Por que cada vez mais homens têm o pênis amputado?

Meu tio faleceu de câncer de pênis. Foi um evento horrível. Cuidemo-nos.

“Me sinto decapitado”: por que cada vez mais homens têm o pênis amputado no Brasil? | BBC News Brasil
Brasil é o terceiro país onde mais homens morrem de câncer de pênis – e cerca de 27% dos casos resultam em amputação. Ouça áudio de reportagem de Rone Carvalho.

Mensagem nº 360

Ser lei não é o mesmo que ser moral. Ser um “cidadão de bem” não é o mesmo que seguir leis cegamente.
Regras, normas, mandamentos e leis são meros guias, orientações que indicam o caminho a ser seguido.
O homem consciente (lúcido de sua ação social), racional (que submete à razão sua ação) e responsável (que demonstra habilidade de resposta) pode e deve adequar sua ação a cada caso.
Um homem que obedece as leis apenas por serem leis é o tipo de indivíduo que após o fato consumado dirá: ” — Eu estava apenas seguindo ordens”.

Mensagem nº 359

Ainda que milhares, milhões ou bilhões de pessoas acreditem em uma mentira, ela continuará sendo uma mentira. Ela não se tornará verdade apenas porque querem que ela seja verdade.

 

A imagem do despreparo das forças armadas no Brasil

Conforme escrevi anteriormente, não faço mais postagens políticas. Logo, não escreverei aqui sobre as conseqüências políticas da decadência da imagem das forças armadas, em especial do Exército Brasileiro. Pontuo apenas que após os eventos de 2022 a credibilidade das forças armadas pela população foi gravemente abalada. Conforme é possível encontrar facilmente nas redes sociais, a perspectiva de muitas pessoas é a de que os mesmos que afirmaram defender a democracia, olvidaram o clamor popular e não vislumbraram óbice em se submeter a corruptos e a prestar continência a ditadores.

Essa é a opinião que vejo nos outros. A minha é que não estou nem aí. Por mim, tanto faz como tanto fez. Que me importa a política na caserna? Só o que me interessa agora é a farinha do meu pirão, o que inclui a segurança pública e, por derivação, minha segurança própria. E é sobre segurança que segue este texto.

Durante a tragédia no Rio Grande do Sul, que ora ameaça seguir para Santa Catarina, a atuação das forças armadas está se demonstrando insatisfatória (para dizer o mínimo). Excepto nos casos excepcionalmente excepcionais de autodidatas, um profissional somente é capaz de fazer aquilo para o qual ele foi previamente, adequadamente e efetivamente capacitado para fazer:

  • Um bom soldador precisa ter feito um bom curso de solda (preferencialmente no SENAI);
  • Um bom juiz precisa ter feito os cursos de magistratura (na EMERJ se aqui no Rio);
  • Um bom docente precisa ter feito os cursos de extensão no SENAC, como eu ( ͡° ͜ʖ ͡°);
  • Um bom dentista precisa ter feito uma boa faculdade;
  • Um bom pedreiro precisa ter feito um bom curso técnico.

Etc., etc., etc…. Isso vale para qualquer profissão. Mesmo durante o exercício profissional, o indivíduo precisa de formação continuada, atualizações, reciclagens. A gente nunca pára de se qualificar. E temos ciência de que o mesmo se dá no oficialato das forças armadas. Desde os cobiçadíssimos cursos na Escola Superior de Guerra, aos incontáveis cursos internos às suas divisões, os oficiais também têm ao seu dispor uma ampla possibilidade de capacitação.

Mas e os praças? Sabe, aqueles que irão de fato por mãos à obra (incluindo capinar um roçado ou pintar o meio-fio). Conforme o que estamos vendo nas redes sociais, os meninos não estão nem um pouco qualificados a executar as operações necessárias neste tempo de tragédia. Nós vemos os meninos totalmente desorientados, despreparados e desamparados no fronte.

