Formação e ação docentes – A quarta revolução tecnológica (02)

TEDxMaastricht – Luciano Floridi – “The fourth technological revolution” | TEDx Talks

Quem somos nós? E qual é o nosso papel no universo? A tecnologia da informação está mudando radicalmente não apenas a forma como lidamos com o mundo e o compreendemos, ou interagimos uns com os outros, mas também como olhamos para nós mesmos e entendemos nossa própria existência e responsabilidades. O professor de filosofia Floridi ( @Floridi ) vai falar sobre o impacto da tecnologia da informação em nossas vidas e em nosso autoconhecimento; ele nos levará ao longo da revolução copernicana, da revolução darwiniana, da revolução freudiana até a revolução de Turing: um mundo de informações em um ambiente global feito, em última instância, de informação. Floridi falará sobre a expansão de nossa abordagem ecológica e ética para as realidades naturais e artificiais, a fim de lidar com sucesso com os novos desafios morais impostos pela tecnologia da informação.

Como Lutero derrubou o monopólio da fé cristã?

Lutero, o monge católico que abriu portas para surgimento de igrejas evangélicas | BBC News Brasil
Incomodado com o monopólio da fé que a Igreja Católica detinha, sobretudo com a mercantilização de indulgências, Martinho Lutero, acadêmico respeitado e influente do século 16, abriu as portas para outras vertentes do cristianismo. Ouça áudio de reportagem de Edison Veiga.

Formação e ação docentes – Tradução de “O Manifesto Onlife” PTBR (01)

O MANIFESTO ONLIFE
Sendo humano em uma era hiperconectada
Luciano Floridi et all.

Em termos de uma visão geral do conteúdo do livro, nas próximas páginas argumentamos que o desenvolvimento e uso generalizado das TICs estão tendo um impacto radical na condição humana. Mais especificamente, acreditamos […] que as TICs não são meras ferramentas, mas sim forças ambientais que estão afetando cada vez mais:

  1. nossa autoconcepção (quem somos);
  2. nossas interações mútuas (como nos socializamos);
  3. nossa concepção de realidade (nossa metafísica); e
  4. nossas interações com a realidade (nossa agência).

Em cada caso, as TICs têm uma enorme importância ética, legal e política, mas com a qual começamos a lidar apenas recentemente.

Também estamos convencidos de que o impacto mencionado exercido pelas TICs se deve a pelo menos quatro transformações principais:

a. o borrão da distinção entre realidade e virtualidade;
b. o borrão da distinção entre humano, máquina e natureza;
c. a inversão da escassez de informações para a abundância de informações; e
d. a mudança da primazia das coisas autônomas, propriedades e relações binárias, para a primazia das interações, processos e redes.

O impacto resumido em (1) –(4) e as transformações por trás desse impacto, listadas em (a)–(d), estão testando as bases de nossa filosofia, no seguinte sentido. Nossa percepção e compreensão das realidades que nos cercam são necessariamente mediadas por conceitos. Eles funcionam como interfaces através das quais experimentamos, interagimos e semanticamos (no sentido de dar sentido e significado), o mundo. Em resumo, compreendemos a realidade por meio de conceitos, então, quando a realidade muda muito rapidamente e dramaticamente, como está acontecendo hoje em dia por causa das TICs, estamos conceitualmente em desvantagem. É uma impressão generalizada que nossa caixa de ferramentas conceituais atual não está mais adequada para enfrentar os novos desafios relacionados às TICs. Isso não é apenas um problema em si. É também um risco, porque a falta de uma compreensão conceitual clara de nosso tempo presente pode facilmente levar a projeções negativas sobre o futuro: tememos e rejeitamos o que não conseguimos dar significado. O objetivo do Manifesto e do restante do livro que contextualiza, portanto, é contribuir para a atualização de nosso quadro conceitual. É um objetivo construtivo. Não pretendemos incentivar uma filosofia de desconfiança. Pelo contrário, este livro pretende ser uma contribuição positiva para repensar a filosofia sobre a qual as políticas são construídas em um mundo hiperconectado, para que possamos ter uma chance melhor de entender nossos problemas relacionados às TICs e resolvê-los satisfatoriamente. Redesenhar ou reengenhar nossas hermenêuticas, para colocar de forma mais dramática, parece ser essencial, a fim de ter uma boa chance de entender e lidar com as transformações em (a) – (d) e, portanto, moldar da melhor maneira as novidades em (1) – (4). É claramente uma tarefa enorme e ambiciosa, para a qual este livro só pode aspirar a contribuir.

Texto completo (em inglês): 0004 Onlife Manifesto


Fonte: https://link.springer.com/content/pdf/10.1007/978-3-319-04093-6.pdf


Tradução (feita automaticamente) do manifesto:

O Manifesto Onlife

A implantação das tecnologias da informação e comunicação (TICs) e sua adoção pela sociedade afetam radicalmente a condição humana, na medida em que modifica nossos relacionamentos conosco, com os outros e com o mundo. A cada vez mais crescente onipresença das TICs abala os quadros de referência estabelecidos por meio das seguintes transformações:

  1. o borrão da distinção entre realidade e virtualidade;
  2. o borrão das distinções entre humano, máquina e natureza;
  3. a inversão da escassez de informações para a abundância de informações; e
  4. a mudança do primado das entidades para o primado das interações.

O mundo é apreendido pelas mentes humanas por meio de conceitos: a percepção é necessariamente mediada por conceitos, como se fossem as interfaces pelas quais a realidade é experimentada e interpretada. Os conceitos fornecem uma compreensão das realidades circundantes e um meio de apreendê-las. No entanto, a caixa de ferramentas conceituais atual não está adequada para lidar com os novos desafios relacionados às TICs e leva a projeções negativas sobre o futuro: tememos e rejeitamos o que não conseguimos compreender e dar significado. A fim de reconhecer essa inadequação e explorar outras conceptualizações, um grupo de 15 estudiosos em antropologia, ciência cognitiva, ciência da computação, engenharia, direito, neurociência, filosofia, ciência política, psicologia e sociologia instigou a Iniciativa Onlife, um exercício coletivo de pensamento para explorar as conseqüências relevantes para políticas dessas mudanças. Esse exercício de reengenharia conceitual busca inspirar reflexão sobre o que acontece conosco e repensar o futuro com maior confiança. Este manifesto tem como objetivo lançar um debate aberto sobre os impactos da era computacional nos espaços públicos, na política e nas expectativas da sociedade em relação à formulação de políticas no âmbito da Agenda Digital para a Europa. Mais amplamente, este manifesto tem como objetivo iniciar uma reflexão sobre como um mundo hiperconectado exige repensar os quadros referenciais sobre os quais as políticas são construídas. Isso é apenas o começo…

1 Game Over para a Modernidade?

Idéias que prejudicam a capacidade de formulação de políticas para enfrentar os desafios de uma era hiperconectada

  • 1.1 A filosofia e a literatura há muito tempo desafiaram e revisaram algumas das suposições fundamentais da modernidade. No entanto, os conceitos políticos, sociais, jurídicos, científicos e econômicos e as narrativas relacionadas à formulação de políticas ainda estão profundamente ancorados em suposições questionáveis da modernidade. De fato, a modernidade tem sido uma jornada agradável para alguns ou muitos, e tem dado frutos múltiplos e grandes em todas as áreas da vida. Ela também teve seus lados negativos. Independentemente desses debates, nossa visão é que as restrições e possibilidades da era computacional desafiam profundamente algumas das suposições da modernidade.
  • 1.2 A modernidade foi um momento de relação tensa entre humanos e natureza, caracterizado pela busca humana por desvendar os segredos da natureza, ao mesmo tempo em que considera a natureza como um reservatório passivo e infinito. O progresso foi a utopia central, acompanhada pela busca por uma postura onisciente e onipotente. (Por postura, queremos dizer a noção dual de posição e de se fazer ver ocupando uma posição.) Os avanços no conhecimento científico (termodinâmica, eletromagnetismo, química, fisiologia, etc.) trouxeram uma lista interminável de novos artefatos em todos os setores da vida. Apesar da conexão profunda entre artefatos e natureza, ainda se presume uma suposta divisão entre artefatos tecnológicos e natureza. O desenvolvimento e a implantação de TICs contribuíram enormemente para borrar essa distinção, a ponto de continuar a usá-la como se ainda fosse operacional ser ilusório e se tornar contraproducente.
  • 1.3 A racionalidade e a razão desencorporadas foram atributos especificamente modernos dos humanos, tornando-os distintos dos animais. Como resultado, a ética era uma questão de sujeitos autônomos, racionais e desencorporados, e não uma questão de seres sociais. E a responsabilidade pelos efeitos causados pelos artefatos tecnológicos era atribuída ao seu modelador, produtor, vendedor ou usuário. As TICs desafiam essas suposições, convocando noções de responsabilidade distribuída.
  • 1.4 Finalmente, as visões de mundo modernas e as organizações políticas foram impregnadas de metáforas mecânicas: forças, causalidade e, acima de tudo, controle tinham uma importância primordial. Os padrões hierárquicos eram modelos-chave para a ordem social. As organizações políticas eram representadas pelos Estados de Westphalian, exercendo poder soberano em seu território. Dentro desses Estados, os poderes legislativo, executivo e judiciário eram considerados para equilibrar um ao outro e proteger contra o risco de abuso de poder. Ao permitir sistemas multi-agentes e abrir novas possibilidades para a democracia direta, as TICs desestabilizam e exigem uma revisão das perspectivas de mundo e metáforas subjacentes às estruturas políticas modernas.

