamente aquilo que nos faz admirar o povo japonês.

O primeiro vídeo trata do assunto mais importante em voga na discussão da sociedade brasileira hodierna: a violência. Urbana ou rural, a violência é o principal assunto do dia-a-dia brasileiro. Temos uma quantidade muito grande de homicídios (boa parte deles jamais resolvida), furtos e assaltos, estupros e seqüestros. Mesmo considerando a imensa geografia e as disparidades demográficas, os números estão muito acima comparativamente a outras nações, mesmo as em nível de desenvolvimento similar.

Num país em que a criminalidade compensa (e compensa muito bem), e em que somos estimulados a não cumprir as regras sociais, sejam elas quais forem, o errado está certo e o certo está errado. É possível uma pátria prosperar quando seus filhos carecem de civilidade? De cidadania? Em que não é incomum haver seqüestro seguido de estupro e latrocínio? Vivemos sob a sombra constante da violência num país onde o homem ao lado é mais perigoso do que os grandes desastres naturais. Perigoso enquanto indivíduo, referindo-me aos casos de violência direta; e perigoso enquanto coletivo, referindo-me ao descaso frente a Brumadinho, a Mariana, a Maceió…

Nisso o Japão demonstra ser muito superior ao Brasil. A população japonesa é estimulada desde a mais tenra infância não apenas a ser honesta, mas também a repudiar a desonestidade. É estimulada a viver em comunidade (real), a se importar com o bem-estar de seus semelhantes. Conforme exemplificado nos vídeos seguintes, é o somatório de vários níveis de educação que forma o modo de viver japonês.

No primeiro vídeo, o autor fala sobre o funcionamento das associações de moradores japoneses. São os próprios moradores que se organizam e resolvem os assuntos pertinentes à sua localidade, sem depender (ou esperar a boa vontade) da prefeitura. O exercício direto da cidadania, sem intermediários, sem delegação de problemas a outrem demonstra ser muito mais eficiente do que o modelo brasileiro, no qual ansiosamente espera-se que o outro resolva as coisas por nós. (Vide: Edições Independentes). Recordo-me da época em que estudei kung fu por um curto período de tempo. Uma das atividades de todos os participantes era cuidar da manutenção do local de treino. Pintura, conserto de cadeiras, essas coisas. O motivo pelo qual se pedia para fazer isso é porque se você pinta a parede, não vai colocar o pé nela e sujá-la depois. Se você lava o banheiro, não vai sujar depois. Se você varre o chão, não vai sujar depois. Você preserva aquilo que lhe dá trabalho para cuidar. O senso de cooperação entre os membros e também o de fiscalização mútua são cultivados no dia-a-dia.

Isso é visto nas escolas japonesas, onde são as crianças as responsáveis pela limpeza, por fazer a comida, por organizar as coisas. Esse senso de preservar aquilo que é usado conjuntamente pela comunidade inexiste no Brasil. Eu trabalho na UERJ e vi o trabalhão que deu fazer a reforma de todos os banheiros da universidade. Gastaram-se rios de dinheiro e meses de trabalho para deixar tudo em novíssimo (e até luxuoso) estado. Em menos de duas semanas (duas semanas), todos os banheiros utilizados pelos alunos já estavam quebrados. Até sifão de pia roubaram.

Vivo numa sociedade em que o vizinho de cima varre sua varanda jogando a sujeira no quintal do vizinho de baixo. Em que importa apenas ter a vantagem nas coisas; não ser prejudicado; ser mais esperto. Como esperar cidadania e paz social, se é normal jogar sujeira pela janela do ônibus? Como esperar lisura administrativa nos altos escalões do governo, se é normal furar fila? Como esperar ruas limpas, se quem suja não é obrigado a limpar?

Como seria se adotássemos o modelo de associação de bairro no Brasil? (Se os alunos fossem obrigados a reparar os banheiros, estes ainda estariam inteiros.)