Um profissional só pode dar o que tem. Se ele não teve instrução sobre o que fazer, como fazer, quando fazer, por que fazer, ele vai fazer o quê? Estamos vendo claramente que nossos soldados não foram preparados para lidar com situações de crise. Foram enviados às cegas para uma região devastada por uma catástrofe natural, com um tapinha nas costas e votos de ”se vira aí”.

Se não estamos preparados para lidar com uma crise civil, o que há de acontecer em caso de guerra? O Brasil vive uma situação de relativa tranqüilidade no cenário internacional local e há pouquíssima probabilidade de um conflito à distância. Não precisamos nos preocupar com a defesa nacional em larga escala, apenas com traficantes nas fronteiras ou nos portos. Isso nos deixa numa terrível posição de conforto, de acomodamento. O resultado disso se mostra na patética atuação do Exército no Rio Grande do Sul.

Os meninos não podem continuar sendo treinados com se estivéssemos no século passado. Marchar por horas, tiro de boca, ficar em pé no Sol e na chuva não formam ninguém, quando as tropas ordinárias de um país de dimensões continentais deveriam ser totalmente mecanizadas. E quanto aos adestramentos que realmente precisavam ter sido feitos? Salvamentos anfíbios, logística em terreno não mapeado, construções emergenciais, operação de material para comunicações analógicas e digitais off-grid. Cadê essas instruções?

Além da visível (e risível) desorganização das tropas, recebemos pelas redes sociais inúmeras denúncias de que os órgãos governamentais estão atrapalhando os resgates com bloqueio do trânsito de pessoas e veículos, recusa no recebimento e/ou distribuição de donativos, recusa em resgatar/transportar desabrigados, e a atuação da imprensa para acobertar a gravidade dessas denúncias. Tudo isso também pesa contra a credibilidade das forças armadas.

A imagem das tropas (que já estava ruim) desabou:

“— O Exército está esperando as águas baixarem para poderem fazer seu trabalho: capinar o roçado e repintar o meio-fio.”.
“— Do jeito que está, seria melhor terem mandado os escoteiros.”
“— Mas teve barco da Marinha para o espetáculo de vulgaridades da Madonna.”

Nossos meninos não mereciam isso.

Editado em 02/06/2024: Encontrei hoje este vídeo. Sugiro ver no Youtube e ler os comentários.
O EXERCITO BRASILEIRO ACABOU DE VEZ | COBRA – SOBREVIVENTE BRASILEIRO | COPCAST

Problemas no SISPATRI RJ 2024

Editado em 26/06/2024: Muitas pessoas estão caindo aqui por conta de outros problemas não relacionados ao que escrevi. Se você estiver tendo problemas com o SISPATRI, tente o seguinte: sempre use o Microsoft Edge (o navegador padrão do Windows). Parece que o SISPATRI não funciona direito com Chrome ou Firefox. Use um PC com Windows 10 ou 11 e abra o MS Edge. Não use nenhum bloqueador de cookies, anúncios etc., use o Edge ”como veio de fábrica”. Para todas as coisas de governo (gov.br, Receita, RJ etc.) só consigo acessar direito com o MS Edge. Também tive muito problema com outros navegadores.


E na aventura de hoje, conto como consegui fazer a impressão de meu IR2. Do início:

Sou servidor público do Estado do Rio de Janeiro. Significa que o governo tira do contribuinte e paga meu salário (muito obrigado, caro leitor). Mas também me cobra imposto de renda, ou seja, imposto sobre o salário que me paga. Por isso, sou obrigado a declarar o imposto de renda, como todo brasileiro. Tenho que dizer ao governo que me pagou quanto me pagou e quanto me taxou. Duas vezes: uma para o governo federal e outra para o estadual.

Por que a gente tem que pagar pelo salário que recebe?