2 No canto de Frankenstein e do Grande Irmão

Medos e riscos em uma era hiperconectada

  • 2.1 É digno de nota que a dúvida cartesiana e as suspeitas relacionadas sobre o que é percebido pelos sentidos humanos levaram a uma dependência cada vez maior do controle em todas as suas formas. Na modernidade, o conhecimento e o poder estão profundamente ligados ao estabelecimento e manutenção do controle. O controle é tanto buscado quanto ressentido. Medos e riscos também podem ser percebidos em termos de controle: muito dele – em detrimento da liberdade – ou falta dele – em detrimento da segurança e da sustentabilidade. Paradoxalmente, nestes tempos de crise econômica, financeira, política e ambiental, é difícil identificar quem tem controle sobre o quê, quando e dentro de qual escopo. Responsabilidades e obrigações são difíceis de atribuir claramente e endossar de forma inequívoca. Responsabilidades distribuídas e interligadas podem ser erroneamente entendidas como uma licença para agir de forma irresponsável; essas condições podem ainda tentar líderes empresariais e governamentais a adiar decisões difíceis e, assim, levar à perda de confiança.
  • 2.2 Experimentar a liberdade, a igualdade e a alteridade em esferas públicas se torna problemático em um contexto de identidades cada vez mais mediadas e interações calculadas, como perfilagem, publicidade direcionada ou discriminação de preços. A qualidade das esferas públicas é ainda mais prejudicada pelo aumento do controle social por meio da vigilância mútua ou lateral (sousveillance), que nem sempre é melhor do que a vigilância do “Grande Irmão”, como cada vez mais o cyberbullying mostra.
  • 2.3 A abundância de informações pode resultar em sobrecarga cognitiva, distração e amnésia (o presente esquecido). Novas formas de vulnerabilidades sistêmicas surgem da crescente dependência das infra-estruturas informacionais. Jogos de poder em esferas online podem levar a conseqüências indesejáveis, incluindo o desempoderamento das pessoas por meio da manipulação de dados. A repartição de poder e responsabilidade entre as autoridades públicas, agentes corporativos e cidadãos deveria ser equilibrada de forma mais justa.

3 O dualismo está morto! Viva as dualidades!

Compreendendo os desafios

  • 3.1 Ao longo de nosso esforço coletivo, uma pergunta continuou retornando ao palco principal: “o que significa ser humano em uma era hiperconectada?” Essa pergunta fundamental não pode receber uma única resposta definitiva, mas abordá-la provou ser útil para abordar os desafios de nosso tempo. Pensamos que lidar com esses desafios pode ser mais bem feito privilegiando pares duais em vez de dicotomias opositivas.

3.1 Controle e Complexidade

  • 3.2 No mundo Onlife, os artefatos deixaram de ser meras máquinas que simplesmente operam de acordo com as instruções humanas. Eles podem mudar de estado de maneiras autônomas e podem fazê-lo cavando na riqueza exponencialmente crescente de dados, tornados cada vez mais disponíveis, acessíveis e processáveis pelas TICs em rápido desenvolvimento e cada vez mais pervasivas. Os dados são registrados, armazenados, computados e retroalimentados em todas as formas de máquinas, aplicativos e dispositivos de maneiras novas, criando infinitas oportunidades para ambientes adaptativos e personalizados. Filtros de muitos tipos continuam a erodir a ilusão de uma percepção objetiva e imparcial da realidade, ao mesmo tempo em que abrem novos espaços para interações humanas e novas práticas de conhecimento.
  • 3.3 No entanto, é precisamente no momento em que uma postura de onisciência/onipotência poderia ser percebida como alcançável que se torna óbvio que é uma quimera, ou pelo menos um alvo em constante movimento. O fato de o ambiente ser impregnado por fluxos e processos de informação não o torna um ambiente onisciente/onipotente. Ao contrário, ele pede novas formas de pensar e agir em múltiplos níveis, a fim de abordar questões como propriedade, responsabilidade, privacidade e autodeterminação.
  • 3.4 Em certa medida, a complexidade pode ser vista como outro nome para a contingência. Longe de desistir da responsabilidade em sistemas complexos, acreditamos que há uma necessidade de reavaliar as noções recebidas de responsabilidade individual e coletiva. A própria complexidade e entrelaçamento de artefatos e humanos nos convidam a repensar a noção de responsabilidade nesses sistemas sociotécnicos distribuídos.
  • 3.5 A clássica distinção de Friedrich Hayek entre kosmos e taxis, ou seja, evolução versus construção, estabelece uma linha entre ordens espontâneas (supostamente naturais) e o planejamento humano (político e tecnológico). Agora que os artefatos tomados globalmente escaparam do controle humano, mesmo que tenham originado das mãos humanas, metáforas biológicas e evolutivas também podem ser aplicadas a eles. A perda resultante de controle não é necessariamente dramática. Tentativas de recuperar o controle de forma compulsiva e não reflexiva são um desafio ilusório e destinado a falhar. Portanto a complexidade das interações e a densidade dos fluxos de informação não são mais redutíveis apenas a taxis. Por isso intervenções de diferentes agentes nesses emergentes sistemas sociotécnicos exigem aprender a distinguir o que deve ser considerado como kosmos, ou seja, um ambiente dado que segue seu padrão evolutivo, e o que deve ser considerado como taxis, ou seja, ao alcance de uma construção que responda efetivamente às intenções e/ou propósitos humanos.

3.2 Público e Privado

  • 3.6 A distinção entre público e privado freqüentemente foi compreendida em termos espaciais e opostos: o lar versus a ágora, a empresa privada versus a instituição pública, a coleção privada versus a biblioteca pública, e assim por diante. O uso das TICs tem aumentado o ofuscamento da distinção quando expressa em termos espaciais e dualísticos. A internet é uma extensão importante do espaço público, mesmo quando operada e de propriedade de atores privados. As noções de públicos fragmentados, de terceiros espaços e de bens comuns, e o foco crescente no uso em detrimento da propriedade, todos desafiam nossa compreensão atual da distinção público-privado.
  • 3.7 No entanto, consideramos que essa distinção entre privado e público é mais relevante do que nunca. Hoje, o privado está associado à intimidade, autonomia e abrigo do olhar público, enquanto o público é visto como o domínio da exposição, transparência e responsabilidade. Isso pode sugerir que o dever e o controle estão do lado do público, e a liberdade está do lado do privado. Essa visão nos cega para as deficiências do privado e para as oportunidades do público, onde este último também é um componente de uma vida boa.
  • 3.8 Acreditamos que todos precisam tanto de abrigo do olhar público quanto de exposição. A esfera pública deve fomentar uma gama de interações e engajamentos que incorporam uma opacidade capacitadora do eu, a necessidade de auto-expressão, a performance de identidade, a chance de se reinventar, bem como a generosidade do esquecimento deliberado.

4 Propostas para Melhor Servir as Políticas

Mudanças Conceituais com Conseqüências Relevantes para a Governança Onlife

4.1 O Eu Relacional

  • 4.1 É um dos paradoxos da modernidade que ela ofereça duas abordagens contraditórias sobre o que é o eu. Por um lado, no âmbito político, o eu é considerado livre e “livre” freqüentemente entendido como sendo autônomo, descorporificado, racional, bem-informado e desconectado: um eu individual e atomístico. Por outro lado, em termos científicos, o eu é um objeto de estudo entre outros e, nesse aspecto, é considerado totalmente analisável e previsível. Ao focar em causas, incentivos ou desincentivos numa perspectiva instrumental, esse tipo de conhecimento frequentemente busca influenciar e controlar comportamentos, em níveis individuais e coletivos. Assim, há uma oscilação constante entre uma representação política do eu, como racional, descorporificado, autônomo e desconectado, por um lado, e uma representação científica do eu, como heterônomo e resultante de contextos multifatoriais plenamente explicáveis pelas várias disciplinas científicas (sociais, naturais e tecnológicas).
  • 4.2 Acreditamos que é hora de afirmar, em termos políticos, que nossos eus são simultaneamente livres e sociais, ou seja, que a liberdade não ocorre no vácuo, mas num espaço de possibilidades e limitações: juntamente com a liberdade, nossos eus derivam e aspiram a relacionamentos e interações com outros eus, artefatos tecnológicos e o restante da natureza. Como tal, os seres humanos são “livres com elasticidade”, para emprestar uma noção econômica. A natureza contextual da liberdade humana responde tanto pelo caráter social da existência humana quanto pela abertura dos comportamentos humanos que permanecem, em certa medida, obstinadamente imprevisíveis. Moldar políticas no âmbito da experiência Onlife significa resistir à suposição de um eu racional e descorporificado e, em vez disso, estabilizar uma concepção política do eu como um eu livre inerentemente relacional.

