Infância ameaçada: série sobre abuso sexual infantil (parte 8).

VIDA RESTAURADA
É possível superar as marcas deixadas pelo abuso sexual infantil
ANTÔNIO ESTRADA é mestre em Psicologia da Família e doutor em Estudos da Família e do Casamento
NISIM ESTRADA é psicólogo especializado em trauma
Texto adaptado

“Minha vida tem sido marcada por altos e baixos emocionais. Até os 28 anos, meus relacionamentos foram um fracasso! Minha vida profissional, embora eu tenha cursado uma pós-graduação, não decolava. A mediocridade, a tristeza e o ressentimento eram uma constante. Até que eu dei um basta. Estava cansada de sofrer. Tinha que fazer alguma coisa.”

Quantas pessoas passam pela vida como Lúcia (nome fictício), carregando uma carga que continua pesando como uma laje de concreto. Meninas e meninos em todo o mundo, de todas as idades e classes sociais, têm sido vítimas de Abuso Sexual Infantil (ASI), porque o abuso não respeita gênero, idade, nacionalidade, religião ou nível socioeconômico.

PREVALÊNCIA
Estima-se que metade da população infantil ao redor do mundo já tenha sofrido algum tipo de abuso (Ben Mathews, New International Frontiers in Child Sexual Abuse [Springer, 2018]). Porém, como foi demonstrado ao longo desta edição, os números não descrevem toda a realidade, uma vez que representam os casos que foram notificados. O ASI é um crime raramente denunciado porque não deixa testemunhas e, às vezes, nem evidências.

Cada pessoa reage de maneira diferente diante da situação. O que sabemos é que não existe abuso sem conseqüências. As vítimas lutam contra um silêncio perturba- dor e sofrem incompreensões de familiares e amigos, e isso afeta a qualidade de vida e compromete o direito de viver em um ambiente saudável. Os danos dependerão da idade em que a situação ocorreu, da freqüência, do tipo de abuso e da relação da vítima com o agressor. Mas as implicações são amplas, podendo afetar a dimensão física, emocional, social, sexual, espiritual, cognitiva e laboral. Em termos psicológicos, as vítimas são mais propensas a ser diagnosticadas com depressão e ansiedade e apresentar taxas mais altas de transtornos psiquiátricos, alimentares e do sono (link.cpb.com.br/933066). Além disso, apresentam níveis de bem-estar abaixo da média, dependência de álcool e de outras substâncias prejudiciais, alto risco de promiscuidade, tendência ao sexo prematuro com múltiplos parceiros e desejo sexual hipoativo ou hiperativo (link.cpb.com.br/fe03f0 | link.cpb.com.br/dddd1f | link.cpb.com.br/5941aa). A essa lista, pode-se acrescentar também déficit de atenção, baixo desempenho acadêmico, dificuldade de se concentrar e tomar decisões, desconfiança e insegurança.

NEUROPLASTICIDADE
O trauma da violência impacta o desenvolvimento das vias neurais que estão em fase de for- mação durante a infância e a adolescência. As reações parassimpáticas (calma e tranqüilidade) são opostas ao estado de alarme e perigo que é regulado pelo sistema nervoso simpático. Quando ocorre abuso sexual infantil, essas duas vias neuronais se “cruzam”, e a reação de sobrevivência é ativada com mais freqüência, fazendo com que a pessoa tenha dificuldades de se sentir segura. Esse freqüente estado de alerta é uma das principais razões pelas quais as pessoas desenvolvem modos de enfrentamento pouco saudáveis, associados às dificuldades que mencionamos anteriormente. Felizmente, hoje se sabe muito sobre neuroplasticidade. As vias neurais podem ser alteradas.

Um dos fatores que auxiliam nesse processo é o apoio de um profissional de saúde mental e a conexão segura com outra(s) pessoa(s). Isso ajuda a regular a reação de sobrevivência que foi alterada pelo ASI. Ao ser capaz de criar momentos de segurança ou tranqüilidade, você pode iniciar o processo de mudança dessas conexões neurais para uma resposta mais saudável.

Existem terapias cognitivas e somáticas que auxiliam na auto-regulação das funções parassimpáticas e no retorno da calma e tranqüilidade. Ao mesmo tempo, fazer parte de uma comunidade religiosa que pro- mova um ambiente de “graça” em vez de condenação ajuda essa pessoa a se sentir segura e não culpada. Encontrar maneiras de ativar o sistema nervoso paras- simpático é fundamental para reabilitar as vias nervosas afeta- das pelo ASI e voltar a aproveitar a vida ao máximo. Isso não é fácil nem rápido, mas é possível.


Fonte: https://downloads.adventistas.org/pt/ministerio-da-mulher/materiais-de-divulgacao/quebrando-o-silencio-2024/

Infância ameaçada: série sobre abuso sexual infantil (parte 7).

APOIO FAMILIAR
Como agir ao descobrir que os filhos foram abusados sexualmente
RUBÉN JAIMES SONCCO, graduado em Teologia e Medicina, é cirurgião e professor na Faculdade de Medicina da Universidade Peruana União, em Lima
Texto adaptado

A notícia de que um filho foi vítima de abuso sexual tira o chão dos pais. As emoções se acumulam; raiva e tristeza se entrelaçam em uma tempestade de dor. Como médico, testemunhei de perto o impacto devastador que esse tipo de trauma pode causar em uma família. No entanto, também presenciei a resiliência e o poder curador do amor incondicional e do apoio adequado. Nos parágrafos a seguir, oferecerei orientações aos pais sobre como enfrentar essa situação tão dolorosa.

