Ela vem me visitar…

Eu poderia ter ganhado na mega-sena. Ou na loto. Ou no bingo. Ou até uma rifa… Mas tirei a sorte grande e ganhei um problema de próstata. Aos 17 anos. A probabilidade de ganhar na loteria era mais alta, mas parece que gastei todo meu fortúnio nisso e agora não ganho nem prenda…

Hoje, 15 anos depois, já aprendi a conviver com esta crônica inconveniência. Lembro o primeiro caso. As meninas que lerem esta postagem possivelmente considerar-me-ão exagerado, pois menstruação é parte inerente à sua fisiologia. Mas um homem não sangra naturalmente. Sangue é para ficar do lado de dentro (e não sair). Se está sangrando, há algo errado. MUITO errado.

Fazer sangue em lugar de xixi foi uma experiência (no mínimo) traumática. Esvaziar a bexiga nunca foi tão estranho… Felizmente nunca mais foi tão sanguinolento (ufa!). Pouparei meus parcos leitores dos demais detalhes escatológicos de minhas vivências prostáticas, e, por pudores, não mencionarei os outros detalhes.

A convivência com algo que vem e vai ao sabor do tempo me fez aprender a lidar com isso, aprender como funciona, aprender como se dá. E aprendi que não tem motivo, não tem origem nem os médicos sabem por que acontece! Fui premiado sem entrar em concurso!

Aprendi a driblá-la. Sei o que não fazer, o que não comer, o que não usar. E assim a mantenho longe. Mas às vezes ela vem fazer uma visita (sempre sem ser convidada). Pelos sintomas, já sem quando vem. Nunca sei a intensidade, mas sei que lá vem ela – a sagrada próstata – reclamar! Pode ser aguda ao ponto de eu não conseguir me levantar, pode ser só um leve incômodo que passa num dia. Ou pode ser como a de hoje, que já está me chateando há 14 dias.

O sangue não me traumatiza mais. O pus não me incomoda. O fedor, também não. O que realmente me desagrada é a dor.

Imagine uma bola de tênis.
Agora imagine essa bola feita de metal.
Agora imagine esse metal incandescente.
Agora enfie isso na sua bunda.

Fazendo pipi de manhã…

Certa vez estava conversando com meu amigo Gilmar sobre esse assunto e ao falar que me dispunha a fazer cirurgia ele considerou que seria demasiada intervenção, haja vista eu correr o (alto) risco de ficar impotente. Ora, eu aceitaria ser até castrado se me garantissem nunca mais sentir essa dor! (lamentavelmente, pela posição anatômica do órgão, nenhuma cirurgia é possível sem seqüelas permanentes)

E assim vou vivendo e seguindo, sabendo que ela vai embora e talvez um dia volte… Enquanto isso, mais uma vez tocamos a música tema.

E qual a lição disso tudo? Afinal, para quê partilhar com o mundo essa desagradável questão de foro privado? E logo em minha página, ora dedicada a assuntos educacionais? Primeiro porque eu quis desabafar. Segundo para deixar a quem tropece por estas letras a idéia de que tudo passa, independentemente de todos os problemas de saúde, ou financeiros, ou sentimentais que porventura tivermos em nossas vidas.

É sempre assim: logo que somos premiados a contragosto, temos aquele ”baque”. Boom! Em seguida, vêm os sentimentos negativos como o  nervosismo, a ansiedade, a preocupação etc. etc. etc., dependendo, claro, do nível de estabilidade e controle emocional de cada indivíduo. Mas sempre uma notícia ruim vem acompanhada daquela sensação desagradável…

Mas por mais inconveniente, pois mais desagradável, por mais aborrecedor, o ”baque” passa. Ele é inevitável. Porém a forma como você lida com ele é totalmente sua escolha. É possível ter uma atitude pró-ativa com relação a si mesmo e à sua situação.

Observar, refletir, raciocinar, ponderar. O quê pode ser feito? Como pode ser feito?  É possível resolver? Como? Não é possível? Como conviver da melhor forma? É ineficiente e contraproducente termos sempre os olhos voltados para o que não podemos, e nos esquecermos daquilo que podemos fazer.

Em meu caso, a convivência com esse problema de saúde me ensinou a valorar ainda mais a saúde que tenho e aquilo que posso fazer. Desejo a quem por aqui passe, que também aprenda a ver a vida mais positivamente mesmo após as desventuras que ela por vez traz.

Como já dizia o sábio:

Se o problema tiver solução, não há com o que se preocupar.
Se o problema não tiver solução, não há com o que se preocupar.