A visão exclusória da Igreja Católica (boa parte de seus sacerdotes e seguidores) acerca das demais denominações cristãs fomenta uma divisão que ao meu ver é deletéria ao poder político/temporal dos cristãos. São inegáveis as conquistas e os avanços sociais influenciados pela Reforma Protestante. Também é muito importante a sobrevivência da Igreja Ortodoxa na Europa oriental, mesmo após a perseguição comunista durante a era soviética: ela continua sendo parte importante do corpus da cultura tradicional daqueles povos.
Essa visão exclusória, sobre a qual já discorri em Todos os ateus são pessoas más?, impede a unidade cristã enquanto grupo político tão somente por divergências doutrinárias, dogmáticas e ritualísticas. Nestes tempos em que forças negras congregam-se para transviar o homem ocidental, estupefaz-me ver padres católicos alimentando discórdia, menoscabando a crença de outras pessoas com discursos arrogantemente ignorantes.
Há um imenso mal tomando forma no mundo, imiscuindo-se sorrateiramente em cada canto, e, em lugar de comporem um discurso de aliança pelo bem, alimentam discórdia por mera mesquinharia. É muito mais fácil combater um grupo oponente cheio de divisões e conflitos internos. Os maus, que são muito bem unidos e organizados, viram essa fraqueza, aproveitam-se dela, e agora estão vencendo, mesmo estando em menor número.
Este deveria ser o momento para católicos, protestantes e ortodoxos unirem-se em uma coesa força política para defenderem princípios e valores que são comuns a todos. Porém, parece-me que a Igreja Católica não acompanhou a evolução política contemporânea. A Igreja Católica se corrompeu, traiu seus fiéis, abandonou seu rebanho. A Teologia da Libertação, braço comunista dentro da Igreja que o excomunga, tomou corpo, força, poder.
E em lugar de expurgar o mal de dentro de suas próprias falanges, infestadas por pedófilos e estelionatários, a Igreja Católica preocupa-se mais em manter a máscara de imaculada representante do divino na terra em suas homilias.
75 A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes ao ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.
79 É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, insignemente erguida, equivale à cruz de Cristo.
Dr. Martinho Lutero, 1517.
Fonte: https://pt.aleteia.org/2018/04/20/as-13-diferencas-entre-os-catolicos-e-os-orientais-ortodoxos/
Fonte original: artigo de D. Estevão Bettencourt, osb, na revista Pergunte e Responderemos, nº 480, ano 2002, pág. 200.
O texto abaixo está transcrito tal como se encontra na fonte. Importante levar em consideração que ele é escrito a partir da perspectiva da Igreja Católica.
As 13 diferenças entre os católicos e os orientais ortodoxos
1. Primado do Papa
Alega a teologia ortodoxa que a jurisdição universal e suprema do Papa implica que os outros bispos são subordinados a ele como seus representantes.
A esta concepção responde o Concílio do Vaticano II: “Aos Bispos é confiado plenamente o ofício pastoral ou o cuidado habitual e cotidiano das almas. E, porque gozam de um poder que lhes é próprio e com toda razão são antístites dos povos que eles governam, não devem ser considerados vigários (representantes) do Romano Pontífice” (Constituição Lumen Gentium 27).
O primado do Bispo de Roma ou do Papa garante a unidade e a coesão da Igreja, preservando-a de iniciativas meramente pessoais e subjetivas.
2. Infalibilidade papal
Em 1870, fazendo eco a antiga crença dos cristãos, o Concílio do Vaticano I declarou o Papa infalível quando fala em termos definitivos para a Igreja inteira em matéria de fé de Moral. – A teologia ortodoxa oriental alega que esta definição extingue a autoridade dos Concílios.
Respondemos que os Concílios gerais ou universais têm plena razão de ser, desde que o Papa deles participe (por si ou por seus delegados) e aprove as suas conclusões. Em nossos dias mais e mais se tem insistido sobre a colegialidade dos Bispos.
3. A processão do Espírito Santo a partir do Filho (“Filioque”)
Esta concepção da Igreja Católica decorre do fato de que “em Deus não há distinções a não ser onde haja oposição relativa”. Se, portanto, entre o Filho e o Espírito Santo não há a distinção de Espirante e espirado, um não se distingue do outro ou o Filho e o Espírito Santo são uma só Pessoa em Deus. Verdade é que Jesus em Jo 15, 26 diz que o Espírito procede do Pai; o Senhor, porém, não tenciona propor aí uma teologia sistemática, mas põe em relevo um aspecto da verdade sujeito a ser completado pela reflexão.
Na verdade, a questão em foco é mais de linguagem do que de doutrina, como foi demonstrado em PR 442/1999, pp. 120ss. Os orientais preferem dizer que o Espírito Santo procede do Pai através do Filho – o que pode ser conciliado com a posição dos ocidentais.
NdR: “Filioque” é o termo latino que quer dizer “e do Filho”, rezado no Credo quando fala do Espírito Santo: “Qui ex Patre Filioque procedit”, ou seja, “que procede do Pai e do Filho”.