4.2 Tornando-se uma Sociedade Digitalmente Literata

  • 4.3 A utopia da onisciência e da onipotência muitas vezes envolve uma atitude instrumental em relação ao outro e uma compulsão para transgredir fronteiras e limites. Essas duas atitudes são sérios obstáculos para pensar e experimentar esferas públicas na forma de pluralidade, onde os outros não podem ser reduzidos a instrumentos e onde a autodisciplina e o respeito são necessários. As políticas devem se basear em uma investigação crítica de como os assuntos humanos e as estruturas políticas são profundamente mediados pelas tecnologias. Endossar a responsabilidade em uma realidade hiperconectada requer reconhecer como nossas ações, percepções, intenções, moralidade, até mesmo corporalidade estão interligadas com as tecnologias em geral e as TICs em particular. O desenvolvimento de uma relação crítica com as tecnologias não deve visar a encontrar um lugar transcendental fora dessas mediações, mas sim uma compreensão imanente de como as tecnologias nos moldam como seres humanos, enquanto nós humanos moldamos criticamente as tecnologias.
  • 4.4 Achamos útil pensar na reavaliação dessas noções recebidas e no desenvolvimento de novas formas de práticas e interações in situ na seguinte frase: “construindo a jangada enquanto nadamos”.

4.3 Cuidando de Nossas Capacidades de Atenção

  • 4.5 A abundância de informações, incluindo os desenvolvimentos de “big data“, induzem grandes mudanças em termos conceituais e práticos. Noções anteriores de racionalidade presumiam que acumular informações e conhecimentos conquistados levaria a uma melhor compreensão e, portanto, a um melhor controle. O ideal enciclopédico ainda está presente, e o foco continua principalmente na adaptação de nossas capacidades cognitivas, expandindo-as na esperança de acompanhar uma infosfera em constante crescimento. Mas essa expansão infinita está se tornando cada vez menos significativa e menos eficiente em descrever nossas experiências diárias.
  • 4.6 Acreditamos que as sociedades devem proteger, valorizar e nutrir as capacidades de atenção dos seres humanos. Isso não significa desistir de buscar melhorias: isso sempre será útil. Ao contrário, afirmamos que as capacidades de atenção são um ativo finito, precioso e raro. Na economia digital, a atenção é abordada como uma mercadoria a ser trocada no mercado ou a ser canalizada nos processos de trabalho. Mas essa abordagem instrumental à atenção negligencia as dimensões sociais e políticas dela, ou seja, o fato de que a capacidade e o direito de focar nossa própria atenção é uma condição crítica e necessária para a autonomia, responsabilidade, reflexividade, pluralidade, presença engajada e sentido. Na mesma medida em que órgãos não devem ser trocados no mercado, nossas capacidades de atenção merecem tratamento protetor. O respeito à atenção deve ser vinculado a direitos fundamentais, como privacidade e integridade corporal, pois a capacidade de atenção é um elemento inerente do eu relacional pelo papel que desempenha no desenvolvimento da linguagem, empatia e colaboração. Acreditamos que, além de oferecer escolhas informadas, as configurações padrão e outros aspectos projetados de nossas tecnologias devem respeitar e proteger as capacidades de atenção.
  • 4.7 Em resumo, afirmamos que mais atenção coletiva deve ser dedicada à atenção em si como um atributo humano inerente que condiciona o florescimento das interações humanas e as capacidades de se engajar em ações significativas na experiência Onlife. Este manifesto é apenas o começo… Este capítulo é distribuído sob os termos da Licença Creative Commons Attribution Noncommercial, que permite qualquer uso não comercial, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que os autores originais e a fonte sejam creditados.

 

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Como criar um servidor LAMP (Linux, Apache, MySQL, PHP)?

Compartilhe também: https://pedrofigueira.pro.br/2023/02/23/como-mudar-para-o-linux/

Para quem trabalha com banco de dados no Windows, normalmente o usuário escolhe dentre duas opções. Se sua base de dados for pequena (profissionais liberais — médicos, advogados, pequenas empresas, pequenos comércios) o uso do Microsoft Access é suficiente. É um programa realmente muito simples de ser usado e é naturalmente integrado ao resto do ambiente Office. Também pode usar o LibreOffice Base, que é a alternativa em software livre (e em minha opinião é mais fácil de usar). Se sua base de dados for mais robusta (indústrias, varejistas, distribuidoras), o uso de uma base de dados em servidor é mais recomendado. Servidores (programas e/ou computadores dedicados) permitem que a base de dados seja acessada por diversos usuários em vários computadores ao mesmo tempo, incluindo acesso remoto via internet.

Neste segundo caso, há várias alternativas de bases de dados, sendo a escolha majoritária o MySQL. MySQL é um programa de banco de dados do tipo servidor, isto é, não possui interface gráfica própria, sendo, portanto, apto a ser implementado conforme a necessidade do usuário. Uma dessas possíveis implementações é o acesso via internet/intranet. Utilizando um navegador, é possível acessar, consultar e modificar a base de dados. Para isso, é feita a integração entre o MySQL e um servidor web. Os servidores web mais usados no mundo são o Apache, juntamente com o Nginx, e o Cloudflare Server.

O servidor web tão somente permite que a base seja acessada pela internet (ele abre a porta do computador e permite que sejam acessados arquivos neste). Para tratar propriamente os arquivos gerenciados pelo programa servidor de base de dados, o usuário pode, se quiser,  operar a base diretamente por linha de comando em terminal. Porém é muito mais útil usarmos um programa administrador de base de dados, como o MySQL Workbench ou o DBeaver. Também é possível aproveitar os benefícios de um servidor web e instalar um programa administrador que rode nativamente em um navegador. Um programa gratuito e muito poderoso é o phpMyAdmin. Sua instalação ocorre em duas etapas. A primeira é a instalação da linguagem de programação que ele usa, o PHP/Perl, e em seguida a instalação dele propriamente.

Temos então uma configuração AMP (Apache, MySQL, PHP). No Windows, há instaladores que configuram automaticamente esse ambiente para você. Os mais usados são o WAMP (Windows + AMP) e o XAMPP (Windows + AMP + Pearl). No MacOS da Apple, temos o MAMP (Mac + AMP). No Linux, não temos instaladores, pois os pacotes e dependências variam conforme a configuração de cada distribuição. Ou seja, você mesmo precisa configurar o seu LAMP (Linux + AMP). Felizmente você pode fazer isso com meia dúzia de comandos no terminal.

Antes de continuar, um esclarecimento: o MySQL originalmente é um programa livre, de código aberto. Quando seus criadores venderam-no para a Sun Microsystems, criadora do Java, houve a promessa de que ele continuaria aberto e gratuito. Mas a Sun Microsystems foi comprada pela Oracle, que não prometeu nada. O MySQL continua aberto e livre, mas sem nenhuma garantia de que continuará assim. Preocupado com o futuro de sua criação, o desenvolvedor original criou o MariaDB, um programa com compatibilidade binária, isto é, absolutamente idêntico ao MySQL, para garantir que sua obra continue aberta e livre. Por isso, no Linux, usamos MariaDB em lugar do MySQL. Na prática, não muda nada. Tudo que é feito no MySQL continua exatamente igual no MariaDB. Assim, se algum engraçadinho da Oracle quiser cobrar pela obra de outrem, basta implementar o MariaDB e continuar usando as bases de dados gratuitamente.

Voltando à meia dúzia de comandos,

sudo apt install mariadb-server apache2 apache2-suexec-pristine libapache2-mod-php phpmyadmin openjdk-11-jre tomcat9 libjakarta-servlet-api-java openssh-server
  • sudo : comando que lhe dá privilégios de administrador;
  • apt : comando para gerenciar pacotes;
  • install : comando para instalar;
  • mariadb-server : instala o MariaDB completo no seu computador (servidor e cliente);
  • apache2 : instala o servidor web Apache;
  • apache2-suexec-pristine : instala a extensão opcional para o servidor Apache (controlador especial de scripts);
  • libapache2-mod-php : instala o módulo de integração Apache + PHP;
  • phpmyadmin : instala o phpMyAdmin e todas suas dependências PHP/Perl;
  • openjdk-11-jre : opcional, instala o ambiente Java;
  • tomcat9 : opcional, instala o módulo de integração Apache + Java;
  • libjakarta-servlet-api-java : opcional, instala o servlet Jakarta para aplicações Java em servidor;
  • openssh-server : opcional, instala segurança para acesso remoto ao servidor.