MANTENHA O CONTROLE
Precisamos lembrar que nossas reações iniciais podem ter um impacto duradouro no processo de cura das crianças. É normal sentir raiva e tristeza, mas é fundamental manter a calma e proporcionar um ambiente tranqüilo e seguro. As crianças podem se sentir assustadas, envergonhadas ou confusas depois de um abuso sexual. Assegure-se de que a criança saiba do seu amor por ela e que você está pronto a ajudá-la. Permita que ela tenha tempo para falar e evite pressioná-la a revelar detalhes que ainda não estão prontos para serem compartilhados. É importante evitar qualquer tipo de julgamento ou culpar a criança. Em vez disso, devemos mostrar-lhe apreço e compreensão, reiterando constantemente que ela não tem culpa pelo que aconteceu.

NÃO FAÇA NADA SOZINHO
É importante que os pais consigam processar seus sentimentos e busquem apoio emocional antes de ajudar seus filhos. Geralmente, os pais sentem raiva e tristeza quando descobrem que os filhos foram vítimas de um crime como esse. Esses sentimentos são compreensíveis, mas é importante não permitir que essas emoções os dominem. Os pais precisam buscar alguém em quem possam confiar para compartilhar suas emoções, seja um amigo, um membro da família, um terapeuta ou um conselheiro espiritual.

Um terapeuta especializado em abuso sexual infantil pode oferecer apoio adequado para toda a família. Ele também pode mostrar como lidar com a situação enquanto o processo de cura se desenvolve. Não hesite em buscar apoio nem sinta vergonha de fazê-lo. Procurar ajuda é um ato de amor e cuidado consigo mesmo e com sua família.

NÃO HESITE EM BUSCAR APOIO NEM SINTA VERGONHA DE FAZÊ-LO. PROCURAR AJUDA É UM ATO DE AMOR E CUIDADO CONSIGO MESMO E COM SUA FAMÍLIA

ESPERANÇA
Lembre-se também da importância de praticar a fé. Podemos buscar consolo e força em Deus, pois “perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado; ele salva os de espírito oprimido” (Salmo 34:18). Além disso, Ele prometeu: “Eis que lhe trarei saúde e cura e os sararei; e lhes revelarei abundância de paz e segurança” (Jeremias 33:6). Em tempos de angústia, a Palavra de Deus nos oferece refúgio, consolo e esperança.

Se você está enfrentando essa difícil situação, lembre-se de que não está sozinho. Busque ajuda, encontre forças em Deus e nunca perca a esperança. Juntos é possível superar essa adversidade e proporcionar aos filhos um futuro repleto de amor, confiança e felicidade.

VIVENCIANDO A CURA JUNTOS
É fundamental que os pais busquem atendimento médico imediato para a vítima, mesmo que ela não apresente sinais físicos de abuso sexual. Os profissionais de saúde podem avaliar a situação, realizar exames para detectar doenças sexualmente transmissíveis e lesões genitais e prescrever tratamentos. O suporte de psicólogos e psiquiatras também é fundamental, pois ajudará a criança a lidar com suas emoções e a processar o que aconteceu. Além disso, é importante salientar que a violência sexual é um crime e que o abusador deve ser denunciado às autoridades. Espera-se que os pais cooperem com a investigação e adotem uma atitude firme e tranqüila diante da situação, evitando tomar medidas precipitadas em busca de justiça.


Fonte: https://downloads.adventistas.org/pt/ministerio-da-mulher/materiais-de-divulgacao/quebrando-o-silencio-2024/

Infância ameaçada: série sobre abuso sexual infantil (parte 6).

VIOLAÇÃO DO SAGRADO
O abuso pode ser praticado por pessoas e em lugares que não imaginamos
HERON SANTANA é jornalista e lidera o departamento de Liberdade Religiosa da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Bahia e no Sergipe

O que deveria ser uma experiência missionária tornou-se um trauma para a suíça Christina Krüsi, hoje escritora, artista, consultora em mediação e resolução de conflitos e defensora da prevenção ao abuso infantil. Na época, ela acompanhava os pais em um projeto de tradução da Bíblia para línguas nativas na Bolívia. Dos 6 aos 10 anos (de 1974 até 1979), quando deixou o país sul-americano, Christina sofreu repetidamente abuso sexual praticado por cinco missionários. Descobriu-se que outras 16 crianças também eram regularmente abusadas por um círculo mais amplo de homens. Os abusadores pressionavam as crianças para manter a violação em segredo, dizendo que, se contassem a alguém, a missão fecharia e os indígenas iriam para o inferno.

Apesar de ter sofrido por anos em silêncio, Christina finalmente denunciou o caso e escreveu um livro de memórias: Paradise Was My Hell (O Paraíso Foi Meu Inferno). Além de ter participado de um documentário na TV suíça intitulado Missbraucht im Namen Gottes (Abusada em Nome de Deus, em tradução livre), ela também foi co-fundadora da Christina Krüsi Foundation, dedicada à proteção de crianças. A propagação dos horrores que ocorreram em solo boliviano levou as organizações cristãs responsáveis pela missão no país a pedir desculpas e adotar medidas de proteção em igrejas, instituições e escolas. Uma dessas medidas foi a criação, em 2006, da Safety Child and Protection Network (Rede de Segurança e Proteção Infantil), formada por agências missionárias, ONGs religiosas e escolas cristãs que buscam colaborar mundialmente para conectar, educar e proteger as crianças por meio de diversos programas.

