Este texto é direcionado a quem não tem conhecimento algum sobre Linux.
Índice
1 Introdução
2 O que é o Linux?
3 Estrutura do Linux
4 Vídeo explicativo
1 Introdução
A maioria das pessoas que lida com computadores está acostumada a trabalhar com o sistema da Microsoft chamado Windows. Em suas diversas versões, há décadas é o sistema mais usado pelo usuário doméstico comum. Muitos usam as pastas pré-definidas de trabalho, como ”Meus Documentos” e ”Área de Trabalho”, e raramente vasculham a fundo o sistema operacional. Apenas os chamados Power Users (usuários avançados) ou quem faz manutenção profissionalmente conhecem os programas internos de manutenção e as ferramentas do sistema, como o ”Gerenciamento do computador”, ”Agendador de tarefas”, ”Editor de políticas de grupo” ou o ”Editor de Registro”.
O que o usuário doméstico comum faz é usar os programas de escritório como Microsoft Office ou Adobe Acrobat e lutar contra a impressora (que juramos ter alguma coisa contra a gente). Também há quem edite fotos e vídeos, navegue pela rede (como você provavelmente está fazendo agora) ou jogue no PC. Essa ampla quantidade de pessoas não se importa muito sobre como funciona o sistema operacional, desde que encontre os arquivos que salvou e que os programas rodem sem travar.
Mas não é só isso. As pessoas sempre são reticentes a mudanças, principalmente em algo que sabem que está funcionando. Se não está quebrado, por que consertar? Isso se mostra evidente nas novas versões do Windows, em especial o Windows 11 que vem trazendo muito mais problemas do que soluções a seus usuários. Mesmo os usuários domésticos comuns estão sentindo dificuldades para lidar com as idiossincrasias desse novo sistema e com o futuro anunciado do Windows.
O Windows está se encaminhando para se tornar não mais um sistema operacional como produto, mas sim como serviço. Deixe-me explicar usando a Adobe como exemplo. Há um tempo, até o Adobe Acrobat Pro XI, o Acrobat era um produto. Você comprava a licença e o programa era seu. Depois, a partir do Adobe Acrobat DC (de documenting cloud), passou a ser um serviço por assinatura. Para usar você precisa estar conectado à internet e validar sua chave periodicamente, do contrário não consegue mais usar o programa. O Windows está aparentemente se encaminhando para esse tipo de modalidade de negócios haja vista suas mudanças.
Telemetria (envio de seus dados sem seu conhecimento), violações de privacidade, remoção de opções e configurações, ou coisas simples como o manejo de janelas e os atalhos do botão direito, são elementos que estão fazendo com que usuários domésticos de longa data do Windows estejam cada vez mais insatisfeitos com o produto/serviço da Microsoft, tendo de procurar alternativas ou pedir ajuda para poder bem usar o sistema. Acontece que a maioria dessas pessoas mantém-se presa ao Windows, por desconhecimento de como funcionam as alternativas a ele.
Existem diversos outros sistemas operacionais. Como o Windows é o maior, a maioria dos programas roda nele. Mas é perfeitamente possível emular, isto é, usar os programas que você está acostumado a usar no Windows em outro sistema operacional. Isso sem contar que os principais programas têm versões para outros sistemas operacionais, e aqueles programas que não as têm são facilmente substituídos por concorrentes à altura.
2 O que é Linux?
Um sistema operacional é um programa que faz a conexão entre o usuário e a máquina. Ou seja, para fazer com que o hardware funcione e permitir que outros programas rodem, é necessário um programa especial, que é o sistema operacional. É o sistema operacional que provê a interface entre o usuário e a máquina. Os principais são o Unix/BSD e seus derivados, como o MacOs da Apple, o ChromeOS para notebooks específicos, o MS-DOS e o Windows, de que estamos falando, e os sistemas de Mainframe, que não abordarei aqui. Há também sistemas descontinuados como o AmigaOS e o OS/2 da IBM. Este último ainda é usado em máquinas bem antigas.
O Linux é uma família de sistemas operacionais livres (totalmente gratuitos) baseadas no mesmo padrão de funcionamento. Cada membro da família é chamado de Distribuição. Assim, o que funciona num, deve funcionar no outro. É um sistema muitíssimo usado fora do ambiente doméstico, especialmente como sistema empresarial. O sistema Android dos celulares, por exemplo, é derivado do Linux.
Por ser um sistema livre e facilmente modificável, a aparência e o funcionamento do sistema Linux é totalmente configurável. A distribuição WindowsFX, por exemplo, procura ser idêntica ao Windows10/11 tanto na aparência quanto nas opções ao usuário. Também é possível deixar o Linux com a ”cara” do Windows 95, ou do MacOS, da Apple.