Você pode instalar tudo e fazer a integração posteriormente, ou ir fazendo a integração (definir senhas) conforme vai instalando. Veja o exemplo do vídeo abaixo.

LAMP no Ubuntu e derivados (também funciona no Debian) | Leandro Ramos

Teste da realidade: vírus saiu de laboratório e máscaras foram inúteis

Em meu texto Guia da pandemia: o vírus corona no Brasil e no mundo. aponto para o que já começa a se tornar público hoje. Mesmo a altamente politizada mídia hoje já está percebendo que a verdade não pode ser oculta do público por muito tempo, exceto se houver um grande esforço de guerra. A quarentena foi inútil, as máscaras também. Em breve, o mundo tomará ciência do erro da vacinação obrigatória em massa, que já está causando incalculável número de ”mortes súbitas”.

Fonte: https://veja.abril.com.br/coluna/mundialista/teste-da-realidade-virus-saiu-de-laboratorio-e-mascaras-foram-inuteis/


Teste da realidade: vírus saiu de laboratório e máscaras foram inúteis

Reconhecer fatos e mudar de ideia são características de quem quer pensar bem – até quando isso parece, equivocadamente, “premiar negacionistas”
Por Vilma Gryzinski Atualizado em 6 mar 2023, 10h37 – Publicado em 3 mar 2023, 07h51

É dura a vida de quem pelo menos tenta não ser engolfado por opiniões ideologizadas, um fenômeno que contaminou até cientistas que deveriam ser a última linha de defesa contra a politização de sua atividade. Alguns acontecimentos dos últimos dias dá um certo alívio para os que mantiveram a independência e são algo duros de engolir para quem acreditou firmemente que os “negacionistas” seriam punidos por seus múltiplos pecados durante a pandemia. Obviamente, os fatos não têm nada a ver com opiniões formadas com base em posições políticas – progressistas, em geral, louvando a ciência, essa coitada tão abusada, e conservadores insurgindo-se contra a obrigatoriedade de medidas como máscaras, lockdowns e vacinas. No olho do furação, a maioria de nós quis acreditar que uma camadinha de pano ou de papel na frente do rosto nos protegeria do vírus e que ficar em casa era o preço a pagar pela sobrevivência a uma praga incontrolável saída da natureza para, como sempre, punir os humanos por invadir habitats animais. No fundo, era nossa culpa e precisamos expiá-la.

Fato: o Departamento de Energia dos Estados Unidos e o FBI fizeram declarações apontando uma razoável convicção de que o vírus da Covid-19 escapou por acidente do laboratório chinês onde era estudado.

Parecia um absurdo lógico imaginar que o vírus aflorado na cidade de Wuhan, onde funciona um laboratório de estudos desse tipo de agente patológico, tivesse saído por acaso de um morcego que infectou um animal intermediário que infectou humanos. Mas quem disse isso chegou a ser chamado de racista. Outro tijolinho recente: a revelação de que a França havia encerrado a colaboração com o laboratório de Wuhan e avisado que ele estava sendo usado para fins militares.

Fato: uma instituição chamada Cochrane Library, considerada a mais respeitada na análise de intervenções médicas em escala mundial, concluiu que máscaras comuns ou as usadas por profissionais de saúde, as N95, “provavelmente 􀁺zeram pouca ou nenhuma diferença” na propagação da doença.

Antes da pandemia, serviços médicos de diferentes países e a Organização Mundial de Saúde não consideravam as máscaras efetivas para conter o contágio de doenças respiratórias.

Fato, ou fatos: uma montanha de e-mails provenientes do ex-secretário da Saúde do Reino Unido Matt Hancock comprova o que muita gente já tinha concluído. Ou seja, que o governo na época chefiado por Boris Johnson tomava providências com base em pesquisas de opinião e não na mais pura e elevada ciência.

Não é exatamente uma surpresa — e todos os políticos precisam realmente levar em consideração o que o povo está pensando. Mas ver a manipulação nua e crua desse conceito é chocante. Um exemplo, no mar de mensagens: as crianças das escolas inglesas para alunos a partir dos onze anos foram obrigadas a usar máscaras sem nenhum embasamento científico, mas sim um puro cálculo político. A primeira-ministra da Escócia na época, Nicola Sturgeon, havia determinado a restrição e Boris concluiu que não valia a pena “comprar essa briga”. Não queria parecer menos durão do que a rival escocesa.

O primeiro-ministro também se deixou convencer a não reabrir as escolas fechadas — com grandes prejuízos para os alunos, como está acontecendo até hoje — porque “os pais já achavam mesmo que não haveria volta às aulas” até o início do ano letivo, em setembro. Hancock e outros funcionários ironizaram as pessoas que precisavam voltar ao país e fora, durante um certo período, obrigadas a aceitar — e pagar — para ficar dez dias em isolamento em hotéis perto de aeroportos, “trancadas em caixas de sapato”. “Hilário”, diz um deles.

Os exemplos de decisões sem motivos sólidos são inúmeros — e provavelmente seriam similares se outros governos pudessem ser vasculhados de forma tão de􀁺nitiva. Um dos raros países que já fizeram isso foi a Suécia, que se distinguiu de todos os outros países desenvolvidos por não mandar a população se trancar em casa e manter abertas as escolas para jovens e crianças. Foi uma decisão “fundamentalmente correta”, concluiu a Comissão do Coronavírus.

Outra conclusão: vários outros países que implantaram o lockdown “tiveram resultados significativamente piores” do que os da Suécia. As autoridades médicas, únicas responsáveis pelas medidas oficiais, pecaram por demorar muito para alertar a população e houve aglomerações que deveriam ter sido restringidas, criticou a Comissão. Em resumo, muitas das orientações e das consequências do combate à Covid-19 só estão sendo estudadas agora, enquanto autoridades médicas e governamentais tiveram que reagir no calor dos acontecimentos, em meio a um estado mundial de pânico e prognósticos cataclísmicos. Quanto mais a ciência verdadeira — e jornalistas inquisitivos — perscrutarem de onde se originou a pandemia, como se propagou, o que funcionou e o que não funcionou no seu combate, mais teremos a ganhar.

Reconhecer fatos não é “premiar” os negacionistas — uma palavra odiosa, por evocar uma horrível comparação com os degenerados que rejeitam as conclusões sobre o genocídio dos judeus pelos nazistas. É jogar a favor de toda a humanidade. Escrevendo na Spectator com sua inteligência brilhante e seu pendor para a polêmica, Rod Liddle anotou sobre a situação na Inglaterra: “Eu não tinha — e não tenho — grandes objeções ao primeiro lockdown ou mesmo às primeiras recomendações para usarmos máscaras ou esfregarmos as mãos com álcool a cada poucos segundos. Não sabíamos o que estávamos enfrentando”.

Liddle obviamente é um conservador e escreve que “muito do que fomos proibidos de dizer, sob pena de sermos banidos das redes sociais ou demitidos de nossos empregos, revelou ter considerável substância”. Só mesmo um intelecto superior para usar a expressão “considerável substância” no lugar de “estão vendo só, nós tínhamos razão”. Quem preferir, pode ignorar essa parte e se ater aos fatos que estão contando uma história à qual não deveríamos fechar nossos ouvidos.

Como mudar para o Linux?

Este texto é direcionado a quem não tem conhecimento algum sobre Linux.

Índice
1 Introdução
2 O que é o Linux?
3 Estrutura do Linux
4 Vídeo explicativo

1 Introdução

A maioria das pessoas que lida com computadores está acostumada a trabalhar com o sistema da Microsoft chamado Windows. Em suas diversas versões, há décadas é o sistema mais usado pelo usuário doméstico comum. Muitos usam as pastas pré-definidas de trabalho, como ”Meus Documentos” e ”Área de Trabalho”, e raramente vasculham a fundo o sistema operacional. Apenas os chamados Power Users (usuários avançados) ou quem faz manutenção profissionalmente conhecem os programas internos de manutenção e as ferramentas do sistema, como o ”Gerenciamento do computador”, ”Agendador de tarefas”, ”Editor de políticas de grupo” ou o ”Editor de Registro”.

O que o usuário doméstico comum faz é usar os programas de escritório como Microsoft Office ou Adobe Acrobat e lutar contra a impressora (que juramos ter alguma coisa contra a gente). Também há quem edite fotos e vídeos, navegue pela rede (como você provavelmente está fazendo agora) ou jogue no PC. Essa ampla quantidade de pessoas não se importa muito sobre como funciona o sistema operacional, desde que encontre os arquivos que salvou e que os programas rodem sem travar.

Mas não é só isso. As pessoas sempre são reticentes a mudanças, principalmente em algo que sabem que está funcionando. Se não está quebrado, por que consertar? Isso se mostra evidente nas novas versões do Windows, em especial o Windows 11 que vem trazendo muito mais problemas do que soluções a seus usuários. Mesmo os usuários domésticos comuns estão sentindo dificuldades para lidar com as idiossincrasias desse novo sistema e com o futuro anunciado do Windows.