ANTÍTESE DO EVANGELHO
“Como cristãos, acreditamos em um evangelho que é sobre um Deus Se sacrificando para preservar e proteger os indivíduos. Quando se trata de abuso sexual infantil, muitas igrejas e organizações cristãs preferem sacrificar indivíduos para se protegerem. Terminamos vivendo a própria antítese do evangelho que
pregamos. As conseqüências são devastadoras”, lamentou o ex-promotor de Justiça Boz Tchividjian, professor de Direito na Universidade da Liberdade, nos Estados Unidos. Atuante no combate ao abuso em ambientes religiosos, o neto do famoso evangelista Billy Graham é fundador e diretor executivo da Grace (sigla em inglês para Resposta Divina ao Abuso no Ambiente Cristão), organização sem fins lucrativos criada para ajudar igrejas protestantes a lidar de forma justa com os incidentes de abuso sexual.

De acordo com um relatório sobre prevenção da violência contra crianças, divulgado em 2020 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 300 milhões de vítimas entre 2 e 4 anos sofrem regularmente violências por parte de seus cuidadores ao redor do mundo. Estima-se que 120 milhões de meninas tenham sofrido algum tipo de abuso sexual antes dos 20 anos de idade. Chamam atenção os dados que apontam para a recorrência de casos em contextos religiosos. Um levantamento feito em 2019 pela Agência Pública mostrou que o Disque 100, canal do governo brasileiro, recebeu, nos três anos anteriores, 462 denúncias de violações praticadas por líderes religiosos. Em 167 desses casos, as notificações envolviam acusações de violência sexual. Esse foi o tipo de denúncia mais comum que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos recebeu em 2016.

Ambientes religiosos como igrejas e templos são os lugares em que mais teriam ocorrido as violações – quase uma a cada quatro denúncias indica esse tipo de local. O número é próximo ao das denúncias que apontam para a casa da vítima. Na América Latina, a Child Rights International Network (Rede Internacional de Direitos da Criança), organização com foco nos direitos das crianças, pesquisou casos de abuso praticados por líderes religiosos nos países desse território. A entidade concluiu que a região estava à beira de uma “terceira onda” global de escândalos, assim como ocorreu na América do Norte e Europa. Na tentativa de reverter esse cenário, a organização apóia sobreviventes latino-americanos para fazer campanhas em seus países pela verdade, justiça, reparação e reforma.
São iniciativas que ajudam as igrejas a enxergar a necessidade de ser radicais e intransigentes no combate a esse mal, capaz de macular a imagem salvadora de Deus na mente de pessoas indefesas e vulneráveis ao abuso exercido por lideranças que deveriam acolher, servir e salvar.

MEDIDAS DE PROTEÇÃO
A Rede de Segurança e Proteção Infantil identificou sete elementos-chave que podem ser seguidos por organizações religiosas para garantir a segurança das crianças:
1. GOVERNANÇA
Um programa eficaz de segurança infantil precisa incluir os controles administrativos necessários para orientar as atividades da equipe (funcionários e  voluntários), buscando manter um ambiente seguro e saudável para as crianças.

2. MAPEAMENTO
Outro passo importante é ter um conjunto escrito de definições básicas dos tipos de danos que as crianças podem sofrer, uma espécie de mapeamento. As diretrizes devem levar em consideração as diversas culturas representadas no contexto da organização.

3. TRIAGEM
Antes de definir colaboradores, voluntários ou líderes leigos, a organização deve realizar entrevistas e verificar antecedentes para evitar possíveis ocorrências devido à falta dessa medida.

4. TREINAMENTO
É fundamental oferecer também treinamento para todos os líderes e voluntários, com foco na promoção de uma cultura de proteção das crianças e medidas claras que garantam a segurança delas.

5. PROTOCOLOS
As organizações precisam ter protocolos de cuidados infantis para ser aplicados em toda a sua estrutura.

6. RESPOSTA
Estabelecer e manter a capacidade de responder pronta e objetivamente a qualquer relatório de preocupação com a segurança infantil, seja com base em eventos atuais ou na história da organização ou de seus membros.

7. CUIDADO
A organização deve cuidar de seus servidores e de outras pessoas que possam ser afetadas, conforme as necessidades forem avaliadas.


Fonte: https://downloads.adventistas.org/pt/ministerio-da-mulher/materiais-de-divulgacao/quebrando-o-silencio-2024/

Infância ameaçada: série sobre abuso sexual infantil (parte 5).

CONVERSA SÉRIA
A importância da educação sexual desde cedo
LEILIANE ROCHA é psicóloga e criadora do programa Esepas (Educação Sexual, Emocional e Prevenção ao Abuso Sexual). Ela usa as mídias sociais para alertar pais e cuidadores sobre o problema (instagram.com/ leilianerochapsicologa)
Texto adaptado

Quando falamos sobre prevenção ao abuso de crianças, a educação sexual é a ferramenta mais poderosa para evitar e combater a violência sexual. Não se trata apenas de falar sobre partes íntimas ou “de onde vêm os bebês”. Ela deve ser relacionada ao processo de ensino e aprendizagem sobre a sexualidade humana, que engloba emoções, respeito e conhecimento do corpo, relacionamentos e auto-estima.

