Nesta manhã, tive o desprazer de ler o Jornal O Globo impresso.
A leitura superficial que eu fazia quando era adolescente já não existe mais. Hoje, já adulto, tenho uma visão diferente das coisas. Quase saindo de uma menoridade kantiana, minha visão política e meus estudos filosóficos propiciam uma leitura mais crítica acerca desse e de qualquer outro meio de comunicação.
Mesmo com os grosseiros erros de gramática e ortografia (a nova ortografia) expostos sem pudores no jornal de maior circulação do país, ainda assim desejei que o jornal fosse um pouco maior. Lembro que ele era bem volumoso, e não só uma meia dúzia de folhas escritas forradas com publicidade. Surpreendida com o valor de R$ 7,00 (o que dá para comprar dois litros de leite e alguns pães), mamãe trouxe-me o dito cujo, cujo conteúdo pode ser resumido nos seguintes tópicos:
- Rocinha: balas perdidas de fuzis atingem somente a Zona Sul da cidade.
Ser atingido por bala perdida é um perigo em Copacabana, Leblon, Flamengo, porém nem vale a pena ser mencionada qualquer coisa sobre a Zona Norte. Melhor falar exaustivamente sobre o poder de fogo dos marginais que entornam áreas nobres com gráficos precisos, mostrando o alcance do poder de fogo dos fuzis sobre as áreas importantes da cidade. Afinal, quem se importa com os favelados do Jacarezinho?
- Rio de Janeiro: sem novos escândalos, o jornal limita-se/contenta-se a repetir matérias antigas sobre Sérgio Cabral e Eduardo Cunha.
Numa ominosa retrospectiva, o jornal parece interessado em manter viva a imagem da corrupção que nos levou à pior crise de nossa história. E, por alguma razão, esse lapso temporal foi curto: também uma grande reportagem mostra o saudosismo de não sermos mais a capital do país desde Juscelino. E como o Estado afundou (e continua afundando) desde então: décadas de afundamento.
- Nazismo: aparentemente o movimento Nacional Socialista Democrata do Partido dos Trabalhadores Alemão é de extrema direita.
Direita política, cujos nomes citados, esmiuçados e minuciosamente estudados foram Alckmin e Dória. Sim, claro, pois eles são os únicos nomes da Direita no país, não é?
- Divórcio: E ao lado da matéria sobre ”extrema direita”, vemos um casal sorridente e suas duas filhas. Tudo bom, tranqüilo. A imagem da felicidade. E do divórcio.
Na matéria que versa sobre os 40 anos da lei do divórcio, faz-se a apologia ao mesmo da forma mais descarada possível. Como se o divórcio não fosse somente algo natural, mas bom em si mesmo. Dão até a data: aos 15 anos de casamento, já está bom para divorciar. E a manutenção da família tradicional que se dane.
- Queermuseu: O museu da bicha vem para o Rio de Janeiro.
Em lugar de apoiar o uso das forças armadas para conter a onda de violência, de pagar os salários atrasados dos servidores, de fazer algo realmente útil para a população, dinheiro público será usado pelo Museu de Arte do Rio de Janeiro para expor a controversa mostra. Exposição que o jornal acusa ter sido censurada. Aparentemente, os editores do O Globo não sabem a diferença entre censura e boicote…
- Ísis Valverde: por algum motivo que ainda não entendi, a vida sexual de Ísis Valverde é importante.
E a bunda da Anita também.
» Para não dizer que só falei mal do jornal, a matéria sobre a situação política da Coréia do Norte está muito boa.