O Windows está se encaminhando para se tornar não mais um sistema operacional como produto, mas sim como serviço. Deixe-me explicar usando a Adobe como exemplo. Há um tempo, até o Adobe Acrobat Pro XI, o Acrobat era um produto. Você comprava a licença e o programa era seu. Depois, a partir do Adobe Acrobat DC (de documenting cloud), passou a ser um serviço por assinatura. Para usar você precisa estar conectado à internet e validar sua chave periodicamente, do contrário não consegue mais usar o programa. O Windows está aparentemente se encaminhando para esse tipo de modalidade de negócios haja vista suas mudanças.

Telemetria (envio de seus dados sem seu conhecimento), violações de privacidade, remoção de opções e configurações, ou coisas simples como o manejo de janelas e os atalhos do botão direito, são elementos que estão fazendo com que usuários domésticos de longa data do Windows estejam cada vez mais insatisfeitos com o produto/serviço da Microsoft, tendo de procurar alternativas ou pedir ajuda para poder bem usar o sistema. Acontece que a maioria dessas pessoas mantém-se presa ao Windows, por desconhecimento de como funcionam as alternativas a ele.

Existem diversos outros sistemas operacionais. Como o Windows é o maior, a maioria dos programas roda nele. Mas é perfeitamente possível emular, isto é, usar os programas que você está acostumado a usar no Windows em outro sistema operacional. Isso sem contar que os principais programas têm versões para outros sistemas operacionais, e aqueles programas que não as têm são facilmente substituídos por concorrentes à altura.

2 O que é Linux?

Um sistema operacional é um programa que faz a conexão entre o usuário e a máquina. Ou seja, para fazer com que o hardware funcione e permitir que outros programas rodem, é necessário um programa especial, que é o sistema operacional. É o sistema operacional que provê a interface entre o usuário e a máquina. Os principais são o Unix/BSD e seus derivados, como o MacOs da Apple; o ChromeOS para notebooks específicos; o MS-DOS e o Windows, de que estamos falando, e os sistemas de Mainframe, que não abordarei aqui. Há também sistemas descontinuados como o AmigaOS e o OS/2 da IBM. Este último ainda é usado em máquinas bem antigas.

O Linux é uma família de sistemas operacionais livres (totalmente gratuitos) baseadas no mesmo padrão de funcionamento. Cada membro da família é chamado de Distribuição. Assim, o que funciona num, deve funcionar no outro. É um sistema muitíssimo usado fora do ambiente doméstico, especialmente como sistema empresarial. O sistema Android dos celulares, por exemplo, é derivado do Linux.

Por ser um sistema livre e facilmente modificável, a aparência e o funcionamento do sistema Linux é totalmente configurável. A distribuição WindowsFX, por exemplo, procura ser idêntica ao Windows10/11 tanto na aparência quanto nas opções ao usuário. Também é possível deixar o Linux com a ”cara” do Windows 95, ou do MacOS, da Apple.

Ou seja, se você estiver reticente em mudar por conta da aparência, ”de encontrar onde ficam as coisas”, de como manejar janelas, de como atualizar, de como gerenciar etc. fique tranqüilo: já resolveram isso para você. Existe uma distribuição exatamente como você quer, basta procurar ou você mesmo configurar com meia dúzia de cliques.

E quanto ao uso? Bem, se você é um usuário doméstico comum, não tem diferença alguma. Todos os seus arquivos e configurações serão salvos na pasta Home, o equivalente a ”Meus documentos”. Note que eu disse ”configurações”. Os programas no Linux salvam suas configurações por usuário. Isso significa que se você precisar formatar seu PC, basta salvar a pasta Home. Assim, quando reinstalar seu sistema, suas coisas estarão exatamente como você deixou.

‘Tá, mas o título do texto é ”como mudar para Linux?” e você ainda não disse nada sobre isso…

Tudo bem, a primeira coisa a fazer é escolher sua distribuição. Para fins de ilustração, as famílias são:

      1. Famílias Slackware, Arch e Gentoo: indicadas para usuários avançados. Respectivamente em ordem de complexidade, Slackware é voltado para administradores que querem controle total sobre o sistema; Arch é voltado para o estado-da-arte, com as mais avançadas tecnologias disponíveis; Gentoo é o mais complexo de todos, cabendo ao administrador compilar o próprio sistema.
      2. Famílias Red Hat/Fedora: Meio termo entre Debian e Arch, é de facílima instalação. Indicado para todos os tipos de usuários, têm como objetivo ser um sistema operacional completo, pronto para uso. Diferentemente do Debian, você só consegue escolher um (1) ambiente de trabalho durante a instalação. Então, para quem está começando e vai experimentar um monte de coisas novas, acaba restringindo a ”primeira impressão”.
      3. Família SUSE: Meio termo entre Fedora e Arch, tem como objetivo ser um sistema completo, pronto para uso, porém atualizado com as tecnologias mais avançadas. Sua configuração é mais amigável do que a do Fedora. É uma excelente primeira impressão do Linux. Vem com os 7 principais desktops para escolher durante a instalação, mas você precisa ou baixar a ISO completa ou ter boa conexão banda larga durante a instalação. Ele precisa de mais memória (8Gb HD e 1,2Gb RAM) que a usada pelo Debian (2,75Gb HD e 600Mb RAM).
      4. Família Debian: pai da maior família Linux, o Debian é um sistema com foco na estabilidade. Ele é feito para ser a base de outros sistemas operacionais, podendo ser configurado como quisermos e aplicado onde precisarmos.

Vou exemplificar com minha distribuição de preferência, o Debian (que é a mais indicada para iniciantes e/ou computadores mais fracos). O Linux é um sistema livre, distribuído por repositórios. Todos os arquivos que o compõem podem ser baixados de lá. Há duas formas de fazer a instalação, uma online e outra offline. Na online, a mais recomendada, seu computador deve ter à disposição uma conexão de rede durante a instalação. Nesse caso, o sistema só irá baixar os arquivos de que precisa para a sua máquina específica. Se não puder ou não quiser, pode baixar o S.O. inteiro num pendrive (mínimo 4GB) e o pacote vem com tudo de que precisa. Universidades em todo o mundo têm servidores que o distribuem gratuitamente, tanto online quanto offline, além, é claro, do próprio site oficial do Debian.

A instalação guiada detalhada é a melhor forma de começar a se familiarizar com a nova forma de lidar com a máquina. Ela ajuda passo a passo a configurar o sistema. Sempre selecione Advanced Options e Graphic Advanced Install. Eu, por exemplo, tenho preferência pela instalação completa, inclusive os opcionais. O Debian já vem com praticamente todos os programas de que você precisará.

A primeira coisa que sentirá diferença do uso comparado ao Windows é no uso das senhas. O Linux é muito mais restrito no quesito segurança e não permite que coisas importantes sejam feitas sem senha. Você precisa cadastrar uma senha como administrador (raiz ou root) que tem domínio total sobre o sistema e (se quiser) outra para uma conta de usuário comum, tal como no Windows. Quase ao final da instalação, você escolherá o Desktop Environment (ambiente de trabalho) e é aqui onde a maioria dos novatos encontra dificuldade e sente a maior diferença em relação ao Windows.

No Windows, o ambiente de trabalho é vinculado ao próprio sistema operacional. O Windows Explorer e até certo ponto o extinto Internet Explorer são constitutivos do sistema operacional. Isso significa que quando eles travam, o sistema inteiro trava.

No Linux não. O ambiente de trabalho é um programa como outro qualquer, tal como seu editor de texto ou tocador de música. Do mesmo modo que você escolhe entre Bloco de Notas, Wordpad ou Microsoft Word dependendo de que tipo de texto quer fazer, no Linux você também pode escolher em qual ambiente de trabalho quer trabalhar. O Debian vem com vários para você escolher: Gnome, KDE, MATE, Cinnamon. Eu tenho preferência pelo LXDE por ser simples, leve e direto, embora reconheça que XFCE é mais completo.

Permitir-se experimentar os ambientes de trabalho e fuçar as opções em tudo é a melhor forma de ir se acostumando. Não se preocupe, você não vai estragar nada (nem pode). Como eu disse, todas as configurações são salvas fora do programa, então você pode restaurar as configurações iniciais a qualquer momento. Isso não irá prejudicar qualquer documento seu, pois tudo é salvo em pastas separadas. Veja este vídeo do Fetha Tutoriais: https://www.youtube.com/watch?v=6etzgzqKKhw

A segunda diferença que perceberá é para instalar programas. No Windows, você executa a instalação do programa e o sistema entrega ao programa controle parcial sobre a máquina. No Linux, é bem diferente. Não há um ”instalador”, há apenas os arquivos do programa. Somente o sistema operacional é responsável pelo gerenciamento da máquina, os programas apenas dizem o que ele deve fazer e nunca assumem o controle. Desse modo, se um programa travar, ele não trava o computador.