O processo de desenvolvimento da sexualidade da criança depende da educação sexual que ela recebe. Por isso, estamos falando da formação da identidade e da personalidade dela. Estudos apontam que a criança que é bem orientada quanto a esse aspecto tende a ter uma visão mais positiva do seu corpo, é capaz de desenvolver relacionamentos mais saudáveis, tem melhor rendimento escolar, cresce com sua identidade e auto-estima mais sólidas, consegue perceber mais fortemente a afetividade dos pais e acredita que pode confiar mais neles.

Para começar esse processo de ensino sobre autoproteção, sugiro que você apresente à criança quatro conceitos básicos: consentimento, limite corporal, intimidade e tipos de toques.

COMO EM QUALQUER PROCESSO EDUCACIONAL, A EDUCAÇÃO SEXUAL TAMBÉM DEVE SER SISTEMÁTICA E INTENCIONAL

  1. Jamais insista para que a criança ofereça carinho ou interaja com quem ela não se sinta bem naquele momento. É muito comum forçarem as crianças a beijar ou abraçar quem não querem. Isso atrapalha diretamente a formação do direito sobre o corpo, o limite corporal e a compreensão sobre consentimento. Quando estiver fazendo qualquer brincadeira com ela, como cócegas ou girar, por exemplo, e a criança pedir que pare: pare! Ensine que “não” e “pare” são pedidos importantes que precisam ser atendidos.
  2. Não permita que ninguém faça piadas ou comentários sobre as partes íntimas do seu filho. Já acompanhei muitos casos nos quais avós, tias e outros parentes diziam coisas relacionadas às genitálias das crianças. Nem os pais devem fazer esse tipo de brincadeira, pois pode erotizar a criança, dificultar seu aprendizado sobre intimidade, privacidade e limite corporal, deixá-la mais vulnerável ao abuso e ainda levar a criança a praticar isso com outras crianças.
  3. É fundamental deixar claro para seu filho quais são as partes íntimas: pênis, vulva, bumbum e mamilos. De maneira prática, fale que partes íntimas são as partes cobertas pela calcinha, cueca e biquíni.
  4. Nunca diga à criança: “Ninguém pode tocar em suas partes íntimas.” Isso não é verdade. Em algumas situações haverá alguém que poderá, fora você. Por isso, é fundamental a criança saber quem pode tocar, quando pode tocar e como pode tocar.
    Quem pode. Nomeie com a criança as pessoas que fazem parte da rede de proteção dela, isto é, aquelas que compõem a sua rede de apoio. Isso vai depender do contexto de cada família.
    Quando pode. Mesmo fazendo parte da rede de proteção, precisamos deixar claro para ela quais são os momentos em que essas pessoas podem tocá-la. Por exemplo: no banho, para higienizar após o xixi e o cocô, para passar algum remédio (se necessário) ou no exame pediátrico.
    Como pode. Esclareça como deve ser esse toque de cuidado. Ele tem duas características: é rápido (só o tempo de limpar, lavar e examinar) e não pode ficar em segredo. Por isso, oriente: “Filho, se alguém tocar em seu corpo e pedir que não conte pra ninguém, é sinal de que essa pessoa não quer o seu bem. Conte-me logo. Eu sempre vou acreditar em você!” O segredo é uma das ferramentas mais poderosas do abusador.

COMO COMEÇAR A FALAR SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL?
1. Busque conhecimento. Não tem como educar a criança sobre sexualidade com o pouco conhecimento que a maioria dos pais possuem. A família é soberana na educação sexual dos filhos.
2. Adquira livros infantis sobre o tema, conheça músicas, dinâmicas e atividades. A linguagem e as ilustrações ajudam muito os pais a transmitir os conhecimentos e as crianças a aprender.
3. Utilize situações cotidianas, como a hora do banho ou troca de roupas, para ensinar sobre como o corpo é importante e especial, e como proteger cada parte dele.
4. Sempre que a criança fizer uma pergunta sobre sexualidade, não ignore ou diga que ela não tem idade para saber. Se não souber a resposta, diga-lhe que vai pesquisar e responder em breve. Cumpra a promessa feita.

Esses ensinamentos não podem acontecer de forma esporádica ou somente em uma conversa. É necessário que seja no cotidiano, pois como em qualquer processo educacional, a educação sexual também deve ser sistemática e intencional. Portanto, seja protagonista da formação da sexualidade dos seus filhos.

 


Fonte: https://downloads.adventistas.org/pt/ministerio-da-mulher/materiais-de-divulgacao/quebrando-o-silencio-2024/

Infância ameaçada: série sobre abuso sexual infantil (parte 4).

PERIGO DENTRO DE CASA
WILIANE PASSOS: jornalista
Texto adaptado

Eram três da manhã quando Camila1 acordou sua mãe. “Preciso de ajuda! Não estou conseguindo dormir e tenho que contar uma coisa: eu não quero ir com vocês amanhã”, a garota revelou.