4. Purgatório
Os orientais não tiveram dificuldade para aceitá-lo até o século XIII. Em 1231 ou 1232, o metropolita Georges Bardanes, de Corfu, pôs-se a impugnar o presumido fogo do purgatório, pois na verdade não há fogo no purgatório. Os teólogos orientais subseqüentes apoiaram a contestação (muito justificada) de G. Bardanes. Mas nem por isto negaram um estado intermediário entre a vida terrestre e a bem-aventurança celeste para as almas daqueles que morrem com resquícios de pecado; estes seriam perdoados por Deus em vista da oração da Igreja; estariam assim fundamentados os sufrágios pelos defuntos.
A absoluta recusa do purgatório só ocorreu entre os orientais no século XVII sob a influência de autores protestantes. Daí por diante a teologia oriental está dividida; há muitos teólogos ortodoxos que admitem um estado intermediário entre a morte e a bem-aventurança celeste como também reconhecem o valor dos sufrágios pelos defuntos.
5. A Imaculada Conceição de Maria
Esta é, por vezes, confundida com um pretenso nascimento virginal de Maria Santíssima (Santa Ana teria concebido sua filha sem a colaboração de São Joaquim). Já que tal concepção virginal carece de sólido fundamento, também a Imaculada Conceição é posta em dúvida pelos orientais. Ocorre, porém, que a literatura e a Liturgia dos ortodoxos enaltecem grandemente a total pureza de Maria, professando a mesma coisa que os ocidentais, ao menos de modo implícito, sem chegar a formular um dogma de fé a respeito.
6. A Assunção de Maria Santíssima
Foi proclamada como dogma de fé em 1950 pelo Papa Pio XII, de acordo com a tradição teológica ocidental e oriental. Merece especial atenção a iconografia oriental, que representa de maneira muito expressiva a Virgem sendo assumida aos céus por seu Divino Filho. Na verdade, o que fere os orientais, não é a proclamação da Assunção; mas a promulgação do dogma (como no caso da Imaculada Conceição).
7. Batismo por infusão ou aspersão da água
Dizem os teólogos ocidentais que o importante no Batismo é o contato da água com o corpo da pessoa, simbolizando purificação. Se o sacramento é um sinal que realiza o que significa, a água batismal significa e realiza a purificação da alma.
8. Epiclese
Os orientais julgam essencial na Liturgia Eucarística a Invocação do Espírito Santo (epiclese) antes das palavras da consagração; ora estas faltam no Cânon Romano (Oração Eucarística nº 1), pois os latinos julgam que a consagração do pão e do vinho se faz pela repetição das palavras de Cristo: “Isto é o meu corpo… Isto é o meu sangue…”.
Acontece, porém, que as Orações Eucarísticas compostas depois do Concílio (1962-65) têm a epiclese não para corrigir uma pretensa falha anterior, mas para guardar uma antiga tradição.
9. Pão ázimo
Jesus, em sua última ceia, observou o ritual da Páscoa judaica, que prescrevia (e prescreve) o uso do pão ázimo ou não fermentado. A Igreja Católica guardou o costume na celebração da Eucaristia. Está bem respaldada. O uso do pão fermentado não é excluído, pois, em última análise, se trata sempre de pão.
10. A Comunhão Eucarística sob as espécies do pão apenas
Até o século XII a Comunhão era ministrada sob as duas espécies; o uso foi abolido por causa de inconvenientes que gerava (profanação, sacrilégios…).
Todavia, após o Concílio, já é permitido dar a Comunhão sob as duas espécies a grupos devidamente preparados.
11. Unção dos Enfermos
Baseados em Tg 5, 14s, os orientais ortodoxos têm a Unção dos Enfermos como sacramento. Divergem, porém, dos ocidentais em dois pontos:
- a Unção não é reservada aos gravemente enfermos nem tem a marca de preparação para a morte, mas, ao contrário, vem a ser um rito de cura para qualquer enfermo;
- a Unção, no Oriente, tem forte caráter penitencial, a tal ponto que ela é conferida também aos pecadores, mesmo sadios, a título de satisfação pelos pecados.
Pode-se dizer, portanto, que a Unção “dos Enfermos” nas comunidades orientais ortodoxas é dada a todos os fiéis que tenham algum problema de saúde corporal ou espiritual. Isto ocorre especialmente na Semana Santa entre os russos.
Essas diferenças, que não são das mais graves, foram muito exploradas nos debates entre latinos e gregos. Os ocidentais reservam a Unção para os casos de moléstias graves ou sério perigo de vida.
12. Divórcio
Baseados em Mt 5, 32 (= Mt 19, 9) e contrariamente ao que se lê em Mc 10, 11s; Lc 16, 18; 1Cor 7, 10s, os ortodoxos reconhecem o divórcio. A Igreja Católica não interpreta São Mateus em sentido contrário ao de Marcos, Lucas e Paulo; portanto não reconhece o divórcio de um matrimônio sacramental validamente contraído e consumado, mas julga que em Mt 5 e 19 se trata da dissolução de um casamento tido pela Lei de Moisés como ilícito. Ulteriores dados podem ser encontrados em PR 473/2001, pp. 453ss.