Para ”instalar” há duas formas. Na primeira você apenas arrasta os arquivos do programa para as pastas de instalação correspondentes e pronto. Para ”desinstalar”, basta apagar os arquivos. Para quem passou a vida acostumado a usar o InstallShield Wizard, e clicar sim >>sim>>sim, é uma diferença notável. Na segunda forma você usa um programa chamado Gerenciador de Pacotes. É como no smartphone quando você usa a PlayStore (gerenciador de pacotes do Android) para instalar um programa. Basta procurar, selecionar, clicar e aguardar baixar e instalar automaticamente. Lembre que o Android é derivado do Linux. Então, se você já usou um smartphone, você já sabe como usar Linux! Veja este vídeo de Diolinux https://www.youtube.com/watch?v=CKGCMjvFZZc

E aquela tela verde cheia de códigos?

Aquele é o Shell. É o equivalente ao Prompt de Comando do Windows. Ele não é necessário para praticamente nada, mas você pode fazer de tudo nele. Em lugar de procurar onde clicar ou manualmente editar opções nos arquivos de configurações, você pode usar o Shell como atalho. Como é um atalho, quem está mais acostumado prefere usá-lo, pois permite que se façam coisas muito mais rapidamente.

Por exemplo, para ”instalar um programa” no Shell basta escrever o comando apt-get install nome-do-programa e ele faz tudo por você. Na prática, para o usuário doméstico, a ”tela verde” é só o console de atalhos. Se não for fazer manutenção, praticamente não irá usá-la. E quando tiver de usar, basta copiar e colar o código de que precisa.

Acima o Prompt do Windows, funcionando como o MS-DOS. Abaixo o terminal no Linux.

E para transferir meus arquivos?

Todos os arquivos no seu computador ou smartphone ficam salvos no seu HDD ou SSD, incluindo o sistema operacional. O modo como eles ficam salvos chama-se ”sistema de arquivos”. O Windows chama o seu sistema de arquivos de NTFS (FAT32 antigamente) e o Linux tem vários, dependendo de como é feita a instalação. No caso do Debian é o ext4. Para você, usuário, não faz diferença alguma até o ponto em que vai transferir dados de um HD para outro. Se você transferir de PC para PC, não tem problema: os PC’s se comunicam por rede e é só arrastar e soltar os arquivos. Mas se você precisar plugar o HD na máquina dá erro no Windows. O Windows não reconhece as partições Linux, embora o Linux reconheça as partições do Windows.

Em miúdos: se você tem um HD do Windows, pode simplesmente plugá-lo num computador com Linux e continuar trabalhando de onde parou, mas o contrário dá mais trabalho. Por isso, muita gente que começa no Linux tende a usar 2 HD’s, um para o Linux e outro (externo) com o backup dos arquivos. Assim, se decidir/precisar voltar a usar o Windows, não terá problema em voltar de onde parou. De qualquer modo, é sempre conveniente e recomendado ter backups de seus dados.

  • É possível usar duas partições no mesmo disco, mas não quero abordar partições ou GRUB neste texto.

3 Estrutura do Linux

Agora se você é daqueles usuários que gostam de futucar as pastas que não deve no Windows, então deve estar pensando em também futucar o Linux. Cuidado. O Linux assume que se você está mexendo como administrador, motivo você tem, e ele não vai te impedir de fazer nada. Você até pode apagar a pasta que dá o arranque (boot) da máquina!

A estrutura do Linux é diferente do Windows. No Windows você usualmente tem o disco (C:) onde são instalados o Windows (C:\Windows), os programas (C:\Program Files) e as pastas para os usuários (C:\Users\Seu Nome\Desktop). Essas pastas contêm arquivos que são usados por você e pelo sistema operacional.

No Linux, tudo é arquivo. Parece estranho no começo, mas faz sentido. Todas as coisas que seu computador faz é manipular arquivos, então ”pastas” são arquivos que apontam para a localização dos arquivos que você quer, os discos são arquivos que apontam para pastas, cada peça de hardware (câmera, microfone, HD’s, monitor, impressora), tudo é arquivo. Não se preocupe, tudo é exibido normalmente para você como pastas, dispositivos e arquivos, só estou explicando que o Sistema Operacional vê tudo como arquivo.

Isso significa que o Linux funciona independentemente do HD (pode rodar de um CD ou pendrive!). E que até os processos no processador também são arquivos. Se estiver no Windows agora, tecle CTRL+SHIFT+ESC. No Gerenciador de Tarefas, tanto a aba ”Processos” quanto a aba ”Serviços” exibirão o que está acontecendo em segundo plano no seu sistema. Essas coisas também são arquivos para o Linux.

Todas essas coisas estão organizadas em ”pastas” na raiz do sistema, indicada como uma barra (”/”). O Linux usa barra (”/”) enquanto que o Windows usa contra-barra (”\”). As pastas seguem a seguinte definição:

/boot; Aqui estão os arquivos que fazem o computador ligar. Não mexa.
/bin /sbin Arquivos binários que compõem a base do sistema operacional. Não mexa.
/lib, /lib32, /lib64 Arquivos compartilhados por vários programas, as chamadas ”bibliotecas”. Não mexa.
/cdrom /mnt /media /dev Nestas pastas o seu sistema coloca os seus dispositivos. O termo que se usa é ”montar”. Os HD’s, leitores/gravadores de disco, impressoras, digitalizadores e outros devices ficam aqui. O sistema cuida de tudo para você, mas se precisar montar manualmente alguma coisa, sempre use o /mnt
/snap /opt Pastas opcionais. Tudo o que não é integrado ao sistema operacional. A maioria dos programas instalados manualmente vem para cá, bem como os programas executáveis (aqueles que não precisam de instalação).
/etc Literalmente a pasta et cetera. Aqui ficam todas as configurações gerais do sistema, válidas para todos os usuários.
/proc /run /sys Processos, serviços, programas e sistema. Não são pastas/arquivos de verdade É o que está na memória RAM. Eles não estão escritos em nenhum lugar e não são salvos. São todos apagados quando você desliga a máquina.
/srv Programas servidores. Servidores de internet, de e-mail, bases de dados são adicionados aqui. Praticamente não usado por usuários domésticos (fica vazio).
/var Arquivos variáveis, ou seja, que se modificam muito com o tempo, como os logs de sistema.
/tmp Arquivos temporários. Por exemplo, quando você escreve um texto, ele está na memória RAM antes de ser salvo. Esse arquivo na memória RAM vai aparecer aqui.
/usr Pasta que contém os programas instalados. Enquanto /bin e /sbin contêm o sistema operacional, os programas instalados são postos separadamente aqui. Como cada programa tem sua própria estrutura independente, a pasta é bastante complexa. Evite mexer.
/root Pasta do administrador do sistema. Pode ver tudo de todos os usuários. É a /home do administrador.
/home Pasta de usuário comum, onde ficam seus documentos e todas as suas configurações (aparência da área de trabalho, ícones, configurações de cada programa etc). Cada usuário tem sua própria pasta (com seu nome) e só pode acessar a própria pasta. Pode ser no mesmo disco ou em um HD separado.

A família Linux de sistemas operacionais é gratuita, leve, segura e bastante robusta. Minha preferência pelo Debian se deve ao fato de ser a distribuição mais estável e a mais simples de todas, mas nada te impede, caro leitor, de experimentar outras. Faça um teste. Experimente por um mês ou dois e decida se vale a pena continuar com o Windows como seu sistema principal. Procure também informações sobre Máquinas Virtuais. 

4 – Vídeos explicativos

Todos os Ambientes do Debian Bullseye | Leandro Ramos

Linux File System/Structure Explained! | DorianDotSlash

MÁQUINAS VIRTUAIS: TUTORIAL COMPLETO | Viva de TI

Aprenda sobre o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) (PTSD)

Fontes:

  1. https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/transtorno-do-estresse-pos-traumatico/
  2. https://zenklub.com.br/blog/transtornos/transtorno-de-estresse-pos-traumatico/
  3. https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/distúrbios-de-saúde-mental/ansiedade-e-transtornos-relacionados-ao-estresse/transtorno-de-estresse-pós-traumático
  4. https://psiquiatriapaulista.com.br/estresse-pos-traumatico-entenda-exatamente-o-que-e-isso/

O texto a seguir é o somatório dos textos indicados na fonte.

Às vezes a vida nos surpreende com experiências horríveis e que podem afetar as pessoas permanentemente. Todo mundo carrega em sua história lembranças boas e ruins daquilo que viveu ou que vivenciou com outras pessoas. Algumas dessas lembranças formam traumas que atormentam a indivíduo. Acontece que em algumas pessoas os efeitos são tão graves que se tornam debilitantes e constituem um transtorno, chamado transtorno do estresse pós-traumático.