Ela então revelou que, em uma visita à casa dos avós, um dos tios se aproximou e disse que queria tocar em suas partes íntimas. Não foi a única vez que isso aconteceu. A menina se sentia muito incomodada com a situação, mas sofria em silêncio. Camila tentou compartilhar o ocorrido com uma prima que, ao ouvir o relato, não acreditou na história e a orientou a não falar sobre isso com mais ninguém. Casos desse tipo são mais comuns do que imaginamos.

Segundo o “Relatório do Status Global sobre Prevenção da Violência contra Crianças 2020”, divulgado pela ONU, quase metade de todas as crianças no mundo sofrem violência física, sexual e psicológica regularmente (acesse: link.cpb.com.br/823410). O abuso sexual é geralmente cometido por pessoas próximas, nas quais a vítima confia.

Aline1 sofreu esse tipo de abuso dos 7 aos 11 anos. “Minha mãe foi a primeira pessoa para quem tive coragem de contar, aos 13 anos. Mas só fiz isso depois que o abusador, que era o esposo da minha tia, havia se mudado para outro país”, relata.

A mãe de Aline foi a única pessoa que acreditou nela. Ao revelar o que estava acontecendo, a garota ficou surpresa com o fato de que a mãe também tinha sido abusada por um familiar. “Infelizmente, é muito mais comum do que a gente imagina”, ela realça.

É crucial prevenir a violência contra crianças e adolescentes e compreender as diversas formas pelas quais ela ocorre. “Qualquer ato que pretende gratificar ou satisfazer as necessidades sexuais de outra pessoa, incluindo indução ou coerção de uma criança para engajar-se em qualquer atividade sexual ilegal”, configura-se como abuso e exploração sexual infantil, conforme define o Ministério Público do Paraná, no Brasil. Isso inclui também o uso de crianças em prostituição ou em atividades e materiais pornográficos.

Um dos principais desafios enfrentados pelas autoridades policiais ao investigar casos de abuso sexual infantil é que, por ocorrerem no ambiente familiar, as vítimas geralmente não denunciam. Quando o fazem, podem enfrentar dificuldades na comprovação e ser desacreditadas pelos familiares, o que desencoraja novas denúncias, conforme explica Leonardo Pinaffo, delegado no Brasil.

VÍTIMAS VULNERÁVEIS
O abuso sexual infantil é um tema que ainda encontra resistência, preconceito e o silêncio das vítimas e suas famílias.

Por isso, as estatísticas reais ficam comprometidas. Segundo um estudo da Rainn, uma das maiores organizações sociais dos Estados Unidos que atuam na luta contra a violência sexual, em 93% dos casos as vítimas menores de 18 anos conhecem o agressor.

A delegada Danielle Lima Matias dos Santos, especializada em casos de violência sexual infantil, destaca a importância de acreditar na palavra da vítima nesse tipo de crime, pois geralmente não há testemunhas. A palavra dela, registrada no momento da ocorrência, orienta a investigação e o processo penal. Danielle ressalta ainda que muitas vítimas demoram anos para denunciar devido a ameaças, falta de conhecimento ou de proteção, o que dificulta a investigação e a obtenção de provas.

Já em 2011, uma revisão de 217 estudos revelou que uma em cada oito crianças no mundo (12,7%) era vítima de abuso sexual antes dos 18 anos (“A Global Perspective on Child Sexual Abuse: Meta-Analysis of Prevalence Around the World”, Child Maltreatment, v. 16, nº 2, p. 79-101). O relatório intitulado “A New Era for Girls: Taking Stock of 25 Years of Progress”, publicado pelo Unicef em 2020, estima que uma em cada 20 meninas entre 15 e 19 anos (aproximadamente 13 milhões) foi forçada a fazer sexo em algum momento da vida.

A psiquiatra Maria Gabriela Dias Aragão, especialista em sexualidade humana, sublinha que os pais devem observar sinais tanto nas crianças quanto nos familiares para prevenir casos de abuso sexual infantil dentro de casa. Ela revela que a criança vítima desse ato pode ter dificuldade em estabelecer vínculos de confiança nas relações afetivas e distúrbios no desenvolvimento da sexualidade. Aline, a vítima mencionada no início desta reportagem, conta que o abuso impactou profundamente sua personalidade, seus relacionamentos e sua vida em geral. Quando aceitou o pedido de casamento de seu então namorado, viu-se confrontada com a turbulência emocional e o medo de como o trauma afetaria sua vida conjugal. Ela percebeu a necessidade de buscar ajuda profissional para lidar com os efeitos da violência. Esse apoio é fundamental, pois vai do diagnóstico ao tratamento, provendo os cuidados necessários no âmbito multidisciplinar. Além disso, o profissional pode atuar como testemunha e prestar depoimento em casos que forem judicializados.

PERIGO NO AMBIENTE VIRTUAL
O abuso sexual também se propaga no mundo virtual. Em 2022, a Internet Watch Foundation (IWF), organização que atua na luta contra o abuso sexual infantil on-line, recebeu 375.230 relatórios e confirmou 255.571 endereços de páginas na internet com imagens de abuso sexual infantil. A cada 2 minutos, eles removem uma foto de criança sofrendo abuso sexual e recebem mais de 7 mil denúncias por semana. Um relatório de 2020 do Unicef mostra que meninas são as vítimas mais recorrentes dos crimes virtuais, atingindo 12,9% das norte-americanas entre 14 e 17 anos, e 15% das espanholas de 12 a 15 anos (“Action to End Child Sexual Abuse and Exploitation”, p. 5).