Ou seja, se você estiver reticente em mudar por conta da aparência, ”de encontrar onde ficam as coisas”, de como manejar janelas, de como atualizar, de como gerenciar etc. fique tranqüilo: já resolveram isso para você. Existe uma distribuição exatamente como você quer, basta procurar ou você mesmo configurar com meia dúzia de cliques.
E quanto ao uso? Bem, se você é um usuário doméstico comum, não tem diferença alguma. Todos os seus arquivos e configurações serão salvos na pasta Home, o equivalente a ”Meus documentos”. Note que eu disse ”configurações”. Os programas no Linux salvam suas configurações por usuário. Isso significa que se você precisar formatar seu PC, basta salvar a pasta Home. Assim, quando reinstalar seu sistema, suas coisas estarão exatamente como você deixou.
‘Tá, mas o título do texto é ”como mudar para Linux?” e você ainda não disse nada sobre isso…
Tudo bem, a primeira coisa a fazer é escolher sua distribuição. Para fins de ilustração, as famílias são:
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- Famílias Slackware, Arch e Gentoo: indicadas para usuários avançados. Respectivamente em ordem de complexidade, Slackware é voltado para administradores que querem controle total sobre o sistema; Arch é voltado para o estado-da-arte, com as mais avançadas tecnologias disponíveis; Gentoo é o mais complexo de todos, cabendo ao administrador compilar o próprio sistema.
- Famílias Red Hat/Fedora: Meio termo entre Debian e Arch, é de facílima instalação. Indicado para todos os tipos de usuários, têm como objetivo ser um sistema operacional completo, pronto para uso. Diferentemente do Debian, você só consegue escolher um (1) ambiente de trabalho durante a instalação. Então, para quem está começando e vai experimentar um monte de coisas novas, acaba restringindo a ”primeira impressão”.
- Família SUSE: Meio termo entre Fedora e Arch, tem como objetivo ser um sistema completo, pronto para uso, porém atualizado com as tecnologias mais avançadas. Sua configuração é mais amigável do que a do Fedora. É uma excelente primeira impressão do Linux. Vem com os 7 principais desktops para escolher durante a instalação, mas você precisa ou baixar a ISO completa ou ter boa conexão banda larga durante a instalação. Ele precisa de mais memória (8Gb HD e 1,2Gb RAM) que a usada pelo Debian (2,75Gb HD e 600Mb RAM).
- Família Debian: pai da maior família Linux, o Debian é um sistema com foco na estabilidade. Ele é feito para ser a base de outros sistemas operacionais, podendo ser configurado como quisermos e aplicado onde precisarmos.
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Vou exemplificar com minha distribuição de preferência, o Debian (que é a mais indicada para iniciantes e/ou computadores mais fracos). O Linux é um sistema livre, distribuído por repositórios. Todos os arquivos que o compõem podem ser baixados de lá. Há duas formas de fazer a instalação, uma online e outra offline. Na online, a mais recomendada, seu computador deve ter à disposição uma conexão de rede durante a instalação. Nesse caso, o sistema só irá baixar os arquivos de que precisa para a sua máquina específica. Se não puder ou não quiser, pode baixar o S.O. inteiro num pendrive (mínimo 4GB) e o pacote vem com tudo de que precisa. Universidades em todo o mundo têm servidores que o distribuem gratuitamente, tanto online quanto offline, além, é claro, do próprio site oficial do Debian.
A instalação guiada detalhada é a melhor forma de começar a se familiarizar com a nova forma de lidar com a máquina. Ela ajuda passo a passo a configurar o sistema. Sempre selecione Advanced Options e Graphic Advanced Install. Eu, por exemplo, tenho preferência pela instalação completa, inclusive os opcionais. O Debian já vem com praticamente todos os programas de que você precisará.
A primeira coisa que sentirá diferença do uso comparado ao Windows é no uso das senhas. O Linux é muito mais restrito no quesito segurança e não permite que coisas importantes sejam feitas sem senha. Você precisa cadastrar uma senha como administrador (raiz ou root) que tem domínio total sobre o sistema e (se quiser) outra para uma conta de usuário comum, tal como no Windows. Quase ao final da instalação, você escolherá o Desktop Environment (ambiente de trabalho) e é aqui onde a maioria dos novatos encontra dificuldade e sente a maior diferença em relação ao Windows.
No Windows, o ambiente de trabalho é vinculado ao próprio sistema operacional. O Windows Explorer e até certo ponto o extinto Internet Explorer são constitutivos do sistema operacional. Isso significa que quando eles travam, o sistema inteiro trava.
