Estou profundamente chateado com o fato de que neste país atrasado, em especial nesta arrogante e presunçosa cidade, não temos nada (ou quase isso…).
Sinto-me agastado/enfadado ao deparar-me com a dificuldade em obter informações para aprender coisas novas. Para um autodidata, a carência de boas fontes é muito desagradável. Sempre que procuro conhecimento ou boas referências sobre assuntos “alternativos”, só acho em inglês. E coisas nos EUA. Eu realmente não consigo encontrar (com a facilidade esperada) informação fidedigna vinda de terras tupiniquins. A exceção foi marcenaria, que realmente dispõe de informação muito boa em português. Mas de resto, é lixo em demasia. Tem que garimpar muito para achar algo que preste. Oásis no deserto intelectual de mediocridade e/ou vulgaridade chamado Brasil… A quantidade de gente que resolve colocar um inútil vídeo que se resume a “Fala, galera! Beleza?” é enorme. Alcunhar a produção de conteúdo intelectual ou informativo como deficitária é elogio. O nível de analfabetismo funcional específico é assustador. Por hora, estou aprendendo programação de computadores. Daí descobri um sujeito que diz ensinar Python e chama ‘*’ de “Astrelisco”. Apenas um exemplo dentre os incontáveis que há na rede. Pessoas que nem ao menos dominam seu próprio idioma, querendo ensinar o que também não entendem. Não espero que tais “programadores” chamem o símbolo “&” de eitza (pronúncia: “éitssa”), ou que reconheçam o “¬” como negação lógica. Já concluí que isso seria pedir demais. Mas, ao menos que entendam minimamente do que estão falando, ou estudem um pouco o assunto antes de se exporem como ignorantes perante o resto do mundo. Quer aprender sobre ciência? O sujeito tenta “lacrar” (verbo da moda) falando de política. Quer aprender mais sobre qualquer coisa? Procure em inglês. Antes de criticar-me: é claro que há conteúdo. E há fontes realmente muito boas, saliento. Minha queixa é ao fato de esse conteúdo ser muito escasso e/ou pouco aprofundado se comparado ao conteúdo em inglês. Em português, a didática também peca em vários pontos. Cogito isso ser reflexo da inópia de nosso sistema educacional… A falta de cultura deste país me enoja. E ainda pior é a invisível barreira quase metafísica para obter os recursos, caso eu queira experimentar algum desses “inusitados” projetos. Entenda isso como entraves ou empecilhos para descobrir uma nova afecção (ou se preferir o termo em inglês: hobby). Simplesmente “não tem no Brasil”. E “se tiver no Brasil, só em São Paulo”. E “se tiver no Rio de Janeiro, só nos confins da cidade”. Meu breve contato com o Levantamento de Peso findou infrutuoso em parte por causa disso. Encontrei um treinador que estava disposto a me treinar gratuitamente, mas não segui no esporte pela distância física até os centros de treinamento. Não sendo isso bastante, se você se interessar por qualquer coisa que não faça parte da vidinha comum, da mesmice em que a sociedade chafurda e em que o homem comum se contenta, além de ter de aprender a lidar com os olhares de menoscabo / curiosidade / desdém / repúdio (caso dê valor à opinião alheia) e com a ignorância coletiva previamente mencionada, também terá de lidar com a imperante escassez de acesso a recursos e o exorbitante preço das ferramentas/materiais. Uma ou outra marca por aqui ou acolá comparado com dúzias de dúzias de marcas variadas no exterior. Preços surrealmente aleatórios, completamente desvinculados do valor de uso das mercadorias, capazes de enrubescer o mais avarento dos atravessadores. Isso se tem e quando tem. Na maior parte das vezes, terás de aprender como funciona o maravilhoso processo de importação e fiscalização alfandegária. Conheci uma empresa americana que exporta para o mundo todo. Menos para o Brasil. Alegam que o mercado consumidor daqui é prejudicial aos negócios de lá. As taxas são abusivas e para eles não vale a pena comercializar. Eles até fazem, mas você, caro brazuca, precisa aceitar termos especiais. Informações, produtos e serviços. Parece que nada que procuro tem fácil acesso! Normal indagar a partir de minha personalíssima dificuldade em lidar com a sociedade a que involuntariamente pertenço se o problema estaria em mim… Por minha vida até o presente momento já fui surpreendido por questões vindas doutrem que demonstram minha estranheza a seus olhos. Já me perguntaram se eu era testemunha de jeová, rabino, japonês, autista e tantas outras coisas que nem lembro! No que pergunto: será que sou tão diferente assim? Será que o problema sou eu? Por várias vezes, em relação a outros temas, cheguei à mesma conclusão e, em ato por sinal satisfatoriamente benéfico à minha saúde, mudei de hábitos. Porém, neste caso é diferente. O problema não está em mim. Está na anestesia coletiva que enfrento diariamente. Que seja: mesmo com todas as dificuldades, não deixarei de lado as coisas de que gosto para adequar-me à deplorável exigüidade dos demais. – |