13. Celibato do Clero
Seria “uma restrição imposta nos séculos posteriores, contrária à decisão do primeiro Sínodo Ecumênico (325)”. Que há de verídico nisso?
O celibato do clero tem seu fundamento em 1Cor 7, 25-35, onde São Paulo recomenda a vida una ou indivisa. Esta foi sendo praticada espontaneamente pelo clero até que, em 306 aproximadamente, o Concílio regional de Elvira (Espanha) a sancionou para os eclesiásticos de grau superior. A legislação de Elvira foi-se propagando no Ocidente por obra de outros concílios regionais.
Ao contrário, os orientais estipularam que, após a ordenação, os clérigos de grau superior (ou do diaconato para cima não poderiam contrair matrimônio, mas eram autorizados a manter o uso do matrimônio os que tivessem casado antes da ordenação. O Concílio de Niceia I (325) rejeitou a proposta segundo a qual o celibato no Oriente seria observado sem exceções, como no Ocidente; isto, por protesto do Bispo egípcio Pafnúncio, o qual guardava pessoalmente o celibato. Os Bispos orientais são todos celibatários e, por isto, recrutados entre os monges.
Como se vê, algumas das diferenças apontadas são disciplinares e não impedem a volta à unidade de cristãos orientais e ocidentais. Podem-se admitir o pão fermentado na Eucaristia, a obrigatoriedade da epiclese, o clero casado… O maior obstáculo é o do primado do Papa. Paulo VI e João Paulo II demonstraram ter consciência do problema, que poderá ser resolvido satisfatoriamente. Eis o que escreve João Paulo II em sua encíclica Ut Unum Sit datada de 25/05/95:
“Entre todas as Igrejas e Comunidades Eclesiais, a Igreja Católica está consciente de ter conservado o ministério do sucessor do Apóstolo Pedro, o Bispo de Roma, que Deus constituiu como perpétuo e visível fundamento da unidade e que o Espírito ampara para que torne participantes deste bem essencial todos os outros. Segundo a feliz expressão do Papa Gregório Magno, o meu ministério é de servus servorum Dei… Por outra parte, como pude afirmar por ocasião do Encontro do Conselho Mundial das Igrejas em genebra aos 12 de junho de 1984, a convicção da Igreja Católica de, na fidelidade à Tradição apostólica e à fé dos Padres, ter conservado, no ministério do Bispo de Roma, o sinal visível e o garante da unidade, constitui uma dificuldade para a maior parte dos outros cristãos, cuja memória está marcada por certas recordações dolorosas. Por quanto sejamos disso responsáveis, como o meu Predecessor Paulo VI, imploro perdão” (N] 88). “Com o poder e a autoridade sem os quais tal função seria ilusória, o Bispo de Roma deve assegurar a comunhão de todas as Igrejas. Por este título, ele é o primeiro entre os servidores da unidade. Tal primado é exercido em vários níveis, que concernem à vigilância sobre a transmissão da Palavra, a celebração sacramental e litúrgica, a missão, a disciplina e a vida cristã. Compete ao sucessor de Pedro recordar as exigências do bem comum da Igreja, se alguém for tentado a esquecê-lo em função dos interesses próprios. Tem o dever de advertir, admoestar e, por vezes, declarar inconciliável com a unidade da fé esta ou aquele opinião que se difunde. Quando as circunstâncias o exigirem, fala em nome de todos os Pastores em comunhão com ele. Pode ainda – em condições bem precisas, esclarecidas pelo Concílio do Vaticano I – declarar ex cathedra que uma doutrina pertence ao depósito da fé. Ao prestar este testemunho à verdade, ele serve à unidade” (Nº 94). “Dirigindo-me ao Patriarca Ecumênico Sua Santidade Dimitrios I, disse estar consciente de que, ‘por razões muito diferentes, e contra a vontade de uns e outros, o que era um serviço pôde manifestar-se sob uma luz bastante diversa’. Mas … é com o desejo de obedecer verdadeiramente à vontade de Cristo que eu me reconheço chamado, como Bispo de Roma, a exercer este ministério… O Espírito Santo nos dê sua luz e ilumine todos os pastores e os teólogos das nossas Igrejas, para que possamos procurar, evidentemente juntos, as formas mediante as quais este ministério possa realizar um serviço de amor, reconhecido por uns e por outros” (nº 95).
Como se vê, o Papa não abdica (nem pode abdicar) do seu ministério, que garante a unidade da Igreja, mas pede que os estudiosos proponham modalidades de exercício desse ministério que satisfaçam a todos os cristãos. – Queira o Espírito inspirar os responsáveis para que realmente colaborem para a solução das dificuldades que os cristãos não católicos enfrentam no tocante ao primado do Papa!
A propósito, muito se recomenda a leitura da encíclica Ut Unum Sint (Que todos sejam um), sobre o empenho de São João Paulo II em favor da união dos cristãos.