Cultura japonesa – Lado A

Eu, assim como muitos e muitos brasileiros, admiro a cultura japonesa. Recordo-me de quando era menino e queria emigrar para o Japão. Até mesmo fui ao consulado algumas vezes quando adolescente para saber como era o ingresso em faculdade por lá. Não tive ainda a oportunidade de aprender adequadamente soroban, go ou nihongo, embora tenha noções rudimentares sobre essas coisas. Não tenho interesse no Japão por ser uma ”cultura exótica”, mas pela forma como seu povo se organiza. A boa educação das pessoas, o respeito à comunidade, a preservação dos espaços públicos sempre me cativaram. Mas será que a vida no Japão é tão boa assim?

Conforme os anos passaram e para lá não fui, observei também certas características que comumente passam despercebidas. Nesta primeira postagem, eu compartilho vídeos que falam das coisas boas relacionadas com a cultura e a vivência japonesa, exatamente aquilo que nos faz admirar o povo japonês.

O primeiro vídeo trata do assunto mais importante em voga na discussão da sociedade brasileira hodierna: a violência. Urbana ou rural, a violência é o principal assunto do dia-a-dia brasileiro. Temos uma quantidade muito grande de homicídios (boa parte deles jamais resolvida), furtos e assaltos, estupros e seqüestros. Mesmo considerando a imensa geografia e as disparidades demográficas, os números estão muito acima comparativamente a outras nações, mesmo as em nível de desenvolvimento similar.

Num país em que a criminalidade compensa (e compensa muito bem), e em que somos estimulados a não cumprir as regras sociais, sejam elas quais forem, o errado está certo e o certo está errado. É possível uma pátria prosperar quando seus filhos carecem de civilidade? De cidadania? Em que não é incomum haver seqüestro seguido de estupro e latrocínio? Vivemos sob a sombra constante da violência num país onde o homem ao lado é mais perigoso do que os grandes desastres naturais. Perigoso enquanto indivíduo, referindo-me aos casos de violência direta; e perigoso enquanto coletivo, referindo-me ao descaso frente a Brumadinho, a Mariana, a Maceió…

Nisso o Japão demonstra ser muito superior ao Brasil. A população japonesa é estimulada desde a mais tenra infância não apenas a ser honesta, mas também a repudiar a desonestidade. É estimulada a viver em comunidade (real), a se importar com o bem-estar de seus semelhantes. Conforme exemplificado nos vídeos seguintes, é o somatório de vários níveis de educação que forma o modo de viver japonês.

No primeiro vídeo, o autor fala sobre o funcionamento das associações de moradores japoneses. São os próprios moradores que se organizam e resolvem os assuntos pertinentes à sua localidade, sem depender (ou esperar a boa vontade) da prefeitura. O exercício direto da cidadania, sem intermediários, sem delegação de problemas a outrem demonstra ser muito mais eficiente do que o modelo brasileiro, no qual ansiosamente espera-se que o outro resolva as coisas por nós. (Vide: Edições Independentes). Recordo-me da época em que estudei kung fu por um curto período de tempo. Uma das atividades de todos os participantes era cuidar da manutenção do local de treino. Pintura, conserto de cadeiras, essas coisas. O motivo pelo qual se pedia para fazer isso é porque se você pinta a parede, não vai colocar o pé nela e sujá-la depois. Se você lava o banheiro, não vai sujar depois. Se você varre o chão, não vai sujar depois. Você preserva aquilo que lhe dá trabalho para cuidar. O senso de cooperação entre os membros e também o de fiscalização mútua são cultivados no dia-a-dia.

Isso é visto nas escolas japonesas, onde são as crianças as responsáveis pela limpeza, por fazer a comida, por organizar as coisas. Esse senso de preservar aquilo que é usado conjuntamente pela comunidade inexiste no Brasil. Eu trabalho na UERJ e vi o trabalhão que deu fazer a reforma de todos os banheiros da universidade. Gastaram-se rios de dinheiro e meses de trabalho para deixar tudo em novíssimo (e até luxuoso) estado. Em menos de duas semanas (duas semanas), todos os banheiros utilizados pelos alunos já estavam quebrados. Até sifão de pia roubaram.

Vivo numa sociedade em que o vizinho de cima varre sua varanda jogando a sujeira no quintal do vizinho de baixo. Em que importa apenas ter a vantagem nas coisas; não ser prejudicado; ser mais esperto. Como esperar cidadania e paz social, se é normal jogar sujeira pela janela do ônibus? Como esperar lisura administrativa nos altos escalões do governo, se é normal furar fila? Como esperar ruas limpas, se quem suja não é obrigado a limpar?

Como seria se adotássemos o modelo de associação de bairro no Brasil? (Se os alunos fossem obrigados a reparar os banheiros, estes ainda estariam inteiros.)

O terceiro vídeo que selecionei retorna ao tema da violência, mas o observando pela perspectiva do senso de comunidade visto no segundo. Eu discordo do autor do vídeo quando ele refuta a tese de que ”os japoneses são mais honestos do que os brasileiros”. Eu acredito que sim, que eles são. Compreendo o que ele quis dizer, que é o contexto social que leva as pessoas a serem desonestas, que é a cultura em que se está inserido que estimula certos comportamentos. Mas meu avô sofreu golpe financeiro, carregou estrume, viveu mal, e não virou bandido. Quem lutou contra a escravidão nasceu numa sociedade escravocrata. Quem lutou pela independência, nasceu numa sociedade conquistada. Índole é algo, em meu entender, inato. Tanto para o bem quanto para o mal. Se o sujeito tem uma índole ruim, ele vai fazer o mal de acordo com suas forças. Se for ignorante, tentará assaltos; se for instruído, tentará estelionatos. E me parece ser da natureza do japonês ser mais honesto do que o brasileiro, pois que, mesmo havendo criminosos no Japão, seu número é desproporcionalmente muito menor.

Os tópicos apresentados neste terceiro vídeo sobre as principais características do sistema japonês são os seguintes:

  • o sistema penal japonês não é ”reeducativo” (como no Brasil): é um sistema punitivo: criminosos são punidos por seus delitos;
  • há prisão perpétua e, nos casos extremos, pena capital;
  • o japonês confia em seu sistema judiciário (você confia na justiça do Brasil?);
  • as conseqüências da punição se estendem à família do criminoso;
  • absoluta intolerância à criminalidade, mesmo pequenos delitos;
  • alta taxa de resolução de crimes;
  • denúncias são estimuladas no Japão, enquanto que no Brasil são mal vistas;
  • pessoas são recompensadas por sua honestidade.

Parece tudo ser muito bom, não é? Nesta primeira parte falei sobre aquilo que o Japão faz muito melhor do que o Brasil. Já na próxima postagem, pretendo escrever sobre o que não é tão bom assim.

É MAIS PERIGOSO MORRER EM UM TERREMOTO NO JAPÃO, OU PELA VIOLÊNCIA NO BRASIL? | Viva o Japão!

POR QUE O JAPÃO É TÃO LIMPO? O BRASIL PODE SER ASSIM UM DIA? ENTENDA | Viva o Japão!

JAPONESES SÃO MAIS HONESTOS QUE O BRASILEIROS? O QUE O JAPÃO TEM A ENSINAR O BRASIL? ENTENDA | Viva o Japão!