Por isso, os pais e cuidadores devem orientar e filtrar o acesso à internet, promovendo o uso seguro e educativo. O monitoramento e diálogo contínuos são essenciais para reduzir os riscos de abuso e exploração sexual on-line. A falta de controle pode facilitar o contato de agressores com as crianças, resultando em exploração e compartilhamento de material abusivo. Afinal, mídias sociais, aplicativos de bate-papo, fóruns e games têm sido usados pelos agressores.

FALTA INFORMAÇÃO
Aline e Camila demoraram anos para falar sobre o abuso que sofreram devido à falta de orientação e segurança em seus ambientes. Aline ressalta a importância de projetos que tratem abertamente do assunto em igrejas, escolas e lares. Ela também encoraja os pais a ouvir seus filhos, saber onde estão e com quem estão brincando. Informar-se a respeito do assunto é uma forma de proteger as crianças e estar preparado para ajudar outras pessoas.

Segundo a psiquiatra Maria Gabriela Dias Aragão, existem sinais e sintomas comuns em crianças que foram vítimas de abuso sexual. Mudanças comportamentais como retração social, exibicionismo e agressividade podem ser indicativos.

É importante notar que a criança adotará comportamentos que não são comuns para ela. Reações repentinas, silêncio predominante, proximidades excessivas, comportamentos sexuais, falta de apetite, afastamento dos amigos e notas baixas na escola também podem ser sintomas de abuso.

A delegada Danielle Lima sugere algumas medidas que podem ajudar na prevenção do abuso sexual infantil. A primeira delas é a educação sexual desde cedo, ensinando a criança a identificar partes íntimas, limites e toques abusivos, além de incentivá-la a falar sempre a verdade (veja o artigo da p. 14).

PERFIL DOS ABUSADORES
Abusadores geralmente têm relações próximas com a família, são sociáveis e se dão bem com a criança. Eles se mostram como cuidadores, buscam ganhar sua confiança e dedicam mais atenção a ela do que aos outros. Muitas vezes, essas pessoas passam tempo compartilhando atividades com crianças. Podem ser treinadores, babás, professores, etc. Afirmam amar as crianças e usam truques, atividades e brincadeiras para ganhar sua confiança. Podem pedir que a criança guarde segredos e usam ameaças para amedrontá-la. As brincadeiras freqüentemente envolvem carinho, beijos e toques inadequados. Além disso, essas pessoas podem expor a criança a material pornográfico e tentar extorqui-la e suborná-la, misturando essas ações com afeto e amor para confundir e isolar.

De acordo com o estudo intitulado “Perfil Psicológico de Delincuentes Sexuales”, publicado na Revista de Psiquiatría da Faculdade de Medicina de Barcelona, o abusador de crianças geralmente não usa violência (acesse: link.cpb.com.br/8ed90c). Ele consegue convencê-las a manter o relacionamento por meio da manipulação da inocência e vulnerabilidade infantil. Esse comportamento é conhecido como pedofilia e, de modo geral, requer tratamento psiquiátrico, pois é difícil ser mudado sem ajuda profissional.

AJUDA
Para prevenir o abuso sexual infantil são necessárias ações que promovam um ambiente seguro para o desenvolvimento das crianças. Fortalecer a rede de apoio, conscientizar sobre os sinais e as conseqüências do abuso infantil, oferecer suporte e tratamento a familiares com transtornos mentais e detectar precocemente situações de risco são algumas estratégias eficazes.

Denúncias podem ser feitas de forma anônima por meio de diversos canais, incluindo sites, aplicativos e até o WhatsApp. É importante que os adultos se informem sobre esses casos e estejam dispostos a denunciar. As informações fornecidas ajudam a identificar os responsáveis e garantir a segurança dos menores.


Fonte: https://downloads.adventistas.org/pt/ministerio-da-mulher/materiais-de-divulgacao/quebrando-o-silencio-2024/


  1. Os nomes foram alterados para preservar a identidade das vítimas. 

Infância ameaçada: série sobre abuso sexual infantil (parte 3).

A prevenção contra o abuso começa na educação da criança no ambiente familiar
ANNE SEIXAS
Texto adaptado

No dia a dia, é comum que os pais não atentem para alguns detalhes que podem abrir brechas para a violência. Mas algumas medidas simples ajudam a prevenir o abuso sexual infantil. Veja a seguir dez recomendações do que fazer para preservar a integridade das crianças:

Não mostre o corpo do seu filho em fotos e vídeos na internet.
Se precisar trocar as roupas dos pequenos em lugares públicos, certifique-se de que não os está expondo. Você nunca sabe se tem alguém tirando fotos ou filmando crianças visando à exploração sexual.
Quando receber visitas que irão dormir em sua casa, a criança deve dormir com você.
Não incentive a proximidade física, como sugerir que ela beije ou abrace alguém.
Valorize a fala da criança e reafirme o fato de que você sempre acreditará na palavra dela.
Nunca a deixe sozinha em um local público, especialmente banheiros.
Apresente as pessoas de sua rede de proteção, ou seja, aquelas a quem ela pode recorrer diante do problema.
Fale sobre toques não permitidos, que é consentimento e a importância dele. Dessa forma, a criança saberá descrever o que aconteceu, caso alguém a toque de maneira indevida.
Ensine sobre as partes do corpo, nomeando todas elas.
Fale sobre as emoções e ajude a criança a se expressar.

