Triggernometry Meets Guilty Feminist | Triggernometry
Deborah Frances-White é uma comediante, autora e roteirista britânico-australiana. Ela é mais conhecida por apresentar o podcast The Guilty Feminist, onde explora questões feministas com humor e honestidade.
PQP.
Durante a primeira hora eu escutei com bastante atenção os argumentos apresentados por essa senhora e consegui compreendê-los, bem como a estrutura subjacente de seu ponto de vista.
Porém nada disso se sustenta frente a um escrutínio mais minucioso. Após duas horas e meia, foi como se ela tivesse falado, falado e não dito nada…
O primeiro trecho trata da questão do homossexualismo e identidade de gênero. São tratados dois focos de argumentação. O primeiro é o de que as pessoas levam tempo para se acostumar a mudanças sociais. Na época vitoriana, os homens usavam cabelos longos. Durante as Grandes Guerras, para evitar piolhos nas trincheiras, o corte de cabelo curto foi padronizado. Passou-se a identificar o cabelo curto como sinal de masculinidade. Na década de 1960, quando homens voltaram a usar cabelos longos, foram logo alvo de zombarias, por se tratar de um traço cultural agora relegado a mulheres. Algo similar ocorreu quando mulheres começaram a usar calças, um traço culturalmente associado ao homem. Ela também traz para o debate a questão da orfandade e de como o preconceito contra órfãos foi se transformando ao longo do tempo.
Esse argumento não se sustenta por não se tratar de características culturais e sim biológicas fixas. Um homem nasce homem. O fato de dizer que é uma mulher não o torna uma mulher e vice versa.
O segundo argumento do primeiro trecho trata da idéia de gênero fluido, que a identidade de gênero é um espectro e que diversas sociedades indígenas tratam seus membros dessa forma. Numa mostra do batido discurso do ”nobre selvagem”, ela tenta equivaler a cultura branca européia com as diversas culturas silvícolas ao redor do mundo, em especial a aborígene (australiana).
O problema desse argumento é que todas as grandes civilizações tiveram e têm distinções entre a posição do homem e da mulher, sendo essas distinções ainda muito mais acentuadas em civilizações orientais. A diferença social entre homem e mulher é muito mais atenuada na atual sociedade ocidental do que em outros lugares do mundo, como o mundo eslavo, islâmico, chinês ou do sudeste asiático.
O segundo trecho trata da cultura do ”cancelamento”, o conhecido boicote de pessoas, muitas vezes comuns, por não se alinharem a determinado discurso ou narrativa. Ela defende que há pontos positivos nos movimentos #metoo e congêneres, pois permitiram que denúncias fossem feitas em meios que antes eram impenetráveis. Mais no sentido de uma discussão sobre o assunto, ela concorda que houve excessos e que toda ferramenta pode ser usada para o mal, porém minimiza as experiências pessoais de pessoas que foram vítimas desses excessos.
O contra-argumento é que o uso indiscriminado dessa metodologia levou à retaliação cultural e ao que hoje está sendo chamado de ”fadiga cultural”. O homem branco heterossexual cristão vem sendo há muito tempo, mais de uma década, constantemente e progressivamente perseguido em todos os meios de comunicação e narrativas políticas de orientação neomarxista pós-moderna. Mais do que natural voltar-se visceralmente contra esse discurso, donde conseqüentemente testemunhamos o aumento da direita radical.
Passada essa primeira hora, ela embarca na repulsa feminista ao trabalho de Jordan Peterson (ver também) e o compara a Andrew Tate. Não apresenta argumentos além de que o discurso de Peterson lhe desagrada. Disso ela apaixonadamente representa Trump e Musk como demônios, que são capitalistas obcecados pelo poder etc. Sua definição de extrema-direita é a de que ela está muito além da questão econômica, pois advogaria pela imposição de uma cultura branca heteronormativa patriarcal, e que isso equivale ao fascismo.
O problema dessa linha de argumentação é o de que a esquerda usa tanto esses chavões e rótulos que essas palavras perderam totalmente seu peso. Quando vemos a ascensão de movimentos realmente neonazistas, esse fato é minimizado, pois qualquer um que não concorde com as narrativas de esquerda assim é alcunhado.
O penúltimo trecho do vídeo fala sobre a obsessão com políticas identitárias e de como isso prejudica a formação de pontes de diálogo entre pessoas que estão em pólos opostos do espectro político. Ela demonstra não conseguir construir essa ponte, mesmo sendo seu livro exatamente sobre criá-la…
E na parte final ela tenta fazer terapia com os entrevistadores…
Sugiro ver no Youtube e ler os comentários. É muita coisa para dissecar neste curtíssimo resumo.