No Linux não. O ambiente de trabalho é um programa como outro qualquer, tal como seu editor de texto ou tocador de música. Do mesmo modo que você escolhe entre Bloco de Notas, Wordpad ou Microsoft Word dependendo de que tipo de texto quer fazer, no Linux você também pode escolher em qual ambiente de trabalho quer trabalhar. O Debian vem com vários para você escolher: Gnome, KDE, MATE, Cinnamon. Eu tenho preferência pelo LXDE por ser simples, leve e direto, embora reconheça que XFCE é mais completo.
Permitir-se experimentar os ambientes de trabalho e fuçar as opções em tudo é a melhor forma de ir se acostumando. Não se preocupe, você não vai estragar nada (nem pode). Como eu disse, todas as configurações são salvas fora do programa, então você pode restaurar as configurações iniciais a qualquer momento. Isso não irá prejudicar qualquer documento seu, pois tudo é salvo em pastas separadas. Veja este vídeo do Fetha Tutoriais: https://www.youtube.com/watch?v=6etzgzqKKhw
A segunda diferença que perceberá é para instalar programas. No Windows, você executa a instalação do programa e o sistema entrega ao programa controle parcial sobre a máquina. No Linux, é bem diferente. Não há um ”instalador”, há apenas os arquivos do programa. Somente o sistema operacional é responsável pelo gerenciamento da máquina, os programas apenas dizem o que ele deve fazer e nunca assumem o controle. Desse modo, se um programa travar, ele não trava o computador.
Para ”instalar” há duas formas. Na primeira você apenas arrasta os arquivos do programa para as pastas de instalação correspondentes e pronto. Para ”desinstalar”, basta apagar os arquivos. Para quem passou a vida acostumado a usar o InstallShield Wizard, e clicar sim >>sim>>sim, é uma diferença notável. Na segunda forma você usa um programa chamado Gerenciador de Pacotes. É como no smartphone quando você usa a PlayStore (gerenciador de pacotes do Android) para instalar um programa. Basta procurar, selecionar, clicar e aguardar baixar e instalar automaticamente. Lembre que o Android é derivado do Linux. Então, se você já usou um smartphone, você já sabe como usar Linux! Veja este vídeo de Diolinux https://www.youtube.com/watch?v=CKGCMjvFZZc
E aquela tela verde cheia de códigos?
Aquele é o Shell. É o equivalente ao Prompt de Comando do Windows. Ele não é necessário para praticamente nada, mas você pode fazer de tudo nele. Em lugar de procurar onde clicar ou manualmente editar opções nos arquivos de configurações, você pode usar o Shell como atalho. Como é um atalho, quem está mais acostumado prefere usá-lo, pois permite que se façam coisas muito mais rapidamente.
Por exemplo, para ”instalar um programa” no Shell basta escrever o comando apt-get install nome-do-programa e ele faz tudo por você. Na prática, para o usuário doméstico, a ”tela verde” é só o console de atalhos. Se não for fazer manutenção, praticamente não irá usá-la. E quando tiver de usar, basta copiar e colar o código de que precisa.

E para transferir meus arquivos?
Todos os arquivos no seu computador ou smartphone ficam salvos no seu HDD ou SSD, incluindo o sistema operacional. O modo como eles ficam salvos chama-se ”sistema de arquivos”. O Windows chama o seu sistema de arquivos de NTFS (FAT32 antigamente) e o Linux tem vários, dependendo de como é feita a instalação. No caso do Debian é o ext4. Para você, usuário, não faz diferença alguma até o ponto em que vai transferir dados de um HD para outro. Se você transferir de PC para PC, não tem problema: os PC’s se comunicam por rede e é só arrastar e soltar os arquivos. Mas se você precisar plugar o HD na máquina dá erro no Windows. O Windows não reconhece as partições Linux, embora o Linux reconheça as partições do Windows.
Em miúdos: se você tem um HD do Windows, pode simplesmente plugá-lo num computador com Linux e continuar trabalhando de onde parou, mas o contrário dá mais trabalho. Por isso, muita gente que começa no Linux tende a usar 2 HD’s, um para o Linux e outro (externo) com o backup dos arquivos. Assim, se decidir/precisar voltar a usar o Windows, não terá problema em voltar de onde parou. De qualquer modo, é sempre conveniente e recomendado ter backups de seus dados.
- É possível usar duas partições no mesmo disco, mas não quero abordar partições ou GRUB neste texto.
3 Estrutura do Linux
Agora se você é daqueles usuários que gostam de futucar as pastas que não deve no Windows, então deve estar pensando em também futucar o Linux. Cuidado. O Linux assume que se você está mexendo como administrador, motivo você tem, e ele não vai te impedir de fazer nada. Você até pode apagar a pasta que dá o arranque (boot) da máquina!
