A polarização entre Ocidente e Oriente

Cavando nas profundas minas digitais em meu computador, encontrei um artigo de 2012 falando sobre parte da origem da animosidade de muçulmanos (e outros povos orientais) para com o ocidente. Achei pertinente compartilhar.


Autor: Antônio Gonçalves Filho
27 de julho de 2012
Dois historiadores discutem origens e evolução do domínio europeu sobre o restante do mundo, propondo uma reflexão sobre o fim de uma era marcada pela supremacia da civilização ocidental.

A desconfiança de que estejamos chegando ao fim de 500 anos de supremacia ocidental fez com que dois historiadores da Grã-Bretanha publicassem simultaneamente dois livros que tratam do choque traumático entre duas civilizações, a ocidental e a oriental. Lançados no ano passado [2011], na Inglaterra, esses dois títulos – Guerra Santa, de Nigel Cliff, e Civilização, de Niall Ferguson – chegam agora traduzidos ao mercado brasileiro. No primeiro, seu autor, um jovem crítico inglês que trabalha para o jornal The Times, reconta a história das três viagens de Vasco da Gama ao Oriente no fim do século 15, retratando-o como um aventureiro ambicioso e cruel que buscou não só uma rota alternativa para as Índias. A mando do rei Manuel I, ele embarcou numa cruzada marítima que tinha como objetivo expandir o domínio português e massacrar muçulmanos, então senhores do comércio de especiarias.

No segundo livro, Ferguson afirma que o navegador português e seus homens, vivendo num mundo polarizado pela fé, se dedicaram a um espetáculo de violência inaudita – mutilação de tripulantes de navios capturados, incêndio de naus com fiéis a caminho de Meca – por acreditar que a melhor defesa é o ataque. Havia, segundo Ferguson, um traço de crueldade em Vasco da Gama e nos 170 homens que seguiram esse jovem de 28 anos na aventura de abrir uma rota marítima da Europa à Ásia. Atrás de um mítico rei cristão, que governaria um reino oriental e poderia servir de aliado, eles lutaram contra fortes correntes marítimas para torturar antípodas e banir o Islã, que havia bloqueado o acesso da Europa ao Oriente. Ferguson diz que os homens de Lisboa demonstraram uma brutalidade que até mesmo os chineses raras vezes manifestaram.

O troco pode vir agora, cinco séculos depois: Ferguson não só acredita como aposta no ocaso da supremacia ocidental. Para chegar a essa conclusão, a exemplo do colega Nigel Cliff, fez acurada pesquisa histórica, concluindo que o passado não está morto, mas vivo e atuante no presente. O verdadeiro significado da história, defende, vem justamente dessa justaposição. Cliff parece concordar. Em entrevista por telefone, de Londres, ele identifica certa semelhança entre a auto-imagem que Vasco da Gama alimentou de super-herói lutando contra “infiéis” muçulmanos e aquela que os fanáticos do Islã devem ter de si mesmos, ao declarar uma “guerra santa” contra o Ocidente cristão.

O livro de Cliff recebeu sérias críticas por isso lá fora. Eric Ormsby, numa resenha para o jornal The New York Times, refuta essa idéia de “choque de civilizações”, termo emprestado de um livro de Samuel P. Huntington (O Choque de Civilizações, Editora Objetiva, 1997). Para ele, o verdadeiro conflito do mundo contemporâneo não seria entre o mundo cristão e o Islã, mas entre nossa secular cultura consumista e um esquema mental rígido e absolutista como o muçulmano. O antagonismo entre cristãos e muçulmanos, na época de Vasco da Gama, teria sido puramente mercantilista, acrescenta Ormsby. Afinal, os portugueses, argumenta, caíram de joelhos diante da exuberância das cortes muçulmanas que visitavam. Os muçulmanos, ao contrário, desprezaram a cultura européia, por considerá-la “inferior”.