Seja como for, após fazer a declaração para a Receita Federal, fiz a declaração para o sistema Estadual. Só que na hora de imprimir meu comprovante, não foi possível. Diferentemente dos outros anos, não apareceu para mim a opção de imprimir o recibo da declaração de bens ao Estado. Tentei no dia seguinte e nada. Perguntei a colegas de trabalho que me disseram haver conseguido. Então fui até o RH da UERJ perguntar o que se passava. A atendente disse para eu seguir por outro caminho, segui o tal caminho e… nada.

Ó, raios! Eu declarei! Quero o comprovante de que eu declarei! Ainda mais por saber que houve casos de colegas que declararam e depois ouviram que não haviam declarado…

Então resolvi fuçar. E vejamos o que encontrei:

Fuçando o código fonte da página do SISPATRI, descobri que o Ronaldo tirou a opção de imprimir o recibo da declaração de bens. Quem é o Ronaldo? Não faço idéia. Por que ele tirou? Também não sei. Mas dá para consertar.
É só remover o estilo “oculto” do código fonte…
… que aparece a opção para imprimir!

Espero que isso possa ajudar algum colega desavisado que seja tomado de surpresa pelas travessuras do Ronaldo.

Isso lembra até a vez que encontrei uma macumba no código do G1

Por que um Byte tem 8 Bits?

Compartilhando vídeo de um professor de ciência da computação da UERJ.
Você pode encontrar mais sobre o trabalho dele aqui: http://www.araujo.eng.uerj.br

Por que um Byte tem 8 Bits? | João Araujo
Um Byte podia ter 6, 7, ou até 20 bits. Por que então ele tem 8 bits?
Neste vídeo eu explico isso e também de onde vem o nome Byte.
Se você se interessa em aprender a programar, no meu livro “Introdução à programação e aos Algoritmos” eu ensino a programação partindo do zero, e ainda presto uma homenagem aos personagens e às histórias que nos permitiram chegar até aqui.

(PDF) Adaptação Curricular, de Rosana Glat e Eloiza da Silva Gomes

Há algum tempo, em meu trabalho na UERJ, fiz o levantamento de bibliografia para compra de acervo para o curso de Medicina, que você pode conferir aqui: https://pedrofigueira.pro.br/bibliografia-basica-para-o-curso-de-medicina/ O processo já correu e a biblioteca já faz parte do corpo da instituição.

Durante aquele levantamento, observei que há diversos artigos que são amplamente utilizados durante o curso, dentre eles o artigo abaixo. Acontece que é um artigo muito citado, especialmente por ser de docentes de nossa instituição, porém o repositório original (cnotinfor) não existe mais. O hyperlink está quebrado. Resolvi compartilhá-lo aqui, pois pode ajudar quem estiver procurando-o.

GLAT, Rosana; OLIVEIRA, Eloiza da Silva Gomes de. Adaptação Curricular. Educação Inclusiva no Brasil. Banco Mundial, 2003, Cnotinfor: Portugal. Disponível em: <http://cnotinfor.imagina.pt/inclusiva/pdf/Adaptacao_curricular_pt.pdf>.

O texto completo pode ser baixado no link a seguir: Adaptacao-curricular-Rosana-Glat-Eloiza-Oliveira-UERJ

Autismo em apenas um (1) de gêmeos idênticos.

Esta história é um fragmento da vida de Josie. Irmã gêmea de Carrie, Josie possui autismo com certo grau de severidade. Nos vídeos a seguir, veja como foi feito parte de seu tratamento, ministrado pelo Dr. Kamp, e como sua vida seguiu dos 4 aos 10 anos de idade. O Professor Doutor L. N. J. Kamp, professor de psiquiatria infantil da Universidade de Utrecht, Holanda, demonstra as técnicas que era usada à época, muito similares às técnicas usadas atualmente.

E não: você não pode dar os remédios do vídeo para seu filho. O vídeo é da década se 1960, quando estavam ainda descobrindo medicamentos.

