“Buda: — Monge, por que está tão triste? Você senta aí todos os dias para se lamentar. O que é que te preocupa?
Monge: — Hoje eu vi muitos corpos mortos flutuando no rio Ganges. E, na beira do rio, eu vi peregrinos vindos da Índia inteira para tomarem banho. Eu tive a impressão de que celebravam a morte no lugar da vida… Por quê, por que é tão pobre este país onde eu nasci? Parece que só nascemos para sofrer e nos lamentar. As pessoas vivem no meio de desgraças!
Buda: — Monge, isso te deixa triste?
Monge: — É claro! Quem é que quer uma vida cheia de tristezas?
Buda: — Você está enganado. Onde há tristeza, há alegria. E o contrário também é verdade. Lindas flores nascem, mas no fim morrem. Tudo nesse mundo está em eterna mudança. Sempre em movimento. Nunca é igual. Tudo muda. E a vida do homem também é assim.
Monge: — Mas se o nosso fim, a morte, é inevitável, então talvez seja a tristeza que domine nossas vidas. Mesmo quando superamos o sofrimento, mesmo que busquemos o amor e a felicidade, no fim a morte irá transformar tudo em nada. Eu não entendo… Pra que os homens nascem neste mundo, se é impossível desafiar algo tão eterno e completo quanto a morte?
As flores brotam e morrem. As estrelas brilham, mas um dia se apagarão. Tudo morre. A Terra, o Sol, a Via Láctea e até mesmo todo este universo não é exceção. Comparada a isso, a vida do homem é tão breve e fugidia quanto o piscar de um olho. Nesse curto instante os homens nascem, riem, choram, lutam, sofrem, festejam, lamentam, odeiam pessoas e amam outras. Tudo é transitório. E em seguida todos caem no sono eterno chamado morte.
Buda: — Monge, parece que você se esqueceu…
Monge: — Esqueci?
Buda: — A morte não é o fim de tudo. A morte não é mais do que outra transformação.”
Adaptado da obra de Masami Kurumada