Nessa viagem em busca de aliados cristãos, os portugueses fizeram, portanto, mais inimigos que amigos. Os muçulmanos haviam penetrado o continente africano e a Índia de maneira mais profunda do que imaginavam Vasco da Gama e seus homens. Ainda assim, quando o navegador chegou ao Oceano Índico, fundando colônias e plantando igrejas em cada ponto do território, a supremacia do Islã foi posta em discussão. A vasta riqueza em recursos naturais – metais preciosos e especiarias -, ao cair nas mãos dos portugueses, diz Cliff, fez Vasco da Gama disparar o “tiro de partida nos longos e plenos séculos de imperialismo ocidental na Ásia”. O historiador classifica de “sonho louco” o da última cruzada – marítima, no caso -, mas diz acreditar que Vasco da Gama e seus seguidores foram movidos por “sincera” fé religiosa.

Essa crença, garante Cliff, era também a do jovem rei Manuel – “ele imaginava que a mão divina impelia as explorações portuguesas”. Portugal, por ser uma terra nascida das Cruzadas, teria injetado na veia messiânica do rei a crença de que o próprio Espírito Santo o tinha inspirado “a inaugurar uma nova era global do cristianismo” em pleno limiar do século 16. Conclusão: o rei expulsou os muçulmanos de Portugal, embora sem conseguir apagar os traços de sua passagem pelo país (que vão das muralhas do castelo de São Jorge às paredes caiadas de branco).

O livro de Cliff não trata apenas do espírito belicoso de Vasco da Gama. Há também passagens engraçadas. Os portugueses nunca tinham ouvido falar de hindus – nem de budistas ou jainistas – até pisar em solo indiano. Já na África, em Mombaça, a cidade queniana fundada por mercadores árabes, os emissários de Gama, segundo o livro, viram na figura de um deus pombo uma representação do Espírito Santo. Em Calcutá, o grupo de desembarque confundiu templos hindus com igrejas cristãs, mesmo com falos esculpidos nas paredes externas. O fato é que sabiam da abominação do culto à forma humana pelos muçulmanos – e respiravam aliviados por não serem aqueles indianos submissos ao Islã e adorar partes do corpo interditas à veneração no mundo islâmico. O resto era detalhe, até mesmo porque as autoridades indianas censuravam discussões sobre religião em Calcutá.

A ignorância acabou levando os portugueses ao outro lado do mundo”, resume Cliff, descrevendo os horrores pelos quais passaram os homens de Vasco da Gama. O comandante não foi capaz de deixar a Índia quando decidiu partir. Seus homens morriam como gado, com pernas e coxas gangrenadas e gengivas infectadas. “Eles tiveram mortes terríveis, mas acreditavam, como o comandante do navio, que eram cruzados de Cristo”, conta. “Esse sacrifício os livraria da mancha do pecado”, lembra o autor, relatando o cotidiano nessas naus dos insensatos, em que fungos tóxicos contaminavam o pão, provocando vômitos e diarréia, e vermes corroíam os traseiros dos navegantes, que inutilmente tentavam se livrar dos bichos lavando o ânus com limão.

Ventos favoráveis, afinal, impediram que todos morressem nessa aventura atrás de especiarias como cravo, canela e gengibre, que esfregavam nas partes íntimas em busca de comichão erótico – se bem que é impossível imaginar tanto sacrifício por um Viagra natural. Não era o caso do comandante, que teve sete filhos.

Vasco da Gama foi de fato um comandante respeitado, por ser intransigente, firme com o inimigo e astuto na hora de fazer barganhas comerciais com os estrangeiros”, define Cliff, revelando que o título Guerra Santa lhe foi imposto por seu editor. “O original era simplesmente As Viagens de Vasco da Gama, mas a editora considerou-o sem apelo”, diz o escritor, afirmando que o objetivo inicial de seu livro, mais que discutir fanatismo religioso, era o de colocar em discussão as diferenças culturais que provocam as grandes tragédias no mundo.

Se você considerar a fundação de Roma, por exemplo, verá que há sempre a força do mito por trás da união de pessoas em torno de um causa.” Com os portugueses, acrescenta, não foi diferente. “Foi a procura de cristãos do outro lado do mundo que motivou Vasco da Gama a descobrir uma cultura diferente, mas foi também sua certeza religiosa que o levou à ruína”, conclui. De fato, o homem que elevou Portugal a um papel de liderança no comércio de especiarias, morreria longe de sua terra natal. Em Cochim. Na véspera de Natal, como convém a um cristão. E de malária, como era comum na Índia.