Fonte: Leila Cavalcante, psicóloga, criadora do Projeto PAS (Prevenção do Abuso Sexual na Infância) e especialista em educação sexual e emocional.


Fonte: https://downloads.adventistas.org/pt/ministerio-da-mulher/materiais-de-divulgacao/quebrando-o-silencio-2024/

Infância ameaçada: série sobre abuso sexual infantil (parte 2).

FERIDAS ABERTAS
Crianças violentadas na infância podem crescer com dificuldades de relacionamento e precisam de ajuda profissional.
JEFFERSON PARADELLO entrevista PABLO CANALIS
Texto adaptado.

Assim como as rasuras em um caderno deixam marcas, o abuso sexual infantil também mancha a história de crianças que foram vítimas desse crime durante seus primeiros anos de vida. Em muitos casos, a compreensão do que aconteceu em um quarto escuro ou até mesmo em um ambiente por onde transitam mais pessoas só faz sentido anos depois, trazendo prejuízos que podem afetar, inclusive, os relacionamentos nas mais diferentes esferas.

Embora possam ser suavizadas a partir da ajuda de familiares e profissionais, as marcas da dor continuarão lá, conforme o médico Pablo Canalis explica nesta entrevista. Pós-graduado em Psiquiatria e em Medicina da Família e Comunidade, ele tem 15 anos de experiência em atendimentos que envolvem, também, pessoas que tiveram sua infância desonrada pelo abuso de quem de- veria protegê-las. A seguir, ele aborda como construir uma relação saudável, respeitosa e madura apesar do passado.

Quando alguém que foi vítima de violência sexual na infância compreende o que aconteceu?
Depende muito da idade, mas geralmente entre 6 e 9 anos. Quando não há informações prévias sobre isso, ela não compreende o que está acontecendo. Pode apenas sentir que aquilo está errado, mas não sabe o motivo. Especialmente porque o abuso sexual é cometido com mais freqüência por pessoas que são próximas da família. Há casos também em que isso é feito por outras crianças, como se fosse uma “brincadeira”.

De que maneira isso impacta a mente dessa criança? Ela tende a culpar a si mesma ou ao seu agressor?
A pessoa tende a se culpar porque o agressor coloca a culpa na criança. Normalmente essa culpa se sustenta até a idade adulta. A criança que sofre abuso geralmente fica retraída e pode até mesmo ter problemas para ir ao banheiro. Esse é um tipo de atendimento feito com muita freqüência pelos pediatras. Geralmente, as mães levam os filhos ao médico porque eles voltaram a fazer xixi na cama ou a defecar nas calças. Isso impacta bastante a mente da criança, criando confusão e levando a um peso de culpa muito forte.

E quanto aos efeitos na fase adulta?
O abuso pode impactar a vítima de diversas formas, resultando em doenças como depressão, transtornos de personalidade e bipolaridade. Principalmente nos quadros depressivos, isso pode ser acompanhado de ideação suicida. Também afeta o desenvolvimento psicológico da sexualidade, o que pode prejudicar o relacionamento amoroso. Quando um evento traumático assim ocorre, a vítima tende a se isolar em vez de buscar um relacionamento afetivo estável. De forma geral, os problemas nessa fase são muito presentes, mas também existe uma porcentagem pequena de pacientes que sofreram abuso e não se vêem alterados do mesmo jeito que outras pessoas. Além da capacidade de resiliência, o nível com que foram afetados é menor.

E quanto à construção de uma nova família? Quando as vítimas não contam com auxílio, sobretudo profissional, quais podem ser os resultados?
Algumas pessoas não têm problemas para constituir uma família, mas muitas se vêem em uma situação de desconfiança e criam problemas no relacionamento sexual. Elas precisam muito mais de fatores de confiança que a ajudem a se unir ao seu cônjuge.

O que alguém que hoje sofre com essa dor deve fazer para encontrar alívio? Existe saída?
Temos muitos preconceitos com a saúde mental, por diferentes razões, mas atualmente há muito amparo acadêmico para entender quão importante é uma boa terapia. Também é importante aliar o tratamento ao vínculo familiar adequado, com uma vida espiritual saudável, alimentação adequada, atividade física e realização no trabalho. Tudo isso faz parte do dia a dia, e esse todo precisa ser tratado para ter bons resultados ao se enfrentar qualquer doença ou situação que envolva a saúde mental. O cérebro é parte fundamental do nosso corpo e precisamos cuidar muito bem dele.


Fonte: https://downloads.adventistas.org/pt/ministerio-da-mulher/materiais-de-divulgacao/quebrando-o-silencio-2024/

Infância ameaçada: série sobre abuso sexual infantil (parte 1).

Como escrevi anteriormente, meus estudos sobre religião são abrangentes, diversificados. Nessas andanças, tive acesso à publicação periódica da Igreja Adventista “Quebrando o silêncio” especial de 2024 que versa sobre abuso sexual de crianças e adolescentes. Nesta série citativa, procurarei adaptar os textos, removendo a parte proselitista e promovendo a parte laica.


PROTEJA SEU LAR
A maioria dos casos de abuso sexual infantil ocorre no núcleo familiar. Prevenir essa realidade está em nossas mãos
JEANETE LIMA: educadora e coordenadora do projeto Quebrando o Silêncio na América do Sul
Texto adaptado.