O terceiro vídeo que selecionei retorna ao tema da violência, mas o observando pela perspectiva do senso de comunidade visto no segundo. Eu discordo do autor do vídeo quando ele refuta a tese de que ”os japoneses são mais honestos do que os brasileiros”. Eu acredito que sim, que eles são. Compreendo o que ele quis dizer, que é o contexto social que leva as pessoas a serem desonestas, que é a cultura em que se está inserido que estimula certos comportamentos. Mas meu avô sofreu golpe financeiro, carregou estrume, viveu mal, e não virou bandido. Quem lutou contra a escravidão nasceu numa sociedade escravocrata. Quem lutou pela independência, nasceu numa sociedade conquistada. Índole é algo, em meu entender, inato. Tanto para o bem quanto para o mal. Se o sujeito tem uma índole ruim, ele vai fazer o mal de acordo com suas forças. Se for ignorante, tentará assaltos; se for instruído, tentará estelionatos. E me parece ser da natureza do japonês ser mais honesto do que o brasileiro, pois que, mesmo havendo criminosos no Japão, seu número é desproporcionalmente muito menor.

Os tópicos apresentados neste terceiro vídeo sobre as principais características do sistema japonês são os seguintes:

  • o sistema penal japonês não é ”reeducativo” (como no Brasil): é um sistema punitivo: criminosos são punidos por seus delitos;
  • há prisão perpétua e, nos casos extremos, pena capital;
  • o japonês confia em seu sistema judiciário (você confia na justiça do Brasil?);
  • as conseqüências da punição se estendem à família do criminoso;
  • absoluta intolerância à criminalidade, mesmo pequenos delitos;
  • alta taxa de resolução de crimes;
  • denúncias são estimuladas no Japão, enquanto que no Brasil são mal vistas;
  • pessoas são recompensadas por sua honestidade.

Parece tudo ser muito bom, não é? Nesta primeira parte falei sobre aquilo que o Japão faz muito melhor do que o Brasil. Já na próxima postagem, pretendo escrever sobre o que não é tão bom assim.

É MAIS PERIGOSO MORRER EM UM TERREMOTO NO JAPÃO, OU PELA VIOLÊNCIA NO BRASIL? | Viva o Japão!

POR QUE O JAPÃO É TÃO LIMPO? O BRASIL PODE SER ASSIM UM DIA? ENTENDA | Viva o Japão!

JAPONESES SÃO MAIS HONESTOS QUE O BRASILEIROS? O QUE O JAPÃO TEM A ENSINAR O BRASIL? ENTENDA | Viva o Japão!

Brasileiro tem orgulho da própria burrice

Este meu website aparenta estar parado há alguns meses. Não tenho feito postagens novas desde outubro de 2023 e isso pode dar a impressão de que o abandonei. Não é o caso. Diariamente eu entro na página de administração para ver como estão indo as postagens, quantas pessoas visualizaram meu trabalho etc. Não tenho postado nada recentemente pelo simples fato de estar enfastiado.

Estou completamente enfastiado com a sociedade em que me encontro. Masoquistamente assisto excertos de podcasts sobre as relações humanas e políticas atuais, para os quais perco as últimas centelhas de esperança que nem ao menos sabia que ainda possuía. Vejo uma sociedade superficial de pessoas superficiais. As pessoas não sabem mais se expressar, não sabem comunicar suas idéias, e muitas vezes nem idéias próprias têm.

Vez ou outra sinto vontade de também gravar vídeos e expor minha opinião (e meus argumentos) ao mundo, mas encontro duas barreiras. A primeira é minha habilidade de me expressar verbalmente, que é praticamente inexistente. Diferentemente do dom da escrita que tenho, ao qual não tenho o menor pudor de enaltecê-lo, ou falsa modéstia para menoscabá-lo, minha habilidade com a palavra oral é pífia. Da dicção à formação e coesão de idéias, parece-me que não há uma boa conexão entre meu cérebro e o aparelho fonador.

A segunda barreira é o alcance inexistente. Como escrevi parágrafos acima, vejo diariamente qual é o alcance do meu trabalho e ele é praticamente nulo. Ora, se escrevendo bem não tenho impacto na sociedade, imagine falando mal? Eu continuo filosofando e estou cozinhando um texto já há algum tempo, apenas esperando o momento certo de inspiração.

Então, em lugar de tentar falar mais do mesmo, deixo o serviço para outras pessoas mais dotadas (e cultas) do que eu. Segue vídeo de Débora Luciano, de um canal especializado em literatura.

Brasileiro tem orgulho da própria burrice | Olá Bocós