Esse transtorno acomete entre 15% a 20% das pessoas que vivenciaram alguma experiência de atos violentos e/ou situações traumáticas. Ou seja, se trata de uma condição que pode ser bastante prevalente e que merece a nossa atenção.

O que é o Estresse Pós-traumático?

O Transtorno do Estresse Pós-Traumático, ou TEPT, é um distúrbio de ansiedade que se manifesta em decorrência de o portador ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de situações traumáticas que, em geral, representaram ameaça à sua vida ou à vida de terceiros. É caracterizado por um conjunto de sinais e sintomas físicos, psíquicos e emocionais que pode surgir até 6 meses após uma experiência ou evento traumático na vida do acometido. Em geral, constitui-se de lembranças recorrentes e incontroláveis do evento por pelo menos 1 mês.

O transtorno de estresse pós-traumático dura mais de um mês. Ele pode ser uma continuação do transtorno de estresse agudo ou surgir separadamente até seis meses após o evento. O transtorno pode não desaparecer completamente, mas geralmente fica menos intenso com o passar do tempo. Algumas pessoas, entretanto, ficam gravemente incapacitadas. Os sintomas causam angústia significativa ou prejudicam o desempenho de atividades de modo significativo

Quando se recorda do fato, o indivíduo revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento e com a mesma sensação de dor, sofrimento e angústia que o agente estressor provocou. Essa recordação, conhecida como revivescência, desencadeia alterações neurofisiológicas e mentais. Trata-se de um transtorno mental que envolve, acima de tudo, recordações que nos devolvem para o episódio ocorrido, como se estivessem acontecendo novamente, trazendo sofrimento e dor.

Muitas pessoas são afetadas de maneira duradoura quando algo terrível acontece. Em algumas, os efeitos são tão persistentes e graves que são debilitantes e representam um transtorno. Os eventos mais propensos a causar o transtorno são aqueles que invocam sentimentos de medo, desamparo ou horror. No entanto ele pode ser causado por qualquer experiência avassaladora e/ou possivelmente fatal.

Esses eventos podem ser vivenciados diretamente (por exemplo, sofrer uma lesão grave ou ser ameaçado de morte) ou indiretamente (testemunhar outras pessoas sofrendo lesões graves, morrendo ou sendo ameaçadas de morte, ou tomar conhecimento de eventos traumáticos que ocorreram com familiares ou amigos próximos). É possível que a pessoa tenha vivenciado um único evento traumático ou, como ocorre com freqüência, vários eventos traumáticos.

Não se sabe por que um mesmo evento traumático pode causar TEPT vitalício em algumas pessoas, mas não causar nenhum sintoma em outras. Além disso, não se sabe por que algumas pessoas testemunham ou vivenciam o mesmo trauma muitas vezes ao longo de anos sem ter TEPT, mas o desenvolvem em algum momento após um episódio aparentemente semelhante.

Aproximadamente entre 15% e 20% das pessoas que, de alguma forma, estiveram envolvidas em casos de violência urbana, agressão física, abuso sexual, terrorismo, tortura, assalto, seqüestro, acidentes, guerra, catástrofes naturais ou provocadas desenvolvem esse tipo de transtorno. Não é preciso ir muito longe e imaginar grandes acontecimentos históricos para classificar um estresse pós-traumático. Ele pode estar em acontecimentos do nosso dia-a-dia, como sofrer um ato violento, bullying na escola ou um acidente de carro. No entanto, é um transtorno pouco identificado e a maioria dos acometidos só procura ajuda dois anos depois das primeiras crises. O transtorno atinge hoje, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 2 milhões de pessoas no Brasil. Em dados mais gerais, afeta aproximadamente 9% das pessoas em algum momento da vida e 4% dos adultos.

Recente pesquisa desenvolvida pela UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e por outras universidades brasileiras, em parceria com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz, levantou a hipótese de a causa do transtorno estar no desequilíbrio dos níveis de cortisol ou na redução de 8% a 10% do córtex pré-frontal e do hipocampo, áreas localizadas no cérebro.

Preste atenção: o número de diagnósticos de transtorno do estresse pós-traumático tem aumentado nas últimas décadas. Procure assistência médica, se apresentar sintomas que possam ser atribuídos a esse distúrbio da ansiedade. Lembre-se de que a ocorrência de um agente estressor não significa que a pessoa vai desenvolver TEPT: algumas são mais vulneráveis e predispostas. Não subestime os sintomas do transtorno em crianças e idosos depois de terem vivenciado situações traumáticas.

Fatores de risco

Podemos considerar como fatores de risco ao desenvolvimento do transtorno, principalmente:

  • Eventos traumáticos ocorridos na infância e na adolescência;
  • Bullying;
  • Autismo;
  • Dificuldades no aprendizado por problemas de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH);
  • Problemas de habilidades sociais e outras situações de sociabilização que passam muitas vezes despercebidas.

Durante essa fase de desenvolvimento pessoal é muito comum que a violência estrutural e social sejam fatores de risco iminentes para a construção de uma vida adulta marcada por traumas.

Sinais e sintomas do transtorno de estresse pós-traumático

Além da exposição direta ou indireta a um evento traumático, o paciente deve apresentar mais que um dos sintomas de cada categoria abaixo por pelo menos um mês.

Sintomas de “intrusão” (pelo menos 1 sintoma):

  • Sofrimento psicológico ou fisiológico intenso ao lembrar-se do evento;
  • Flashbacks ou agir como se o evento estivesse ocorrendo em tempo real;
  • Lembranças recorrentes, involuntárias, intrusivas e/ou perturbadoras;
  • Sonhos perturbadores recorrentes do evento traumático.

Sintomas de “esquiva” (pelo menos 1 sintoma):

  • Evitar pensamentos, sentimentos ou memórias associadas ao evento;
  • Evitar locais, conversas, pessoas ou atividades que possam remeter ao evento.

Sintomas negativos sobre a cognição e humor (pelo menos 2 sintomas):

  • Perda de memória de momentos significativos do evento;
  • Incapacidade persistente de viver emoções positivas;
  • Convicções ou expectativas negativas persistentes e exageradas sobre si mesmo e os outros;
  • Sentimento de culpa em relação a si ou outros sobre causa ou conseqüências do trauma;
  • Diminuição importante do interesse em atividades cotidianas;
  • Sensação de distanciamento e estranhamento em relação às pessoas;

Reatividade e excitação alteradas (pelo menos 2 sintomas):

  • Irritabilidade e/ou impaciência exacerbadas;
  • Dificuldade de concentração;
  • Hipervigilância;
  • Dificuldade de dormir.

Detalhamento dos sintomas:

Sintomas intrusivos (o evento invade os pensamentos de maneira repetida e incontrolável)

O evento traumático pode reaparecer repetidamente na forma de memórias indesejadas involuntárias ou pesadelos recorrentes. Algumas pessoas têm flashbacks, durante os quais elas revivem os eventos como se eles estivessem realmente acontecendo em vez de simplesmente se lembrarem deles. É possível que a pessoa também tenha reações intensas a coisas que a relembrem do evento. Por exemplo, os sintomas de um veterano de guerra podem ser desencadeados por fogos de artifício, enquanto os de uma vítima de roubo à mão armada podem ser desencadeados quando ela vê uma arma de fogo em um filme.

Reexperiência traumática: memórias espontâneas, recorrentes e involuntárias, também chamados de flashbacks, do acontecimento traumático.

Evitar qualquer coisa que as relembre do evento

A pessoa evita de maneira persistente tudo – atividades, situações ou pessoas – que possa recordá-la do trauma. Por exemplo, é possível que ela evite entrar em um parque ou edifício comercial onde foi vítima de agressão ou evite falar com pessoas da mesma raça que a pessoa que a agrediu. Elas podem, inclusive, tentar evitar pensamentos, sentimentos ou conversas sobre o evento traumático.

Esquiva e isolamento social: afastamento de qualquer estímulo (de situações, contatos e atividades) que possam reavivar as recordações do trauma;

Efeitos negativos sobre o pensamento e o humor

É possível que a pessoa não consiga se lembrar de partes significativas do evento traumático (um quadro clínico denominado amnésia dissociativa). A pessoa pode se sentir emocionalmente entorpecida ou desligada das outras pessoas. A depressão é comum e a pessoa afetada mostra menos interesse por atividades que costumava apreciar. A impressão que a pessoa tem sobre o evento pode ficar distorcida, o que a leva a se culpar ou culpar os outros pelo que aconteceu. Sentimentos de culpa são também freqüentes. Por exemplo, é possível que a pessoa se sinta culpada por ter sobrevivido a situações em que outras morreram. Ela pode sentir apenas emoções negativas, como medo, horror, raiva ou constrangimento, e pode não conseguir sentir felicidade, satisfação ou amor.