Charles Darwin e os brasileiros.

Contribuição de Eduardo Macedo:

Anotações de Darwin do dia 3 de julho de 1832.
Fonte: Dominio Público

O episódio começa quando Darwin tenta se comunicar com um homem escravizado que o acompanhava em um barco. Enquanto o cientista gesticulava de forma efusiva para tentar se fazer entender, acaba aproximando a mão do rosto do homem, que, assustado, baixa os braços: ele pensava que o naturalista queria bater em seu rosto, e abriu a guarda para que este pudesse fazê-lo.

Nunca vou esquecer meu sentimento de surpresa, repugnância e vergonha por ver um homem grande e forte com medo de se defender do que ele pensava ser um tapa em seu rosto. Aquele homem fora treinado para se habituar a um nível de degradação maior do que o da escravização de qualquer animal indefeso.

Já com relação aos senhores, ele prossegue:

“Os brasileiros, até onde consigo avaliar, possuem uma fatia pequena das qualidades que dão dignidade à humanidade. Ignorantes, covardes, indolentes ao extremo; hospitaleiros e amáveis à medida que isso não lhes dê trabalho; temperamentais e vingativos, mas não brigões. Satisfeitos consigo mesmos e com seus costumes, respondem a todas as observações com a pergunta: ‘Por que não podemos fazer como nossos avós antes de nós fizeram?’ A própria aparência reflete a baixa elevação de caráter. Tipos baixos que logo ficam corpulentos; a face possui pouca expressão, aparenta estar afundada entre os ombros. Os monges diferem para pior nesse último aspecto; é preciso pouca fisionomia para ver claramente estampados perseverança ardilosa, volúpia e orgulho.”

Charles Robert Darwin
Naturalista, geólogo e biólogo britânico
* 12/02/1809, Shrewsbury, Reino Unido + 19/04/1882, Downe, Reino Unido

Charles Darwin, c. 1840.

Guerra na Ucrânia – explicando os motivos.

Sucintas explicações sobre o conflito mais importante da atualidade.

Gravitas Plus | Explained: The Russia-Ukraine crisis | WION

The story of the Ukraine-Russia crisis does not begin in 2021, or 2014, It begins in the 9th century.
There was a time when the two countries were one.
There was a time when Ukraine gave its nuclear arsenal to Russia.
Palki Sharma Upadhyay will tell you why Putin wants Ukraine.

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WION -The World is One News, examines global issues with in-depth analysis. We provide much more than the news of the day. Our aim to empower people to explore their world. With our Global headquarters in New Delhi, we bring you news on the hour, by the hour. We deliver information that is not biased. We are journalists who are neutral to the core and non-partisan when it comes to the politics of the world. People are tired of biased reportage and we stand for a globalised united world. So for us the World is truly One.

Análise mais detalhada:

Peter Zeihan | IFTV

At IdeaFestival 2014, Geopolitical strategist Peter Zeihan provides deep insight and context to the rapidly changing global scene and its potential impact on international business, finance and the US. By dissecting global demographic, cultural, political and economic trends, Zeihan paints a fascinating picture of what the interconnected geopolitical landscape could look like in the not too distant future.

Curiosidades sobre a família real brasileira.

Um apanhado de curiosidades sobre a família real Brasileira.

— Santos Dumont almoçava três vezes por semana na casa da Princesa Isabel em Paris.

— A idéia do Cristo na montanha do Corcovado partiu da Princesa Isabel.

— A família imperial não tinha escravos. Todos os negros eram alforriados e assalariados, em todos os imóveis da família.

— D. Pedro II tentou ao parlamento a abolição da escravatura desde 1848. Uma luta contra os poderosos fazendeiros por 40 anos.

— D. Pedro II falava 23 idiomas, sendo em que 17 era fluente.

— A primeira tradução do clássico árabe ”Mil e uma noites” foi feita por D. Pedro II, do árabe arcaico para o português do Brasil.

— D. Pedro II doava 50% de sua dotação anual para instituições de caridade e incentivos para educação com ênfase nas ciências e artes.

— D. Pedro Augusto Saxe-Coburgo era fã assumido de Chiquinha Gonzaga.

