Conforme escrevi anteriormente, não faço mais postagens políticas. Logo, não escreverei aqui sobre as conseqüências políticas da decadência da imagem das forças armadas, em especial do Exército Brasileiro. Pontuo apenas que após os eventos de 2022 a credibilidade das forças armadas pela população foi gravemente abalada. Conforme é possível encontrar facilmente nas redes sociais, a perspectiva de muitas pessoas é a de que os mesmos que afirmaram defender a democracia, olvidaram o clamor popular e não vislumbraram óbice em se submeter a corruptos e a prestar continência a ditadores.
Essa é a opinião que vejo nos outros. A minha é que não estou nem aí. Por mim, tanto faz como tanto fez. Que me importa a política na caserna? Só o que me interessa agora é a farinha do meu pirão, o que inclui a segurança pública e, por derivação, minha segurança própria. E é sobre segurança que segue este texto.
Durante a tragédia no Rio Grande do Sul, que ora ameaça seguir para Santa Catarina, a atuação das forças armadas está se demonstrando insatisfatória (para dizer o mínimo). Excepto nos casos excepcionalmente excepcionais de autodidatas, um profissional somente é capaz de fazer aquilo para o qual ele foi previamente, adequadamente e efetivamente capacitado para fazer:
- Um bom soldador precisa ter feito um bom curso de solda (preferencialmente no SENAI);
- Um bom juiz precisa ter feito os cursos de magistratura (na EMERJ se aqui no Rio);
- Um bom docente precisa ter feito os cursos de extensão no SENAC, como eu ( ͡° ͜ʖ ͡°);
- Um bom dentista precisa ter feito uma boa faculdade;
- Um bom pedreiro precisa ter feito um bom curso técnico.
Etc., etc., etc…. Isso vale para qualquer profissão. Mesmo durante o exercício profissional, o indivíduo precisa de formação continuada, atualizações, reciclagens. A gente nunca pára de se qualificar. E temos ciência de que o mesmo se dá no oficialato das forças armadas. Desde os cobiçadíssimos cursos na Escola Superior de Guerra, aos incontáveis cursos internos às suas divisões, os oficiais também têm ao seu dispor uma ampla possibilidade de capacitação.
Mas e os praças? Sabe, aqueles que irão de fato por mãos à obra (incluindo capinar um roçado ou pintar o meio-fio). Conforme o que estamos vendo nas redes sociais, os meninos não estão nem um pouco qualificados a executar as operações necessárias neste tempo de tragédia. Nós vemos os meninos totalmente desorientados, despreparados e desamparados no fronte.
Um profissional só pode dar o que tem. Se ele não teve instrução sobre o que fazer, como fazer, quando fazer, por que fazer, ele vai fazer o quê? Estamos vendo claramente que nossos soldados não foram preparados para lidar com situações de crise. Foram enviados às cegas para uma região devastada por uma catástrofe natural, com um tapinha nas costas e votos de ”se vira aí”.
Se não estamos preparados para lidar com uma crise civil, o que há de acontecer em caso de guerra? O Brasil vive uma situação de relativa tranqüilidade no cenário internacional local e há pouquíssima probabilidade de um conflito à distância. Não precisamos nos preocupar com a defesa nacional em larga escala, apenas com traficantes nas fronteiras ou nos portos. Isso nos deixa numa terrível posição de conforto, de acomodamento. O resultado disso se mostra na patética atuação do Exército no Rio Grande do Sul.
Os meninos não podem continuar sendo treinados com se estivéssemos no século passado. Marchar por horas, tiro de boca, ficar em pé no Sol e na chuva não formam ninguém, quando as tropas ordinárias de um país de dimensões continentais deveriam ser totalmente mecanizadas. E quanto aos adestramentos que realmente precisavam ter sido feitos? Salvamentos anfíbios, logística em terreno não mapeado, construções emergenciais, operação de material para comunicações analógicas e digitais off-grid. Cadê essas instruções?
Além da visível (e risível) desorganização das tropas, recebemos pelas redes sociais inúmeras denúncias de que os órgãos governamentais estão atrapalhando os resgates com bloqueio do trânsito de pessoas e veículos, recusa no recebimento e/ou distribuição de donativos, recusa em resgatar/transportar desabrigados, e a atuação da imprensa para acobertar a gravidade dessas denúncias. Tudo isso também pesa contra a credibilidade das forças armadas.
A imagem das tropas (que já estava ruim) desabou:
“— O Exército está esperando as águas baixarem para poderem fazer seu trabalho: capinar o roçado e repintar o meio-fio.”.
“— Do jeito que está, seria melhor terem mandado os escoteiros.”
“— Mas teve barco da Marinha para o espetáculo de vulgaridades da Madonna.”
Nossos meninos não mereciam isso.
Editado em 02/06/2024: Encontrei hoje este vídeo. Sugiro ver no Youtube e ler os comentários.
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