A primeira parte do documentário está em um canal e as três seguintes noutro. Embora haja trechos repetidos, cada parte tem ênfase em determinado aspecto do autismo de Josie. As quatro partes seguem em ordem abaixo:

Na primeira parte, vemos as principais diferenças no comportamento entre Josie e sua irmã Carrie. O evidente comportamento estereotipado de repetição, falta de interesse em pessoas, incompreensibilidade da fala, maior interesse na forma do objeto do que em sua função, fobias, ansiedade e ambivalência de sentimentos quanto a suas próprias ações.  Esta primeira parte trata com mais ênfase dos primeiros anos de Josie e sua dificuldade com ações básicas.

Na segunda parte, vemos algumas outras estereotipias. O a fobia de Josie com relação a pedaços e seu relacionamento com isso é mais evidente. Também vemos mais uma vez sua fixação por dentes e objetos destrutivos. Na terceira parte, vemos algumas formas de tratamento, bem como a relação de Josie com a água. Vemos como ela passou por fases de fobia e interesse, fases em que teve medo de sair da cama, fases em que sentia muita insegurança. Na quarta parte, vemos com mais detalhe o interesse fixo de Josie em roupas, bem como o jogo de Crocolin, onde podemos perceber a inadequação de seu comportamento e sua ansiedade/dificuldade em  lidar com as próprias ações.

Autism in one of two identical twins 1961 documentary Part 1 of 4 | Snacky Grape Pika Mirror

Autism in one of two identical twins. 1961 documentary part 2 of 4 |Mental Health Treatment

Autism in One of Two Identical Twins | 1961 Documentary (Pt. 3 of 4) | Mental Health Treatment

Autism in One of Two Identical Twins | 1961 | Mental Health Treatment

O perigo do Islamismo no Brasil e no mundo: Brigitte Gabriel

Brigitte Gabriel contando a sua história. Brigitte Gabriel telling her story. | Mega Trilheiro
Não é uma simples questão de terras ou de religião, é uma questão de sobrevivência. É uma questão do bem contra o mal. O radicalismo islâmico não deve ser tratado com condescendência.

Segundo repositório
Brigitte Gabriel conta sua história

Cultura japonesa – Lado B

Editado em 19/11/2024: adicionado vídeo ao final.

Saudações, meu caro gaijin. Esta é a segunda parte em que falo sobre a cultura japonesa de um modo geral. Na primeira parte, falei sobre as coisas que admiro na sociedade japonesa e exemplifiquei com alguns vídeos. Admiro o sentimento de ”pertencimento” (fazer parte de) a um corpo social, o que leva a um senso de responsabilidade e cooperação mútuo entre as pessoas.1 Admiro o respeito, a modéstia, a ordem. Porém, conforme escrevi, passando o tempo a gente vê que as coisas não são tão boas assim. Afinal, o que o Japão teria de ruim?

Os japoneses sabem bem onde seus próprios sapatos apertam. Não pretendo falar sob o ponto de vista japonês. Primeiro, porque não sou japonês; segundo, porque não estou lá. Só posso falar a partir da perspectiva de um estrangeiro. Já aí começam os problemas.

Você é um estrangeiro (gaijin)? Então você sempre será um gaijin. Você jamais será considerado um japonês, mesmo se naturalizando. Não interessa se você mora no Japão há cinqüenta anos, se seu japonês é fluente por ser professor de japonês e cultura japonesa, se sua esposa é japonesa, se seus filhos são japoneses. Você é um estrangeiro, sua mulher é aquela ”casada com um estrangeiro”, seu filho é aquele ”filho do estrangeiro”. Por mais que hoje em dia as coisas sejam muito mais brandas do que eram cem anos atrás, e que os jovens sejam muito mais receptivos, japoneses são ”veladamente xenofóbicos”.