Negatividade: sentimentos de incapacidade em se proteger de perigos, sensação de vazio e perda da esperança no futuro;

Alterações no estado de alerta e nas reações

A pessoa pode ter dificuldade em adormecer ou se concentrar. Ela pode se tornar excessivamente vigilante quanto à presença de sinais de alerta de risco. É possível que ela se assuste facilmente. É possível que a pessoa se torne menos capaz de controlar suas reações, resultando em comportamento imprudente ou ataques de raiva.

Hiperexcitabilidade psíquica e psicomotora: episódios de pânico com sintomas físicos, taquicardia, sudorese, tonturas, calor, dores de cabeça, medo de morrer, distúrbios do sono, problemas de concentração, irritabilidade, reações de fuga e estado de alerta (hipervigilância);

Outros sintomas

Algumas pessoas desenvolvem atos rituais com a intenção de aliviar sua ansiedade (Transtorno Obsessivo Compulsivo). Por exemplo, é possível que vítimas de violência sexual tomem banhos repetidamente para tentar remover a sensação de sujeira. Muitas pessoas com TEPT usam álcool ou entorpecentes para tentar aliviar os sintomas e acabam apresentando um transtorno por uso de substâncias.

Esses cinco grupos de sintomas podem ser observados em diferentes graus e ocorrências variadas, por isso, não podemos considerar que todos irão ocorrer simultaneamente. Em alguns casos, nem todos os sintomas necessários para o diagnóstico são contemplados, mas há sinais claros de ansiedade e de tristeza. Nesses casos, pode-se se tratar de um transtorno misto ansioso e depressivo.

Diagnóstico

O DSM-IV (Manual de Diagnóstico dos Distúrbios Mentais) e o CID-10 (Classificação Internacional das Doenças) estabeleceram os critérios para o diagnóstico do transtorno do estresse pós-traumático. O primeiro requisito é identificar o evento traumático (agente estressor), que tenha representado ameaça à vida do portador do distúrbio ou de uma pessoa querida e perante o qual se sentiu impotente para esboçar qualquer reação. Os outros levam em conta os sintomas característicos do TEPT. A gravidade do transtorno costuma diminuir com o passar do tempo, porém nunca desaparece e algumas pessoas permanecem gravemente prejudicadas.

O diagnóstico é clínico e deve ser feito por um profissional capacitado, pautado nos critérios estabelecidos pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM).  Além disso, o sofrimento gerado pela experiência vivida deve ser significativo o suficiente para prejudicar o funcionamento social e/ou ocupacional. O sofrimento não pode ser atribuído aos efeitos fisiológicos do uso de uma substância ou de outro transtorno médico.

O transtorno freqüentemente não é diagnosticado, pois causa sintomas variados e complexos. Além disso, a presença de um transtorno por uso de substâncias pode distrair a pessoa quanto à presença do TEPT. Quando ocorre um atraso no diagnóstico e no tratamento, o TEPT pode se tornar cronicamente debilitante.

O transtorno de estresse pós-traumático tem cura?

O TEPT é um problema crônico que pode durar a vida toda e, por isso, não tem cura. Com o tratamento é possível reduzir os sintomas, a freqüência das situações traumáticas e ajudar a manter uma vida mais equilibrada sem tantos abalos emocionais. Por isso, é muito importante que, a qualquer manifestação dos sintomas ou pós-trauma, você procure ajuda de um especialista para que o tratamento seja ainda mais eficaz.

Tratamento

Consiste em tratamento psicoterápico associado ao medicamentoso, ambos fundamentais para a qualidade de vida de quem possui o transtorno. São opções de tratamento a terapia cognitivo-comportamental e a indicação de medicamentos ansiolíticos ou antidepressivos.

O tratamento do TEPT tem como objetivos:

  • Reduzir os sintomas;
  • Melhorar as habilidades sociais na família, entre amigos e no trabalho;
  • Tratar possíveis evoluções do distúrbio em distimia, depressão, vícios e outras complicações emocionais;
  • Criar um ambiente emocional favorável para a manutenção das atividades do dia a dia.

Psicoterapia

A psicoterapia é o principal tratamento para o transtorno do estresse pós-traumático (TEPT). Aprender sobre o transtorno pode ser um passo inicial importante no tratamento. Os sintomas podem causar confusão extrema e, freqüentemente, é muito útil que as pessoas com o transtorno e seus entes queridos entendam que ele pode incluir sintomas aparentemente não relacionados.

As técnicas de controle do estresse, como respiração e relaxamento, são importantes. Os exercícios que reduzem e controlam a ansiedade (por exemplo, ioga, meditação) podem aliviar os sintomas, além de preparar a pessoa para o tratamento que envolve a exposição estressante a memórias do trauma.

A principal corrente de pensamento favorece o uso de psicoterapia estruturada e focalizada, geralmente um tipo de terapia cognitivo-comportamental (TCC) denominado terapia de exposição que ajuda a apagar o medo deixado pelo evento traumático.

Na terapia de exposição, o terapeuta pede à pessoa afetada que imagine estar nas situações associadas ao trauma anterior. Por exemplo, o terapeuta pode pedir à pessoa que imagine que está visitando o parque em que foi agredida. É possível que o terapeuta ajude a pessoa a reimaginar o próprio evento traumático. Devido à ocorrência de ansiedade, muitas vezes intensa, associada às memórias traumáticas e para que a exposição avance no ritmo certo, é importante que a pessoa sinta que tem apoio. A pessoa que ficou traumatizada pode ser especialmente sensível a ser traumatizada novamente e, portanto, o tratamento pode ficar estacionário se ele for administrado muito rapidamente. Muitas vezes, o tratamento pode mudar, passando de terapia de exposição para um tratamento mais aberto e que presta mais apoio e, com isso, ajudar a pessoa a se sentir mais confortável com a terapia de exposição.

Uma psicoterapia mais abrangente e mais exploratória também pode facilitar o retorno a uma vida mais feliz quando, por exemplo, a pessoa dá enfoque aos relacionamentos que podem ter sido prejudicados pelo TEPT. Outros tipos de psicoterapia de apoio e psicodinâmica também podem ser úteis.

A terapia de dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares (do inglês eye movement desensitization and reprocessing, EMDR) é um tipo de tratamento no qual é pedido à pessoa que acompanhe com os olhos o movimento do dedo do terapeuta enquanto imagina estar exposta ao trauma. Alguns especialistas acreditam que os movimentos dos olhos em si ajudam na dessensibilização, mas a terapia EMDR provavelmente é eficaz devido à exposição e não devido aos movimentos dos olhos.

Farmacoterapia

Os antidepressivos são considerados o tratamento de primeira linha para o TEPT, mesmo para pessoas que não têm transtorno depressivo maior também. Os inibidores seletivos de recaptação da serotonina e outros antidepressivos, como, por exemplo, a mirtazapina e a venlafaxina, costumam ser recomendados com mais freqüência.

Para tratar a insônia e os pesadelos, às vezes o médico receita medicamentos, como a olanzapina e a quetiapina (também usadas como medicamentos antipsicóticos) ou a prazosina (também usada para tratar a hipertensão arterial). No entanto, esses medicamentos não tratam o TEPT propriamente dito, sendo apenas coadjuvantes.

Vivendo melhor com o transtorno

Além do tratamento há medidas que você poderá adotar na sua vida que podem causar conforto e melhorar a sua vivência:

  • Pratique atividades físicas regularmente: melhora não só a nossa a nossa estrutura corporal, como também traz diversos benefícios ao nosso organismo, como melhorias na circulação e liberação de endorfina e serotonina;
  • Aposte em atividades em grupo: seja no esporte ou por hobby, essa prática irá ajudar na sua capacidade de socialização;
  • Meditação e outras técnicas de relaxamento podem ser extremamente eficazes em momentos críticos, além de trazer mais equilíbrio emocional para sua vida;
  • Evite hábitos ruins: álcool, fumo e droga alteram sua condição mental e de saúde;
  • Ambiente harmônico: seja no trabalho ou em casa, conviver em ambientes de afeto e produtividade irá promover motivação em seguir em frente;
  • Faça terapia: a terapia irá tratar desde os seus sintomas referentes ao TEPT, como também lhe dará outras ferramentas importantes para você se desenvolver como pessoa, como o autoconhecimento e inteligência emocional.

Redes neurais e solução de problemas por inteligência artificial

Este é o melhor vídeo que encontrei falando sobre o tema. Muito interessante para quem está estudando o funcionamento de redes neurais, aprendizado de máquina, inteligência artificial, evolução, seleção natural e biologia.

I programmed some creatures. They Evolved. | davidrandallmiller

This is a report of a software project that created the conditions for evolution in an attempt to learn something about how evolution works in nature. This is for the programmer looking for ideas for interdisciplinary programming projects, or for anyone interested in how evolution and natural selection work.

Before commenting on the religious/theological implications of this simulation, please note that this video in no way purports to explain all the mysteries of life and the universe.