A estrutura do Linux é diferente do Windows. No Windows você usualmente tem o disco (C:) onde são instalados o Windows (C:\Windows), os programas (C:\Program Files) e as pastas para os usuários (C:\Users\Seu Nome\Desktop). Essas pastas contêm arquivos que são usados por você e pelo sistema operacional.
No Linux, tudo é arquivo. Parece estranho no começo, mas faz sentido. Todas as coisas que seu computador faz é manipular arquivos, então ”pastas” são arquivos que apontam para a localização dos arquivos que você quer, os discos são arquivos que apontam para pastas, cada peça de hardware (câmera, microfone, HD’s, monitor, impressora), tudo é arquivo. Não se preocupe, tudo é exibido normalmente para você como pastas, dispositivos e arquivos, só estou explicando que o Sistema Operacional vê tudo como arquivo.
Isso significa que o Linux funciona independentemente do HD (pode rodar de um CD ou pendrive!). E que até os processos no processador também são arquivos. Se estiver no Windows agora, tecle CTRL+SHIFT+ESC. No Gerenciador de Tarefas, tanto a aba ”Processos” quanto a aba ”Serviços” exibirão o que está acontecendo em segundo plano no seu sistema. Essas coisas também são arquivos para o Linux.
Todas essas coisas estão organizadas em ”pastas” na raiz do sistema, indicada como uma barra (”/”). O Linux usa barra (”/”) enquanto que o Windows usa contra-barra (”\”). As pastas seguem a seguinte definição:
/boot; | Aqui estão os arquivos que fazem o computador ligar. Não mexa. |
/bin /sbin | Arquivos binários que compõem a base do sistema operacional. Não mexa. |
/lib, /lib32, /lib64 | Arquivos compartilhados por vários programas, as chamadas ”bibliotecas”. Não mexa. |
/cdrom /mnt /media /dev | Nestas pastas o seu sistema coloca os seus dispositivos. O termo que se usa é ”montar”. Os HD’s, leitores/gravadores de disco, impressoras, digitalizadores e outros devices ficam aqui. O sistema cuida de tudo para você, mas se precisar montar manualmente alguma coisa, sempre use o /mnt |
/snap /opt | Pastas opcionais. Tudo o que não é integrado ao sistema operacional. A maioria dos programas instalados manualmente vem para cá, bem como os programas executáveis (aqueles que não precisam de instalação). |
/etc | Literalmente a pasta et cetera. Aqui ficam todas as configurações gerais do sistema, válidas para todos os usuários. |
/proc /run /sys | Processos, serviços, programas e sistema. Não são pastas/arquivos de verdade É o que está na memória RAM. Eles não estão escritos em nenhum lugar e não são salvos. São todos apagados quando você desliga a máquina. |
/srv | Programas servidores. Servidores de internet, de e-mail, bases de dados são adicionados aqui. Praticamente não usado por usuários domésticos (fica vazio). |
/var | Arquivos variáveis, ou seja, que se modificam muito com o tempo, como os logs de sistema. |
/tmp | Arquivos temporários. Por exemplo, quando você escreve um texto, ele está na memória RAM antes de ser salvo. Esse arquivo na memória RAM vai aparecer aqui. |
/usr | Pasta que contém os programas instalados. Enquanto /bin e /sbin contêm o sistema operacional, os programas instalados são postos separadamente aqui. Como cada programa tem sua própria estrutura independente, a pasta é bastante complexa. Evite mexer. |
/root | Pasta do administrador do sistema. Pode ver tudo de todos os usuários. É a /home do administrador. |
/home | Pasta de usuário comum, onde ficam seus documentos e todas as suas configurações (aparência da área de trabalho, ícones, configurações de cada programa etc). Cada usuário tem sua própria pasta (com seu nome) e só pode acessar a própria pasta. Pode ser no mesmo disco ou em um HD separado. |
A família Linux de sistemas operacionais é gratuita, leve, segura e bastante robusta. Minha preferência pelo Debian se deve ao fato de ser a distribuição mais estável e a mais simples de todas, mas nada te impede, caro leitor, de experimentar outras. Faça um teste. Experimente por um mês ou dois e decida se vale a pena continuar com o Windows como seu sistema principal. Procure também informações sobre Máquinas Virtuais.
4 – Vídeos explicativos
Todos os Ambientes do Debian Bullseye | Leandro Ramos
Linux File System/Structure Explained! | DorianDotSlash
MÁQUINAS VIRTUAIS: TUTORIAL COMPLETO | Viva de TI