Não interprete mal: os japoneses são bastante hospitaleiros e tratam muito bem os estrangeiros, desde que estes adiram à sua cultura. Você pode viver uma vida maravilhosa por lá seguindo as regras locais, embora no recôndito do nativo você sempre seja visto como um estrangeiro. É completamente diferente do Brasil, país formado pela mistura de gente de todas as partes do mundo. Por aqui, sabendo falar português do Brasil sem sotaque, não tem como saber se o sujeito é estrangeiro ou não. Mas o Japão é um país bastante homogêneo e salta à vista se você vem de fora. Não se esqueça de que o Japão é um arquipélago relativamente isolado no Oceano Pacífico.

Outra coisa que mencionei (duas vezes) no parágrafo acima é a adequação às normas locais. O modo de vida japonês, as relações sociais e o que se espera de você são bem definidos (embora inexplícitos). É extremamente deselegante querer impor seu modo de vida estrangeiro por lá. Eles não têm tolerância alguma com quem quer burlar as regras a todos impostas. Se você se comportar mal, principalmente em espaço público, não se assuste se alguém chamar a polícia para te deter por um ”pequeno desvio” como chamaríamos por aqui no Brasil. Se você vai para o Japão, vai ter que viver em público como um japonês. Ou então nem vá.

Os princípios básicos de boa educação, como não furar fila, manter-se do lado na escada rolante para que outra pessoa passe ao seu lado, colocar o lixo no bolso até encontrar uma lixeira, não falar alto ou tocar rádio no transporte público, cumprimentar respeitosamente quem lhe presta serviço, não se vestir como um mondrongo, todas essas coisas que não vemos no Brasil são o mínimo esperado do seu comportamento no Japão. Japoneses não gostam de pessoas rudes e são bem sensíveis quanto a isso.

Essa formalidade (que se apresenta até mesmo no idioma) cria uma certa barreira cultural, pois muitas coisas que consideramos normais, como abraçar, podem ser consideradas rudes dependendo do contexto. E você acaba ofendendo o nativo sem querer.

Outra coisa que o brasileiro faz é contar vantagem. É o mecânico de Chevette que diz saber consertar até avião a jato, ou o pedreirista que se mete a levantar prédio. Além disso ser muito mal visto, também vai lhe colocar em encrencas. Japoneses não têm esse péssimo hábito de dizer serem mais do que são, pelo contrário, tendem a se diminuir. Exemplifico: digamos que você faça pintura de quadros artísticos; quando perguntado como é o seu trabalho, você, por educação, deve responder que é mediano; assim, quando seu trabalho for apresentado, o cliente poderá se admirar com sua habilidade e com a obra. Se você disser que é um bom pintor, além de ser considerado bastante arrogante, o cliente realmente esperará uma obra-prima e você não será capaz de atender à expectativa dele.

Isso mesmo: se você disser que é bom em algo, japoneses esperam que você seja realmente muito bom naquilo. E você vai ter que mostrar serviço. Se no currículo você disser que seu japonês é bom, vai ter que ser realmente muito bom. Business level? Vai ter que ler e interpretar correspondência administrativa e contábil logo no primeiro dia. Fluency? Ai de ti se não entender o cliente com dialeto de outra ilha. Eles não aceitam quem conta vantagem e, se descobrirem que mentiu no seu currículo, você pode perder o emprego na hora. Nunca se vanglorie por lá e conheça o seu lugar.

Uma terceira coisa, falando mais a fundo sobre trabalho, é que o modo como o japonês lida com sua profissão é totalmente diferente do que fazemos por aqui. Por lá, seu trabalho não é uma extensão de sua vida, um adendo, ou uma coisa que você faz para sobreviver ou ganhar dinheiro. Ele é parte integrante de sua vida, é o que te define como membro da sociedade japonesa. Todo trabalho é valorizado e respeitado. Claro que quanto mais alta for sua posição na hierarquia econômica, mais bem visto você é. Mas do faxineiro ao deputado, todos têm um trabalho a realizar como parte do todo. Seu trabalho não é só para você, é para todos ao seu entorno. Se você faltar com suas obrigações, outra pessoa terá que assumir a carga por si.