— Princesa Isabel recebia com bastante freqüência amigos negros em seu palácio em Laranjeiras para saraus e pequenas festas. Um verdadeiro escândalo para época.

— Na casa de veraneio em Petrópolis, Princesa Isabel ajudava a esconder escravos fugidos e arrecadava numerários para alforriá-los.

— Os pequenos filhos da Princesa Isabel possuíam um jornalzinho que circulava em Petrópolis, um jornal totalmente abolicionista.

— D. Pedro II recebeu 14 mil votos na Filadélfia para a eleição Presidencial, devido sua popularidade, na época os eleitores podiam votar em qualquer pessoa nas eleições.

— Uma senhora milionária do sul, inconformada com a derrota na guerra civil americana, propôs a Pedro II anexar o sul dos Estados Unidos ao Brasil, ele respondeu literalmente com dois ”Never!” bem enfáticos.

— Pedro II fez um empréstimo pessoal a um banco europeu para comprar a fazenda que abrange hoje o Parque Nacional da Tijuca. Em uma época que ninguém pensava em ecologia ou desmatamento, Pedro II mandou reflorestar toda a grande fazenda de café com mata atlântica.

— Quando D. Pedro II do Brasil subiu ao trono, em 1840, 92% da população brasileira era analfabeta.

Em seu último ano de reinado, em 1889, essa porcentagem era de 56%, devido ao seu grande incentivo a educação, a construção de faculdades e, principalmente, de inúmeras escolas que tinham como modelo o excelente Colégio Pedro II.

— A Imperatriz Teresa Cristina cozinhava as próprias refeições diárias da família imperial apenas com a ajuda de uma empregada (paga com o salário de Pedro II).

— (1880) O Brasil era a 4º economia do Mundo e o 9º maior Império da história.

— (1860 – 1889) A média do crescimento econômico foi de 8,81% ao ano.

— (1880) Eram 14 impostos, atualmente são 98.

— (1850 – 1889) A média da inflação foi de 1,08% ao ano.

— (1880) A moeda brasileira tinha o mesmo valor do dólar e da libra esterlina.

— (1880) O Brasil tinha a segunda maior e melhor marinha do Mundo, perdendo apenas para a da Inglaterra.

— (1860 – 1889) O Brasil foi o primeiro país da América Latina e o segundo no mundo a ter ensino especial para deficientes auditivos e deficientes visuais.

— (1880) O Brasil foi o maior construtor de estradas de ferro do mundo, com mais de 26 mil km.

— A imprensa era livre tanto para pregar o ideal republicano quanto para falar mal do nosso Imperador.

— ”Diplomatas europeus e outros observadores estranhavam a liberdade dos jornais brasileiros” conta o historiador José Murilo de Carvalho.

— Mesmo diante desses ataques, D. Pedro II se colocava contra a censura. ”Imprensa se combate com imprensa”, dizia.

— O maestro e compositor Carlos Gomes, de ”O Guarani”, foi sustentado por Pedro II até atingir grande sucesso mundial.

— Pedro II mandou acabar com a guarda chamada Dragões da Independência por achar desperdício de dinheiro público. Com a república, a guarda voltou a existir.

— Em 1887, Pedro II recebeu os diplomas honorários de Botânica e Astronomia pela Universidade de Cambridge.

— A mídia ridicularizava a figura de Pedro II por usar roupas extremamente simples, e o descaso no cuidado e manutenção dos palácios da Quinta da Boa Vista e Petrópolis. Pedro II não admitia tirar dinheiro do governo para tais futilidades. Alvo de charges quase diárias nos jornais, mantinha a total liberdade de expressão e nenhuma censura.

— D. Pedro II andava pelas ruas de Paris em seu exílio sempre com um saco de veludo ao bolso com um pouco de areia da praia de Copacabana. Foi enterrado com ele.

 

Fontes:

Biblioteca Nacional – RJ,

Instituto Moreira Salles – RJ,

Diário de Pedro II

Acervo Museu Imperial de Petrópolis – RJ,

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – RJ

Fundação Getúlio Vargas

Museu Nacional – RJ (ou o que sobrou dele)

Bibliografia de José Murilo de Carvalho

 

 

1964 – O Brasil entre armas e livros