Fechar portas e janelas, ativar alarmes e instalar grades e câmeras de monitoramento são medidas importantes para preservar a segurança de uma casa. Mas o que deve ser feito para proteger fisicamente e emocionalmente as pessoas que vivem em nosso lar, especialmente as crianças e adolescentes? Sem dúvida, a família é o nosso maior patrimônio e precisa ser protegida das ameaças que, às vezes, estão mais perto do que se imagina.

Depois de assistir a uma palestra sobre abuso sexual, Joana (nome fictício), de 57 anos, pediu para conversar com a palestrante. Entre soluços, ela contou que, dos 9 aos 14 anos, havia sido vítima desse crime. Um cunhado, esposo de sua irmã mais velha, tinha livre acesso ao quarto dela todas as vezes que visitava a família nos fins de semana. Durante a noite, ele a beijava e acariciava suas partes íntimas. Desde a primeira vez, Joana pediu ajuda, mas a família ignorou sua fala, alegando que era fantasia da sua cabeça, pois o cunhado jamais procederia daquela forma. Além da culpa, ela carregou as cruéis conseqüências dessa agressão durante anos. Tinha confusão de pensamentos, baixo rendimento no trabalho, crises de pânico, sérios problemas no relacionamento sexual com seu esposo, além da sensação de abandono por sua própria família, que não a protegeu. Com ajuda profissional, Joana está vivenciando um processo de restauração e cura. Sim, mesmo quando o pior acontece, é possível superar os profundos traumas do abuso sexual.

Segundo o “Relatório do Status Global sobre Prevenção da Violência contra Crianças 2020”, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), uma em cada oito crianças sofre algum tipo de violência (física, psicológica ou sexual). Essa estatística é assustadora porque é nessa fase que crianças e adolescentes têm maior potencial para um desenvolvimento saudável. Os números revelam também que o perigo, muitas vezes, mora dentro da própria casa. Dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde brasileiro, intitulado “Notificações de Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes no Brasil: 2015 a 2021”, revelam que 68% dos casos de abuso contra crianças e 58% das ocorrências contra adolescentes são praticados por familiares e conhecidos. Porém, esses números alarmantes não representam a realidade completa, pois muitos casos ficam sem denúncia.

Diante dos fatos e traumas que envolvem o abuso sexual infantil, não podemos ficar indiferentes. A Bíblia nos aconselha: “Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal com o bem” (Romanos 12:21).

Finalmente, é preciso entender que a violência sexual é crime e que o abusador deve ser denunciado às autoridades competentes. Você verá nesta edição que cabe a nós proteger nossas crianças, garantindo a elas o amor, a segurança e o auxílio de que precisam. Embora não seja possível mudar o passado, vamos quebrar o silêncio e ajudar a construir um futuro diferente e melhor para elas.


Fonte: https://downloads.adventistas.org/pt/ministerio-da-mulher/materiais-de-divulgacao/quebrando-o-silencio-2024/

Abuso sexual contra autistas e pessoas com déficit cognitivo.

Esta postagem tem como objetivo mencionar e promover a divulgação do alerta sobre a condição de alto risco de abuso sexual em que se encontram todas as pessoas com déficit cognitivo.

Caso tenha ciência de qualquer caso de abuso sexual, entre em contato com as autoridades pelo DISQUE 100.

Atualizado em 05/03/2021: eu trabalho somente com computador e não percebi antes que a imagem fica muito pequena para celulares. Hoje fiz a transliteração do que está escrito para facilitar a divulgação.

Sou autista
Tenho direito ao meu próprio corpo.

Imagem mostra personagem em fase infantil, juvenil e adulta.
Saiba mais sobre a campanha: www.abraca.autismobrasil.org

1º Quadro | Violência e abuso sexual – autismo e outras deficiências
– 3 vezes mais comum em homens com deficiência
– 10 vezes mais comum em mulheres com deficiência
– 4 vezes mais comum em crianças com deficiência
– 30% dos homens com deficiência sofre abuso sexual antes dos 18 anos
– 68% das mulheres com deficiência sofre abuso sexual antes dos 18 anos

2º Quadro | Deficiência intelectual
– 90% das mulheres com deficiência intelectual ou psicossocial sofre abuso sexual em algum momento da vida
– Muitas pessoas autistas têm também deficiência intelectual ou distúrbios sensoriais. Atualmente o autismo pode ser considerado uma deficiência psicossocial.

3º Quadro | Tratamentos experimentais, cruéis, desumanos ou degradantes
– falta de aceitação do autismo como manifestação da diversidade humana e percepção da deficiência como tragédia
leva a
– desespero de muitas famílias diante da perspectiva de ter um filho autista
leva a
– busca da ”cura” a qualquer custo
leva a
– charlatanismo, tratamentos invasivos e experimentais, promessas milagrosas de cura que custam fortunas, jornadas de terapias exaustivas
leva a
– negação da identidade: ser criança, ser autista, violação do direito ao próprio corpo
leva a
– círculo vicioso com repetição de preconceito

Porém a Lei Brasileira da Inclusão e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência determinam que as pessoas autistas sejam protegidas contra tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, bem como contra tratamentos experimentais sem o seu livre e esclarecido consentimento.