Aquela noção de pertencimento de que falei faz parte de toda a estrutura social, incluindo o trabalho empresarial. No Japão, trabalhar numa empresa é fazer parte de um time. Não há espaço para individualidade. Você precisa estar sempre se comunicando, sempre participando da interdependência coletiva. Num país como o Brasil, onde só quem marca gol é ovacionado, isto é, em que membros da mesma equipe disputam picuinhas entre si, a cultura japonesa de ajuda mútua entre membros é um conceito alienígena. Apesar de parecer muito bom, isso tem um problema grave.

É a partir daí que surge o grande problema com as horas extras no Japão. O dia de trabalho termina quando a tarefa do dia termina, não quando o relógio marca a saída. Não são incomuns 12h, 14h, 18h de jornada de trabalho. Não é um ”extra”. É o que se espera de você. Isso é um problema gravíssimo no Japão. Muitas pessoas adoecem estafadas pela excessiva carga de trabalho. Burnout, depressão e suicídios. A expectativa e a cobrança são constantes e muita gente não consegue lidar com a pressão contínua que sofre diariamente. Sem férias, sem descansos, as poucas exceções são eventos como casamentos ou funerais. É comum dormir no local de trabalho por pura exaustão. Mortes acarretadas por excesso de trabalho não são incomuns.

Cronogramas e horários são obedecidos rigorosamente. Não se toleram atrasos de qualquer tipo, não há flexibilização. E o serviço deve ser bem realizado. Ou seja, o velho jeitinho brasileiro de postergar as coisas para a última hora e entregar um serviço medíocre é inaceitável. Se você disse que conseguiria levantar um muro em cinco dias, no quinto dia o muro tem que estar pronto e bem feito. Se não puder cumprir o prazo acordado, tivesse dado outro prazo.

Essa inflexibilidade japonesa frente às normas sociais é a principal causa dos problemas da sociedade japonesa. Espera-se que as pessoas cumpram determinados papéis e aqueles que não conseguem se adaptar a essa rigidez são ostracizados. Esse é o resultado do somatório de todas as coisas sobre que discorri até agora.

  1. Japoneses têm uma visão de mundo que coloca o coletivo acima do particular;
  2. Preocupam-se mais com não dar trabalho aos outros do que com a carga que isso impõe sobre si mesmos;
  3. Dão mais valor à sua imagem social do que aos próprios sentimentos;
  4. Vivem em altíssima competitividade, não aceitando que o trabalho não tenha sido feito da melhor forma possível;
  5. Aqueles que não pensam dessa forma são ostracizados pelo coletivo, que não aceita o individualismo de livres pensadores.

Apenas o melhor, somente o melhor, o tempo todo, em tudo o que faz. Você tem que ser o melhor aluno da escola. Tem que passar no vestibular (Sentā Shiken) na primeira tentativa. Tem que entregar o melhor trabalho na empresa. Tem que ser o melhor artesão. Tem que ser o melhor artista. Tem que ser. E ainda tem que dizer que não é tão bom assim. E se não quiser pensar e agir assim, é ridicularizado, zombado, excluído e tratado como um perdedor. O resultado é uma sociedade doente. Uma de minhas postagens com certa procura é sobre os fenômenos hikikomori, kodokushi e manboo.

Hikikomori são os eremitas urbanos. Pessoas que se recusam a estudar e trabalhar, e passam a vida dentro de suas casas ou dentro de seus quartos em casos mais graves. Com a facilidade de fazer compras com entrega domiciliar, elas não precisam sair para nada. Essas pessoas são muitas vezes sustentadas por seus pais idosos aposentados. São pessoas que optaram por apartarem-se da sociedade. Os motivos são os mais diversos: uma decepção amorosa, não passar para a faculdade, perda de emprego. Em todos os casos, são aqueles que não conseguiram suportar a pressão da rígida e estrita sociedade japonesa e, numa ação de fuga, isolaram-se do mundo que os cerca.

