
Minha história com telemóveis é consideravelmente simples. Quando eu me tornei adolescente, minha tia me deu um telefone celular. Embora minha percepção foi de que a intenção tenha sido mais para meus familiares saberem onde eu estava, serviria para eu levar para a escola e ”ligar para quem eu quisesse”.
Inútil, pois nunca tive vida social. Da escola para casa, da casa para a escola, a única vez em que usei o tal telefone foi quando me perdi de colegas numa rara aparição num centro comercial e liguei para saber onde estavam. (logo acima, Tiago Caridade descendo a escada… |:^/) Ou seja, sem vida social, não tenho para quem ligar. E sem ter para quem ligar, o tal telefone foi acumulando créditos. Acumulando, acumulando. A Telefônica ainda não havia mudado o nome para Vivo e R$ 600,00 à época era bastante dinheiro. Acontece que o prazo para colocar mais créditos havia expirado por apenas um dia (literalmente, apenas 1 dia) e todo aquele meu crédito foi surrupiado. Telefonei para a operadora e foi-me informado que nada poderia ser feito. E ainda paguei pela ligação.
Decidi então usar até o último centavo daquela última recarga, ligando, enviando torpedos (caríssimos) e até acessando a internet da época naquele meu tijolinho Nokia. Encerrada a conta com alguns centavos que não permitiam novas ligações, meu primeiro telefone foi placidamente aposentado com praticamente nenhum uso.

Alguns anos depois, já em meu primeiro emprego, cursando faculdade, continuava sem celular. Isso mesmo, caro leitor. Faculdade sem celular. Nunca me fez falta, apesar de ser muitíssimo criticado pelas pessoas:
— Ain, como você faz para falar com as pessoas?
— E eu não estou falando com você?
— Ain, estou falando de ligar! Como as pessoas entram em contato com você?
— Eu não tenho que estar à disposição dos outros quando acharem mais conveniente. Se quiser, mande um e-mail.
E, com esse passa-fora, desviava-me de intrometidos. (Sempre tem quem acha que pode regular a vida dos outros…) No trabalho, disseram que eu precisaria ter um celular. E cortei o assunto imediatamente: ”se o empregador exige de mim que eu tenha uma linha telefônica para o trabalho, deve pagar pelo aparelho e pelos custos”. Nunca mais pediram meu número. Quanto aos colegas de faculdade, sempre que precisaram, me encontraram por e-mail. E quando passei a trabalhar na UERJ, bastava esperar o horário do meu expediente acabar.
Assim foi a primeira parte de minha vida adulta até o inesperado falecimento de minha tia. Minha mãe achou por bem passar a linha para o meu nome, o que foi uma saga por si só. Após incontáveis idas até a loja física, meses de espera, entrega de documentos, de certidão de óbito, de alvará, não queriam trocar a titularidade da linha porque não apresentamos o documento de identidade da falecida. Um absurdo. Somente após reclamar com a Anatel, recebi telefonema da Claro para passar a linha para meu nome, o que foi feito em 15 minutos. Durante todos aqueles meses, recebemos todo tipo de ligação procurando minha falecida tia…
O celular dela já era velhinho. As teclas já não funcionavam direito, mas dava para receber ligações. Até o dia em que ele pifou de vez e precisei comprar outro aparelho. Trocar o chip de aparelho foi um custo, é tudo muito pequeno, quase microscópico! Nunca mais o abri desde então. Não andamos com ele na rua. Ele fica em casa, sobre a mesa, tal como um telefone fixo, e é usado como tal. Se for para rua, só dentro da bolsa, pois já foi perdido e felizmente o taxista nos devolveu.
Continuo mantendo essa linha pré-paga e continuo detestando a idéia de ter celular. Mantenho o número porque é inviável viver contemporaneamente sem telecomunicações, embora considere que a melhor forma de me comunicar continue sendo via internet. Falando nisso, as pessoas também não entendem que não tenho internet banda larga, e que isso não me faz falta. Eu uso modem 3G espetado no computador. E essa linha 3G por si só já me deu muita, muita, muita, muita irritação.

Antes de começar a ladainha, preciso informar ao caro leitor que em minha rua não passa cabeamento de banda larga (direito). Até passa, mas toda hora roubam os cabos e levam dias para arrumar. Acaba tendo mais dias sem conexão do que dias conectado. A não ser na favela ao lado, onde o gatonet funciona perfeitamente. Ainda assim tentei contratar, porém nos lograram aqui em casa. A linha durou apenas um dia e foi cancelada. Eu não aceito fazer contrato com empresa que considero inidônea. Antes e após esse episódio, eu passei por todas (todas) as operadoras com modems 3G. Uma pior que a outra. Ao menos agora acertei com a Claro que, apesar de ficar toda hora infernizando, oferecendo um monte de inutilidades, só me filou R$ 10,00 porque minha mãe errou qual botão apertar no celular.
Isso conclui minha experiência com telefones. Eu realmente não gosto de usar ou falar ao telefone, só uso quando há algum problema, e parte dos problemas foi criada pelas próprias operadoras. Invariavelmente quando o telefone toca, nunca penso que é algo de bom.
Agora que o mundo está se informatizando vorazmente, praticamente todo mundo hoje tem um computadorzinho de mão (alguns melhores até que meu Laptop). Só que esse aparelho não tem maior serventia para mim. Eu vivo tranqüilamente, sem a menor necessidade de ter um smartphone. Essa não é uma necessidade real, essa é uma necessidade criada, inventada. E o que me deixa fulo da vida, e motivo para desabafar escrevendo, é que agora querem exigir que eu tenha ”aplicativo”. Querem exigir que eu compre um smartphone. Pouco a pouco estão removendo a opção de resolver pelo computador, passando as coisas para o raio do smartphone.
Eu não tenho zapzap. Eu não quero ter zapzap. E a porra da farmácia insiste que eu mande a receita por zapzap. É no mercado: “tem aplicativo?”. É na lojinha: “tem aplicativo?”. É no banco: “tem aplicativo?”. É pela internet: “tem aplicativo?”. Pega essa porra de aplicativo e enfia no fundo do olho do teu cu.
E adivinha qual é a empresa que está me aborrecendo desta vez? Aquela mesma inidônea que logrou minha mãe: contratei porque usa outro nome fantasia… Exigem que eu faça uma operação de que preciso por smartphone. FDP.
Hoje estou furioso. Escuse-me a catarse.