Vivemos num país de proporções continentais. Acostumados com nossas dimensões territoriais, esquecemo-nos de que o Rio de Janeiro, por exemplo, serve de ambiente para 8 milhões de habitantes, turistas e transeuntes (os que vêm de cidades próximas para trabalhar e voltar a elas à noite). Isso é mais do que toda a população de Paraguai, ou Líbano, ou Dinamarca, ou Jamaica, ou Noruega, ou Uruguai. Dezenas de pequenos países somados cabem todos em uma só cidade nossa, que não é a maior do país…
E parece-me que alheios a toda essa grandeza os brasileiros não têm noção de o quão beneficiados são por partilhar a mesma língua. Acredito que as pessoas não têm a compreensão do que isso significa em parte por conta da inexistência interna de barreira lingüística. Regionalismos à parte, falamos português em todo o território nacional.
Façamos um exercício mental: imagine que os moradores das cidades do Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias, São Gonçalo e a Ilha do Fundão sejam animosos entre si. E disputem quem tem o controle da pesca na Baía de Guanabara. E que entrem em guerra e se matem uns aos outros por isso. E que falem idiomas diferentes.
Bem-vindo à história da Europa. Uma coleção de guerras, reis, disputas territoriais, bandeiras e rivalidades, todas paramentadas com idiomas diferentes, entre povos tão pequenos que para nós seriam tribos. Cidades-estados, isto é, cidades que são países em si mesmas, entrando em guerra umas contra as outras. Moradores de ilhas vizinhas que não falam a mesma língua lutando entre si para garantir passagem pelas águas. Um punhado de terra para plantar valendo a vida de tantos e tantos.
Felizmente a era das grandes guerras terminou e, mesmo que ainda haja conflitos ocasionais, eles são de menores proporções. Daqueles tempos, sobraram-nos diferentes culturas que não se misturaram completamente, mesmo ora compartilhando o mesmo bojo estatal (e por vezes querendo separar-se em novos estados…). Esse caldeirão cultural que é o mediterrâneo foi o precursor de nossa sociedade ocidental, esta com seus feitos e defeitos.
Somos afortunados por falar o mesmo idioma. Imagine se tivéssemos um parlamento em que os representantes não se entendessem uns aos outros. A solução seria adotarmos uma ”língua franca”. É exatamente o que ocorre em muitos locais ao redor do mundo e dentro de países cuja população fala diversos idiomas e dialetos muitas vezes ininteligíveis entre si. E ainda mais afortunados somos nós por não termos lutas entre nós mesmos. Todos nos tratamos como irmãos, mesmo residindo a grandes distâncias. Todos nos tratamos igualmente como brasileiros.
É uma lástima que os próprios brasileiros não dêem valor a língua pátria, que tenham aceitado de bom grado a reforma de 1990 (que, deves ter percebido, não sigo), que tenham tido educação tão precária por tanto tempo…
Abaixo seguem vídeos com diversos idiomas (não todos) falados em duas regiões européias donde metade de minha árvore genealógica provém. A outra metade vem do árido sertão nordestino, oxente ^_^.
[algumas] Línguas da Península Ibérica | JJ Souza
[algumas] Línguas da Península Itálica, Córsega, Sardenha e Sicília | JJ Souza
Ver também: Análise de freqüência de letras da Língua Portuguesa (isoladas, digramas e trigramas).
Ver também: Como a linguagem modela a maneira como nós pensamos?