Kodokushi é o fenômeno da morte solitária. Esse distanciamento afetivo de si mesmo e dos outros que a sociedade japonesa impõe com um sem número de regras de etiqueta e papéis esperados do indivíduo associados ao envelhecimento populacional faz com que pessoas idosas em cada vez maior número passem a morar sozinhas. São famílias que se afastam. São pais não querem dar trabalho aos filhos. São viúvos sem parentes. São pessoas que vivem sozinhas em suas casas até o último de seus dias, quando morrem vítimas de quedas ou de infartos, por exemplo. Com as contas sendo pagas no débito automático e recebendo suas pensões, ninguém, nem mesmo os vizinhos, dá falta delas. Passam-se semanas ou meses até que descubram o corpo já decomposto no chão de seus apartamentos ou pequenas casas.

Manboo é o fenômeno dos sem-teto que se abrigam em lan-houses (cyber cafes). Pessoas que pelos mais diversos motivos não têm onde morar e optam por alugar um computador numa lan-house para não terem que passar a noite nas ruas. No Japão, os computadores são ofertados nessas casas de forma individual, em cubículos de 2 metros quadrados. Ali os desabrigados podem pernoitar, deixar suas coisas durante o dia e usar o banheiro coletivo. Podem ser pessoas que têm muita vergonha da situação por que estão passando e não querem que suas famílias saibam. Podem ser jovens que fugiram de casa. Podem ser idosos que perderam tudo e não têm outro lugar para onde ir. Ou pode ser uma decisão pensada por conta da crise econômica japonesa.

Embora fugindo do escopo deste texto, creio ser importante registrar que a economia japonesa está horrível. Trabalha-se muito, mas os salários são baixos. O desemprego formal aumenta, com pessoas dependendo de empregos temporários de um ou dois dias. Há ainda uma grave crise habitacional. O preço dos aluguéis é impagável e o número de sem-teto está aumentando. Por vezes, a vida no manboo acaba sendo uma decisão necessária para sobreviver. Isso também pesa no psicológico das pessoas.

Não é à toa que a densidade demográfica da população japonesa encontra-se em queda livre. Quem em sã consciência teria filhos num lugar onde se vive para trabalhar; para atender às expectativas dos outros, alijando-se de si mesmo uma vida inteira; para no final morrer sozinho e esquecido num quarto de 3 metros quadrados? É muito bonitinho ver o Japão pela lente do guia turístico: casinhas bem ajeitadas, pessoas bem educadas, tudo bem limpinho, desenhos animados, artesanato, artes marciais. Enquanto isso, apenas o bosque de Aokihagara registra pelo menos 100 suicídios por ano.

Buda ensina que o caminho do meio é a chave para a felicidade. Se a permissividade brasileira é ruim, a austeridade japonesa também o é. É sim possível ter uma vida muito boa no Japão. Só é mais difícil se você for japonês…

Placa suplicando aos visitantes de Aokihagara que estejam pensando em cometer suicídio, que não se matem e que procurem ajuda.

Isolamento no Japão: A Crise de uma Sociedade Solitária | Japão No Asfalto

Neste vídeo, exploramos a crescente crise de isolamento social no Japão, um fenômeno que afeta milhares de pessoas e está intrinsecamente ligado a fatores culturais e sociais. Vamos abordar as causas dessa solidão, incluindo o hikikomori (isolamento extremo em casa), pressões sociais, a cultura de trabalho intensa e as conseqüências psicológicas para a saúde mental. O vídeo examina como essa crise molda a vida cotidiana dos japoneses e analisa as iniciativas e esforços para combater a solidão em uma sociedade que valoriza a reserva e o autocontrole. Descubra as histórias por trás dessa realidade e como o Japão está lidando com essa epidemia silenciosa.


  1. Sentimento é algo mais subjetivo. Senso é algo mais racionalizado.